Gabriel entrou primeiro, arrastando Manu pela mão, Rafa seguiu atrás. Mais desconfiado que curioso. Não sabiam qual filme era, mas nem importava. A mocinha que fica na porta do cinema rasgando o ingresso deu um sorriso cúmplice para Gabriel, mas ele nem ligou, sua cabeça rodava rápido demais, ele morria de medo de destruir o que quer que tivessem.
Por um lado, ele sabia que estava errado: era traição. Se combinou dividir Manu com Rafael, se Rafael estava disposto a isso e se foi esse o trato entre eles, então tinham um compromisso. Manuela aceitou os dois porque ambos sabiam que ela os queria, mas o combinado entre eles foi feito antes.
— Todos nós sabemos o que queremos. – Foi esse o discurso de Rafael, segundos antes de entrarem na casa da Manuela e resolverem tudo.
— Pois é, sabemos, mas Manu é uma menina só.
— Pois é. – Rafael demorou para continuar a dizer, e, quando disse, fingiu bem que não estava nervoso – Mas e se tivesse um jeito de ter Manu para nós dois?
— Eu fico com a perna e o braço direito, você com a perna e o braço esquerdo?
— Tipo isso.
— Rafael, você precisa estudar menos, conversar mais com as pessoas. Tá ficando igual aqueles caras que entram na escola atirando.
— Eu tô falando sério. Manu quer nós dois, nós dois queremos ela.
— Ela nunca vai aceitar um bagulho desses.
— Isso quem decide é ela. Tô perguntando se você aceita.
— ... – Gabriel nunca tinha pensado nessa hipótese.
Mas, entrando pela sala do cinema, sentindo-se o pior garoto da escola, o mais mesquinho, o mais idiota, sentindo nojo da própria boca, o coração espremido entre as costelas, tudo fazia sentido. Mais do que poder beijar Manu quando quisesse e ter que aceitar Rafael fazê-lo também, beijar Catarina deu uma dimensão de certo e errado que o fazia se sentir traidor não de um acordo contratual, mas de algo que parecia vital para ele.
Olhando Rafael e o jeito calmo de quem sempre sabe o que fazer, ele entendia que não era só a Manu quem ele traía.
— Para quem me chamou aqui para a gente se beijar no escuro, – Manuela cortou seus pensamentos – tá fazendo muita cara de quem tá indo para o matadouro.
— Não é isso, Manu.
— Não é o quê? Não é para a gente se beijar no escuro?
Numa lufada só, ar que entrou e que não saiu até sua última palavra de desculpa, Gabriel contou quem beijou e o porquê. A sala do cinema ainda estava clara, sequer os comerciais pré-filme começaram, então Gabriel contava e as lágrimas presas nos cantinhos dos olhos confirmavam.
Gabriel podia ser burro, Manuela confirmava enquanto sentia a bolinha de gude entalada na traqueia, mas nunca foi mentiroso. Dos três, Gabriel sempre foi o que não mentia. Talvez seja por isso que ele seja o mais popular, o mais bonito, e o que todo mundo quer andar do lado. Gabriel, com quem ele ama, não conhece a palavra não, nem a palavra mentira.
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Para Sempre Três
ChickLitSPIN-OFF de O Próximo Homem da Minha Mulher sou Eu. Não é necessário ter lido os outros. ------------------------------------- Manuela Ferreira é terceira e única filha menina. Criada num pátio de amor e brigas, feita para estudar muito e ser boa em...