Capítulo 3 - O celular

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    Eu precisava estar com a Lori, mas não conseguia tirar da minha cabeça a imagem da Lia naquela árvore. Enquanto abraçava Lori e suas lágrimas caíam em meu colo, minha mente vagava com a lembrança de Lia. Seu cabelo vermelho sem vida, sua boca sem cor e sua pele mais branca que as nuvens. Mas também temia, pois quem havia feito aquilo com ela estava na mesma ilha conosco, ou até pior, estava em nosso meio. Mesmo tentando encontrar algum motivo para fazerem aquilo, não consegui achar algo.

- Precisamos ligar e pedir para virem nos buscar. - diz Ayla em pé ao nosso lado.

- Vamos esperar os meninos voltarem, pois o celular está com o Sam. - dizia Amber, olhando para trás, pois estava sentada um pouco distante de nós.

Combinamos de não levar celular naquela viagem. Só queríamos um momento entre amigos, longe de qualquer tecnologia. Lia, de início, não havia concordado. Mas, pensando que pudesse acontecer alguma emergência, levamos apenas um único aparelho que ficou com Sam. Agora, era só esperar os meninos tirarem Lia daquela árvore para pedir ajuda e principalmente, chamar as autoridades. Assim, conseguiríamos descobrir quem havia cometido aquele crime.

Eu não sabia o que dizer. De alguma forma, queria confortar Lori. Sentia apenas a necessidade de estar junto dela e ajudá-la a passar por aquele momento difícil. Lia, não iria ao casamento da sua irmã, não teria um casamento e nem a oportunidade de encontrar alguém para amá-la. Noto que Amber vira seu rosto para trás novamente, por cima de sua jaqueta jeans, mas sua afeição agora era outra. Mesmo com lágrimas caindo em seu rosto parecia que algo a incomodava. Ao me fitar por alguns segundos diz:

- Você deve estar muito feliz, não é Holly? Você não gostava da Lia e agora quer fingir que sentia algo por ela?

Deu para ver que Lori parou de chorar ao ouvir as palavras ásperas que saiam da boca de Amber. Ayla, colocou as mãos sobre sua boca como se não acreditasse no que ouviu. Para falar a verdade, nem eu mesma estava acreditando. Por um segundo, eu não sabia o que dizer, mas de repente as palavras saíram como se eu não pudesse conte-las dentro da minha boca.

- Amber, você não cansa não é mesmo? Nem em uma hora difícil para sua prima você me esquece. Não vou levar em conta o que você acaba de falar por saber que está sofrendo e geralmente, sempre queremos um culpado para a nossa dor.

Ayla, tenta falar algo, mas não consigo prestar atenção. Continuo falando e ela desiste de falar.

- Mas eu não sou culpada por sua dor. Eu gostava da Lia e nunca iria querer que isso tivesse acontecido com ela. Chega de me culpar pela morte da sua irmã e não tente me culpar pela morte da Lia também.

Quando paro para tomar mais ar, afim de continuar a dizer tudo o que eu queria para Amber. Lori se levanta e limpa de seu rosto, as lágrimas que o marcavam.

- Você não tem o direito de culpar a Holly! - diz ela, séria, olhando Amber que volta seu rosto para o mar a sua frente.

Começo a ouvir algumas vozes. Reparo que são os meninos saindo da floresta e vindo em nossa direção. Ventava bastante aquela manhã e o sol, mesmo no céu, não nos apanhava por causa da sombra das grandes árvores. Lori levanta e abraça Sam que a beija e diz:

- Eu estou aqui com você! Nós tentamos tirar sua irmã, mas não conseguimos.

Enquanto isso, Peter abraça sua irmã.

- Precisamos ligar e pedir para o Jean vir nos buscar. - diz Benício que estava com seu casaco preto amarrado em sua cintura. Seu cabelo que ia até seus ombros, agora estava preso com algo que não consegui distinguir o que era.

- Só estávamos esperando vocês voltarem. - diz Amber ao se levantar, virar para trás e cruzar seus braços.

- Pensei que vocês já tivessem ligado. - diz Sam ainda abraçado a Lori.

- Como se o celular está com você? - retruca Ayla.

- Comigo? Eu deixei na barraca, vou pegar! - diz Sam.

Lori volta a se sentar ao meu lado e apoia sua cabeça em meu ombro.

- Não estou achando! - grita Sam.

- Eu não acredito, o celular sumiu! - presume Benício.

FayuOnde histórias criam vida. Descubra agora