Estilhaços

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"Eu fui uma boa menina, papai?", pergunta a pequena garotinha nos pensamentos do homem parado em frente a uma lápide. Seu olhar travado no horizonte, barba por fazer, roupas amaçadas, e uma alma obscura. O cemitério, estava vazio, seu silêncio como uma sentença no ar.

"Você foi uma garotinha perfeita, meu anjo", ele responde em voz alta. Seu tom embargado pelo nó de puro desespero em sua garganta. Ele queria gritar, queria destruir algo, queria bater em alguém, mas não queria desapontar sua menina de olhos doces e palavras encantadoras.

Como poderia continuar a viver sem sua menininha de cachos dourados? Como seguiría em frente se sua razão de viver, sua felicidade, foi embora?

Não podia deixar de pensar que a culpa de perder tudo era dele, como poderia se perdoar um dia? Ele deveria ter feito mais, ELE deveria ter movido céus e terras para achar uma cura para a doença que assolou sua garotinha em vida.

Fora fraco, aceitara o fim... e ele veio.

Fraco...

Sempre fraco... primeiro com sua esposa, que morreu no parto de seu tão esperado bebê, e ele não pôde fazer nada.
Ela os amava tanto... mas se foi, o deixando com o pequeno pacotinho de vida. Seu último presente. Sua vida!

E ele novamente se iludiu, pensou que conseguiria ser feliz, mas não, o Deus lá de cima tinha que levar seu presente também. Tinha que o deixar sem norte, sem chão, mais uma vez.

No mesmo lugar desde o enterro, o homem ver a noite chegar, escurecendo o horizonte, se igualando a sua alma. Ele continua em pé, parado, com a alma em estilhaços, até que o coveiro vem lhe pedir que se retire.

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