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   O agressor tinha cabelos amarelos com uma mecha preta que lhe dava destaque, seu rosto estava coberto com uma máscara escura e um capuz, deixando apenas seus olhos dourados expostos. As espadas se beijaram e se afastaram quando Bakugou recuou sorrindo pela luta eminente. Uma carroça estava parada no meio da estrada onde um moreno segurava as rédeas, pareciam carregar algo importante para atacarem desconhecidos.
   Kirishima se posicionou ao seu lado com os punhos cerrados, o loiro se impulsionou brandindo a arma no contra o de cabelos amarelos. Antes que o ruivo fizesse menção de ataque, uma navalha passou assobiando perto de seu rosto. Fora a vez de uma garota aparecer de dentro da carroça, usava uma saia curta bege e remendada, um corpete onde a parte do busto era roxa, também cobria o rosto, mas a ponta de seu cabelo rosa ainda era visível. O garoto-dragão se afastou quanto mais ela se aproximava rasgando o ar com a lâmina, se viu do outro lado da estrada desigual e antes que gritasse para o loiro - apenas por ser o único a estar junto a si no momento - foi derrubado no chão, sentindo o ferimento de suas costas arderem :
   - Kirishima?! - A garota parou os movimentos. Durante um tempo Eijirou teve ajuda de algumas pessoas que a ensinaram a manusear espadas e coisas importantes sobre humanos, apenas o básico para que sobrevivesse. Foram seus primeiros amigos após ser transformado. - É você mesmo! Me desculpa, estávamos na pressa e nem percebemos. - Mina Ashido era rápida na luta e muito habilidosa com navalhas.
   - Tudo bem. - Aceitou sua ajuda para levantar, voltando seu olhar ao loiro que ainda lutava contra seu adversário. O ruivo correu até eles, se colocando no meio da luta. - Ei! Kaminari, já chega! - Kaminari Denki abaixou a máscara que cobria seu rosto, se surpreendendo com a presença do garoto-dragão.
   - Kirishima? Wow, você está se tornando cada vez mais humano! - Aquele detalhe Eijirou preferia evitar, já que desejava voltar a ser uma criatura grande, escamosa e temida, para assim conseguir sua liberdade e paz.
   - Vamos, cara de idiota! Você ainda não perdeu! - Bakugou gritou, querendo ter o fim de sua luta, fazendo Kaminari se afastar e dar a resposta de que estava com preguiça, causando uma enxurrada de tentativas de homicídio.
   - Vocês estão indo para onde? - A rosada perguntou, curiosa.
   - Não tenho a mínima ideia. - A garota arregalou os olhos, a área onde estavam não era conhecida por ser a mais pacífica e ir sem rumo não parecia ser um bom plano na visão de Ashido. - Bakugou conhece alguém que talvez possa me fazer voltar a ser um dragão. - Seus olhares pousaram no loiro, que já havia derrotado Denki, e se escorava na árvore com a carranca de sempre.
   - Bem, eu posso emprestar o cavalo se quiserem. - O animal preto estava parado, obediente, atrás da carroça, selado e comendo uma planta rasteira.
   Kirishima aceitou, logo se despedindo de seus primeiros amigos humanos, afinal, estavam com pressa em entregar o pacote ao centro. Bakugou subiu no cavalo preto com manchas brancas nas patas traseiras, deixando o ruivo ir andando e exercitando suas asas, abrindo-as e fechando-as. O sol se punha entre as montanhas, dos feixes de luz foram desaparecendo aos poucos. Na bolsa pendurada na sela tinham maçãs verdes e suculentas, o garoto-dragão preparou uma fogueira enquanto o loiro ateava as chamas nos gravetos secos, os dois se sentaram ao pé de uma árvore. Conversaram pouco até o sono acertá-los, Kirishima entrava em um tipo de estado de hibernação ao fechar os olhos e o calor de seu corpo emanava, o loiro não queria perder a oportunidade de dormir no quentinho e confortável, com uma distância do garoto-dragão, claro.
   Bakugou sentiu a movimentação atrapalhando seu sono, abriu os olhos lentamente e se deparou com um homem apontando uma espada ao ruivo, que estava sendo amarrado mais uma vez com as mãos as costas. Eram três, um montado no cavalo, outro empurrando Kirishima e o terceiro ficava de vigia, o loiro quis explodir em palavrões e fazer jorrar sangue dos homens, mas estavam armados. Seu cavalo estava atrás da árvore, onde carregava a bolsa que guardava duas espadas curtas e fáceis de serem atiradas
Foi atrás delas assim que subiram nos cavalos, Eijirou ia amarrado nos pulsos e suas asas presas a uma mesma corda, fazendo-as roçar, escama contra escama.
