— Carteira? Ok. Celular? Ok. Fone de ouvido? Ok... Bem, acho que temos tudo de importante aqui. — Alba checa sua bolsa, enquanto se apressa para mais um dia de trabalho.
— Alba, acorde essa criança! Está na hora do café-da-manhã! — Sua mãe, Martha, grita na cozinha.Sem fazer barulho, Alba vai até o quarto do filho, na esperança de que ele esteja dormindo, mas o pequeno Fernando já estava acordado, arrumando sua cama da forma que conseguia.
— Oh, querido... Não se preocupe, a mamãe irá ajudá-lo. Sua avó o acordou com seus gritos novamente, não é?
— Bom dia, mama... — Fernando sorria com uma expressão ainda de sono.Após terminar de arrumar, Alba se ajoelha diante de seu filho, segurando suas mãos, e olhando no fundo dos seus olhos, fala:
— Hoje é um novo dia. Terá que ficar o dia todo com sua avó, enquanto trabalho. Amanhã eu terei folga no trabalho e ficarei com você o dia todo. Então, se comporte.
— Sim! — Fernando fala com convicção.Alba desce a escada segurando o menino pela mão e o leva à cozinha. Ao sentar-se à mesa, seu pai apenas acena com a cabeça, em sinal de "bom dia" e ela retribui da mesma forma. Martha põe a mesa e, olhando pra filha, diz:
— Alba, você deveria procurar um emprego melhor. Esse menino está crescendo e filho custa caro.
— A senhora sabe como é difícil conseguir emprego com meu nível escolar? — Alba tenta falar de forma tranquila. — Eu estou me esforçando nesse emprego e o que ganho é o suficiente por agora... E "esse menino" se chama Fernando. O que custa chamar o neto pelo próprio nome?
— O que custa? Você sabe muito bem. Você colocou esse nome na criança para me desafiar, para desafiar o próprio destino. Você sabe muito bem do que estou falando. — Martha responde.
— Já chega vocês duas. — Richard interrompe a discussão. — Parece que o dia não pode começar sem as duas brigando. Apenas façam silêncio e comam.Ambas ficam caladas, mastigando a comida com força, como se descontasse a raiva após cada mordida. Alba olha para o relógio na parede e percebe que vai se atrasar, caso continue comendo. Ela levanta, pega uma fruta e coloca em sua bolsa, beija a cabeça do filho e do pai e se despede.
Apressando os passos, vai até o ponto de ônibus. Parece que ele ainda não passou, já que a senhora que sempre espera pelo mesmo transporte ainda está lá. Alba respira aliviada ao chegar e acena com a cabeça para a senhora. Não demora muito para que o ônibus chegue. Ela entra e senta ao lado da janela, na última cadeira.Enquanto olha a paisagem, ela começa a lembrar da sua adolescência. Embora tivesse apenas 19 anos, a vida adulta chegou muito cedo e as responsabilidades também. "O quanto eu perdi?", ela se perguntava, enquanto começa a imaginar como seria sua vida sem um filho. Provavelmente estaria na faculdade, cursando algo que gostasse.
Alba nunca pensou no que ela queria. Fernando vinha em primeiro e a prioridade era sempre ele.
Não era como se ela não o amasse. Ela o amava demais e ele foi a coisa mais bonita que ela fez. Mas não podia deixar de pensar no quanto perdeu para poder criar o filho. Só de lembrar do sorriso que ele dá todos os dias, quando ela chega em casa, todo o esforço valia a pena. Ela não queria que ele tivesse o mesmo futuro.Após 20 minutos de viagem, Alba chega ao seu trabalho. Ela era caixa em um supermercado no centro da cidade. Ficar ali o dia inteiro era algo cansativo. As filas que não tinham fim, as pessoas mal educadas... mas ela estava sempre com um sorriso no rosto, tentando dar o seu melhor. Parecia que ia tudo bem, até surgir seu ex namorado (e pai de seu filho). Ele estava acompanhado de uma jovem bonita, enquanto carregava uma cesta cheia de bebidas. Ele a olha com certo deboche e fala:
— Alba, como você mudou... parece cansada. Você não saiu desse buraco? — Alba iria interrompê-lo, mas ele continuou. — Ah, desculpe, eu esqueci de apresentar. Essa é minha namorada, Lucy. Ela cursa moda e é modelo também. Ela não é linda? Acredite, a felicidade deixa as pessoas mais bonitas e ela fica mais bonita a cada dia.
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Fernando
RomantizmPara as mulheres da família Diaz, o nome Fernando significava maldição. Por gerações, homens com esse nome foram surgindo na juventude das moças da família, por um breve momento, e saiam, deixando a marca do sofrimento e da decepção. Martha Diaz, ap...