Fayu

Capítulo 1 - Olhos castanhos

 Sabe quando você se sente tão feliz ao ponto de querer gritar para todos ouvirem? Eu estava assim. Embora não estivesse naquela ilha por mim, estava por minha amiga de infância. Em breve, ela iria se casar e morar longe. Seria a primeira vez que ficaríamos distantes uma da outra. Mas Lori, encontrou o amor de sua vida. Era lindo, ver ela e Sam, abraçados e rodopiando como duas crianças. Ele a amava, e isso me deixava tranquila. É muito bom quando você sabe que há alguém para proteger e cuidar de quem você ama.

- Acha que vamos durar dois dias aqui? 

   Me pergunta Ayla, passando a mão por seus cabelos pretos e tão lisos que chegam a escorregar entre seus dedos ao tentar prendê-los com seu prendedor. Mesmo não tendo sucesso em prender todos os fios, ela se conforma. Ayla usava um short jeans curto, sua blusa rosa, onde ambas as alças caíam sobre seus ombros banhados pelo pôr do sol. Aquele desenho de girassol em sua  blusa a deixavam mais radiante do que já era. 

- Temos que durar, fizemos uma promessa, não lembra? - Digo apoiando minha mão na testa impedindo do sol chegar até meus olhos e tentando ver claramente o rosto de Ayla.

- Estamos aqui por nossos amigos e vamos conseguir. - digo suspirando no final, por causa da rapidez em que falei.

- Quero ver na hora de dormir, li que à noite há muitos mosquitos. - diz Peter, irmão da Ayla.

  Ele é aquele garoto que todos querem ser amigos, mas ninguém leva a sério. Com uma blusa regata florida e sua bermuda branca nos olhava sorrindo. Não éramos amigos, mas eu achava ele legal. Esse final de semana, seria uma oportunidade para conhecê-lo melhor.

 -  É por isso que trouxemos repelente. - diz Amber (prima da Lori). - Amber não falava comigo há anos, por causa da morte de sua irmã. 

    Alana (irmã da Amber), Lori e eu, éramos inseparáveis. Mas ao voltar de uma festa, Alana e eu estávamos bêbadas, mas ela ao volante. Os cento e vinte quilômetros por hora, acabaram com nossa diversão, com a vida da Alana e com a minha amizade com Amber. Ela me culpa até hoje, por estar com sua irmã e não tentar impedi-la. Mas tentei, eu juro. Porém, nada faria Amber acreditar em mim, ou me perdoar.Eu sabia que ela estaria lá e quis ir mesmo assim. Estava lá por Lori e nada iria atrapalhar aquele final de semana.

  Benício (amigo do Sam), vinha em um pequeno bote amarelo do barco que pegamos até aquela ilha. Também não o conhecia bem, mas nunca me tranquei para a possibilidade de fazer novos amigos. Ao descer do bote e deixar seus pés molhados com a água do mar, chegou à praia. Vejo que ele trouxe nossas coisas.

- Quer ajuda? - pergunta Peter, já pegando a mala laranja que eu havia levado e colocando-a na praia.

- Obrigado pela ajuda! - digo não conseguindo conter meu sorriso.

 De alguma forma, aquele garoto mexia comigo. Eu pudia sentir algo bom vir dele. Mas não tive coragem de dizer algo para puxar assunto.

- Vamos galera, precisamos armar as barracas. Já irá escurecer. - nos aleta Sam que em uma mão segura alguns de seus pertences e na outra, a mão de Lori. 

   Vejo os dois caminhando, na frente de todos, como que fossem andar para sempre em direção ao sol. Olho para trás, afim de dar uma última olhada para Jean, o homem que levaria nosso barco e voltaria para nos buscar depois de dois dias.

- Você acha que um dia encontrará alguém como eles se encontraram? - pergunta Peter que caminha ao meu lado.

  Olho Lori e Sam que conversam e se beijam bem lá na frente.

- Acho que não nasci para ter o amor de alguém. - digo olhando os grãos de areia que se acumulam em meus pés.

- Como pensa em ter o amor de alguém, se nem mesmo acredita nisso? - diz ele me olhando a todo instante.

Sinto meus batimentos ficarem mais rápidos e o medo transborda por todo meu corpo. Eu não sabia o que responder e o silêncio falou.

- Talvez o tempo esteja preparando algo para você. Alguém que vai te mostrar o bom de amar. - diz ele novamente me olhando.

- Só espero não encontrar esse "alguém" com noventa anos. - digo e começo a rir, mas ainda sem coragem de olhar em seus lindos olhos castanhos.

  Ele ri olhando o céu e balançando a cabeça levemente de um lado para o outro. Somos interrompidos quando, Ayla que antes conversava com Amber e Lia, para até chegarmos. Ela continua a caminhar conosco, e novamente fico sem saber o que dizer. Mas o silêncio é interrompido, quando sua irmã, começa a falar sobre seus planos futuros como modelo.

 Ayla falava, porém minha atenção não era dela. Eu só conseguia pensar em uma forma de chamar a atenção de Peter. Mas tinha medo de sentir algo a mais por ele e não ser correspondida, como sempre!