   Arrancou de dentro da bolsa as lâminas, arremessou no capanga mais próximo. Ele guinchou quando a espada perfurou pele, carne e jorrou sangue, encontrando o chão. Todos se voltaram a Bakugou que exibia um sorriso maquiavélico nos lábios :
   - Você não solta fogo, dragão idiota? - Berrou contra o ruivo, enquanto atirava a outra lâmina e o segundo homem desviava.
   Tirou sua espada da bainha, chocando-a contra a arma do capanga, logo desviando para sua perna e rasgando. Perfurou seu estômago, manchando sua espada de sangue. Kirishima seguiu seu exemplo e puxou o homem, que segurava a corda de suas mãos e arrastando-o pelo chão. O homem tentou se levantar e pegar a própria arma, o garoto-dragão chutou a espada para longe junto a outro ataque com o pé em suas costelas, fazendo-o se curvar. Bakugou se aproximou e afundou sua espada na jugular do capanga, tudo ocorreu como se houvesse um plano antes do perigo :
   - O fogo foi uma das habilidades que perdi primeiro. - Respondeu, enquanto tirava as lâminas atiradas dos corpos ensanguentados. - Precisava matá-los? - Kirishima observou as expressões vazias e mortas.
   - Queria que eles continuassem atrás de você? - O loiro entregou as bainhas das curtas lâminas ao garoto-dragão, que as encaixou no cinto de couro em suas costas.
   Deixaram de dormir para seguir caminho, Eijirou continuava andando enquanto Bakugou fechava os olhos vez ou outra, para descansar, em cima do cavalo. O sol começou a dispersar seus primeiros raios solares, o orvalho das folhas caiam sobre suas cabeças ou secavam ao decorrer da manhã. A estrada de lama seca, desigual e estreita se tornou curva, dariam a volta pela montanha e o loiro perderia mais de seu tempo com o outro, mas não se sentia estressado na presença do ruivo, talvez fosse até útil em lutas. O explosivo empunhava a espada contra Kirishima fazendo-o aprender a manusear suas novas armas. As asas vermelhas se encolheram até o meio de suas coxas, pareciam estar mais fortes e o ferimento cicatrizara. E durante esses três dias o loiro deixou de ser tão... irritadiço com o garoto-dragão.
   A montanha ficou para trás em pouco tempo, mas a fome da tarde agredia o estômago de ambos. As árvores cessaram dando-lhes a visão de um campo vasto e um reino mais a frente, sendo o castelo o mais visível e chamativo. Com bandeiras esvoaçantes na muralha de pedra, assim como a estrutura interna porém polida e com vidros detalhados em ouro. Se abasteceram de frutas da árvores alheias enquanto atravessaram o campo pacífico. O ruivo se impulsionou, deu alguns passos rápidos e bateu as asas vermelhas, voando cada vez mais alto. Bakugou continuou o caminho de cima do cavalo, observando a sombra do garoto-dragão sobrevoando sobre si. Mas ele foi se aproximando aos poucos até passar os braços por baixo dos seus, deixando o loiro suspenso no ar :
   - Me larga, saco de merda! - Berrou contra Kirishima, sem qualquer sucesso. - Morra! - Se debateu, desferindo socos no braço do ruivo e balançou as pernas para fazê-lo perder o equilíbrio. E dessa vez, conseguiu.
   O híbrido se desesperou, agarrando ainda mais o explosivo, fechando suas asas em sua volta, para protegê-lo do impacto. As costas de Kirishima rasparam violentamente na grama, o quê causaria diversos arranhões se não tivesse a pele resistente de sua antiga forma. Bakugou se remexeu entre seu abraço, aos poucos abriu-as sentindo o peso que o corpo do loiro fazia sobre o seu. Os olhares escarlates de Bakugou se encontraram com o carmesim de Eijirou, intensos e profundos. Dois lados de uma mesma moeda. A maçã do rosto do explosivo esquentaram ao ver que os lábios do garoto-dragão se repucharam em um sorriso sincero e bobo. O coração do loiro palpitou forte pela primeira vez, pulsando um sentimento confuso. " Que merda! ", reclamou internamente. " Pareço um idiota. " Talvez fosse uma decepção para si próprio, mas não conseguia controlar os batimentos de seu coração.
