Coração de dragão

~ 3 ~

   O loiro saiu do quarto com coragem e desceu pegando uma maçã na cesta em cima da mesa. Abriu a porta dos fundos que dava para um bosque simples e recheado de pássaros, raposas e animais silvestres, e ao fim se via a estrada real. Mordeu a maçã, entrando entre as árvores, que derrubavam folhas secas no chão colorindo-o de laranja :
   - Você conhece algum lugar isolado, bem longe daqui? - A voz do ruivo chegou a Bakugou, fazendo-o virar para trás.
   - Você morava em uma caverna ou algo assim? - Perguntou sem dar a resposta, observando se suas ataduras estavam manchadas de sangue.
   - Acho que sim. - Ele levou a mão até os fios vermelhos ajeitados para cima, mas desarrumados durante a noite.
   - Você consegue mexer as asas? - Bakugou continuou com suas dúvidas, para concluir sua dedução sobre o quê acontecera com o garoto-dragão. Kirishima bateu as asas longas e escamosas que saiam de suas costas, soltando um grunhido, os ferimentos se repuchavam e causavam a dor.
   O loiro se aproximou dele, levando o toque aos chifres pontudos, mas menores. Pareciam ter diminuídos desde o dia anterior e isso acendeu uma pequena teoria na mente do explosivo. Se o ruivo tinha os resquícios de características de dragões era provável que fora um anteriormente e as melhores em transformarem coisas eram bruxas. Katsuki saiu dos pensamentos, seu olhar recaiu nas íris vermelhas, estavam próximos demais e seu rosto acabou esquentando em tom rosado. Virou as costas para Kirishima e continuou andando, jogando o resto da maçã ao pé de uma árvore, já sabia onde levaria-o para reverter essa situação, mesmo que demorasse alguns dias :
   - Conheço alguém que pode te fazer voltar ao normal, cabelo de merda. Você vai vir? - O garoto-dragão correu para o seu lado, sorrindo, sincero.
   - Sim! - Bakugou não entendia como ele era capaz de sorrir e confiar em si depois de tentarem vendê-lo. Bem, nem mesmo o próprio loiro entendia o porquê de ter feito todos os favores ao outro, veria durante a pequena viagem se teria paciência com o "híbrido".
   Os dois atravessaram o bosque, andaram no canto da estrada para evitar encontros com carroças. As palavras não paravam de sair da boca de Kirishima e em algum tempo já tinha descoberto o nome e idade de Bakugou, seus olhos brilhavam e sua energia era impressionante. Quando o sol já começava a se pôr, avançaram em passos rápidos até um pequeno lago para tomar água e descansarem, Katsuki sentou embaixo de uma árvore tirando a capa felpuda e usando-a como cobertor. O ruivo estava parado como pedra com a água batendo em sua cintura, em um movimento veloz e certeiro arrancou o peixe prateado da água e mostrou o prêmio ao explosivo, vitorioso.
   Ateando fogo em gravetos e folhas secas, o peixe cozinhou e foi dividido entre os dois. O garoto-dragão sentou ao lado de Bakugou e dormiu, mais uma vez o calor aconchegou o loiro em um sono tranquilo. Quando seus olhos se abriram o ronco de Eijiro se parecia com rosnados que saiam de sua garganta :
   - Acorda, dragão desgraçado! - Ele se levantou com os olhos arregalados e assustado. - Bom dia, bela adormecida. - O loiro levantou com a gentileza de sempre, deixou a capa de lado e foi até a borda do rio para lavar o rosto.
   Kirishima o acompanhou, arrancou as roupas e mergulhou, Bakugou se perguntou onde o garoto-dragão escondera o pudor para ficar nu frente à um desconhecido. Ficou próximo a água para ver o tempo que o ruivo ficaria submerso. As bolhas chamaram sua atenção perto de si, antes que tivesse alguma reação foi agarrado e puxado para a água gelada. A raiva latejou em sua mente :
   - Maldito dragão! - Rugiu contra Eijirou, que já estava longe com os cabelos molhados e grudados na testa, seu cabelo não era natural como o seu, mas lhe deixava charmoso de qualquer maneira.
   - Tem medo de água? - Zombou, rindo de sua expressão furiosa.
   - O caralho! - Xingou, nadando sem descansar os braços e as pernas. Bakugou segurou o rosto do ruivo com a mão direita, apoiou sua esquerda no peito afundando-o. Sorriu vitorioso quando Kirishima pediu para soltar, se debatendo. - Da próxima vez, vou matá-lo se me atacar de novo. - O outro tossia e gargalhava, o loiro mostrou o dedo médio vulgarmente.
    Se arrastou para fora da água, reclamando, suas roupas estavam encharcadas e teriam que secar no corpo. Enquanto se sacudia o garoto-dragão mergulhou até chegar a borda, saiu para a superfície com as asas longas e escamosas abertas. Kirishima estava fazendo esforço para sobrevoar até a terra, grunhindo, conseguindo se impulsionar. Bateu-as entre três a quatro vezes, fazendo Bakugou se esquivar delas, mas para o lado errado.
   O loiro estava na mesma direção do outro, que já perdia o controle e suas asas falhavam. Seus corpos trombaram e foram de encontro ao chão, Katsuki ficara mais molhado e sua ira diária aumentara. Kirishima se apoiou nos braços e sorriu torto :
   - Melhoram um pouco. - Sua recuperação era surpreendentemente rápida e, talvez, depois de um tempo poderia aguentar o peso do loiro junto ao próprio. Porém sua atenção não estava em ferimentos.
   Na verdade, seu olhar recaiu sobre o peitoral do ruivo com respingos de água, até chegar ao começo da trilha feliz. A sua força como dragão refletiu em seu corpo humano, tornando-o desejável. Seu rosto queimava quanto mais descia, observando o abdômen. A voz de Kirishima o fez voltar o caminho feliz e chegar ao seus olhos rubis, Bakugou empurrou-o para o lado, xingando e se virando de costas indo até sua capa, escondendo o rubor que o deixara estupidamente vermelho.
   Depois de se arrumarem, seguiram o caminho pela estrada real. O loiro se tornou ainda mais arisco e irritadiço com qualquer ação do garoto-dragão ou com uma simples pedra em seu caminho, Kirishima entendeu que seria assim até o fim da viagem, era o jeito de Katsuki e isso não se mudaria. As árvores começaram a ficar cada vez mais próximas, deixando o lugar denso e escuro. A estrada já não tinha um formato certo. Os picos das montanhas eram visíveis no horizonte, apesar que demorariam mais uma noite para chegar onde queriam.
   Se o ruivo fora atingido por uma magia, Bakugou sabia quem poderia reverter isso, apesar de não gostar de ficar perto daquele amontoado de mulheres interesseiras e sem o mínimo de escrúpulos com a privacidade dos outros. O loiro subiu em uma árvore recheada de maçãs, o galho estremeceu quando saltou de volta ao chão, sendo recebido com um ataque de espada afiada, antes que o atingisse arrancou sua arma da bainha e sorriu largo e desafiador.

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  Voltei sábado, no horário certinho!
  Um pouco de ousadia não faz mal a ninguém, né? Então coloquei um pouquinho nesse capítulo.
  Comentem se gostaram e voltem sábado que vem, pq tô babando pela opinião de vocês! *-*