   Se levantou de cima de Kirishima, voltando a montar no cavalo negro. O ruivo continuou a treinar, sobrevoando por perto, Bakugou ignorava todas suas manobras no ar, apenas...para evitar mais constrangimentos imbecis. A movimentação se tornou maior quando se aproximaram da feira que ocupava as ruas, onde vendiam de tudo e um pouco. O cheiro de carne torrada chegou as suas narinas, atiçando a fome de ambos. Seguiram para uma taberna, onde as pessoas bebiam e devoravam a carne de cordeiro. Se sentaram em uma mesa vazia perto de um grupo de quatro homens cobertos por armaduras e espadas penduradas ao cinto. Duas mulheres se destacavam no colo de dois, com roupas grudadas e decotadas enquanto acariciavam o peito dos cavaleiros :
   - Desisti da realeza. - Um moreno reclamou. - Aquela garota, mesmo rejeitada, não cansa do príncipezinho. - Ao ver de Bakugou, o homem podia ser guarda para se referir daquela maneira à Momo Yaoyorozu, noiva de Todoroki Shouto.
   - Posso ser mais quentinha que ela, querido. - A voz manhosa e fina da mulher causou náuseas no loiro. - Apesar de ter recusado um homem tão bom, estou melhor aqui, certo? - A prostituta se referiu a futura princesa, que de acordo com os boatos fora deixada pelo herdeiro do reino.
   - Dizem que ele não deixa o garoto sozinho. É um plebeu, simples, mas recebe atenção privilegiada do nosso pequeno rei. - O outro do seu lado continuou a falar do boato. - Talvez ele goste da fruta. - Os homens na mesa riram e as mulheres os acompanharam falsamente com a voz estridente.
   Uma garota se aproximou de Bakugou e Kirishima perguntando o quê iriam comer. O ruivo pediu o dobro do normal para um humano, talvez até conseguisse comer um cordeiro inteiro, como uma fome antiga e feroz. O loiro colocava a comida na boca prestando atenção aos detalhes dos boatos que o grupo soltava sobre o reino e sua hierarquia. Tudo de Todoroki não ter respondido ao carinho e amor de Yaoyorozu, apenas para passar seu tempo com um garoto. Katsuki revirou os olhos, esperando o garoto-dragão terminar de comer a carne.
   Saíram do lugar com cheiro de carne e bebida, vendera o cavalo para um senhor, deixando-os vagueando entre as vendas indo sempre em direção ao outro lado do reino para então chegar nas bruxas. As pessoas passavam por Kirishima com olhares desconfiados e recheados de medo, outros observavam o ruivo como um saco de moedas ambulante, alguns cochichavam, mas não tomaram ação nenhuma. A movimentação atrás da dupla começou a ficar maior, guardas da realeza se destacaram na multidão com a mão nos cabos das espadas. Estavam em três e muito bem protegidos com ferro, Bakugou acelerou os passos tentando ir para um lugar mais vazio para que pudessem lutar sem fazer jorrar sangue de moradores. Um homem montado em um cavalo se colocou na frente dos dois, com um leve sorriso de satisfação no rosto, seus colegas apontaram as espadas :
   - Que tal a honra de uma reunião com o rei, cavalheiros? - A voz irônica martelou na raiva do loiro, fazendo sua mão descer até sua arma. - Sinto muito, seus truques serão um perda de tempo. Colaborem. - Bakugou apertou ainda mais o cabo envolto de couro. Um dos apertou a espada nas costelas do explosivo e um filete de sangue percorreu em sua pele até manchar o tecido de sua calça.
   As asas vermelhas do garoto-dragão se abriram abruptamente, sua mão correu até às lâminas e em segundos um dos guardas estava jogado no chão, vivo, mas inconsciente :
   - Idiota! - O explosivo rugiu , sacando a espada, Eijirou se precipitou e com isso o homem montado apontava uma espada para sua garganta, enquanto o ruivo lutava contra outros quatro. Acabando por ficar como o loiro, derrubara dois, mas sua falta de experiência e com seu parceiro encurralado, nada estava favorável. - Da próxima vez, você será um homem morto, Kirishima. - Falou, para o garoto-dragão atrás de si, com a voz rouca e a raiva lhe latejando a cabeça, como sempre.

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  Demorei um pouquinho? Sim. Mas tá aí. Depois que escrevi percebi que parecia com o final de Como treinar seu dragão :')
  Enfim, comentem se gostaram e até sábado que vem ^-^
  

Coração de dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora