Capítulo 30

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(Manu)

Pedi para almoçar com o Lipe, só o Lipe, e a mãe foi almoçar no pai. Entramos no SESC da Faria Lima, bem na pior hora de entrar lá, e ficamos na fila para a comedoria.

— Não fica bravo comigo - Ele finalmente puxou o assunto que eu queria puxar, mas só depois que a gente pesou nossos pratos e procurávamos um lugar para sentar.

— Eu não tô brava com você. - Apontei para uma mesa de dois lugares que tinha acabado de ficar vaga, e fomos. Nos sentamos, arrumamos a bandeja em cima da mesa, ele abriu a garrafinha de coca-cola de seiscentas e a dividiu em dois copos.

— Mas vai ficar.

— Por quê? O que você fez?

— Desde que você estagiou na reforma do MASP que eu vi que a gente vai seguir um caminho diferente.

— Foi uma das melhores coisas que eu fiz ano passado!

— Eu sei. - Enfiou um brócolis na boca e quis falar de boca cheia.

— Pelo amor de Deus, Lipe, toma vergonha na cara. Toda hora você faz uma porquice! Você virou pai, porra!

— . - Ele engoliu antes de falar e passou o guardanapo na boca - Não pode ser, de verdade, que alguém ligue para esse tipo de coisa.

— O quê? Educação na hora de comer? Claro que eu ligo! Não tô falando para você ser um lorde, mas, porra, o mínimo tem que ter!

— Tá, Manuela, esse não é o foco.

— Só vira o foco quando você é porco.

— Tá, Manu. Troca o disco. - Mexeu na comida e eu estava a um passo de dar piti, se ele enfiasse o garfo na boca e começasse a falar. - Voltando: Desde a reforma no MASP que eu percebi que talvez você até queira trabalhar com a gente, digo, a mãe e eu, nesse negócio de ponte, mas não é o que você gosta de fazer. Ajuda muito sua habilidade no Autocad, eu sei mexer naquilo, mas você domina e manja muito, então eu sou sempre grato por você ajudar a gente, seja na secretaria, seja cuidando dos clientes, ou seja arrumando as minhas porquices.

— Sempre, né querido? Lipinho se não faz merda no rascunho, faz merda no projeto.

— Mas as contas são sempre impecáveis.

— Cada um tem seu forte numa coisa.

— Pois é. E o seu forte é o visual. Você sabe deixar as coisas bonitas. Até o jeito como você se veste diz isso, a gente á uma família que não coloca nem quadro na parede, e o seu quarto é todo enfeitadinho, então...

— Decorado. - Corrigi - Meu quarto tem só umas decorações.

— Eu sei, eu sei. O que eu tô tentando te falar...

— Lipe, foi ou não foi ideia sua o querer me mandar para a Inglaterra?

— Cê vai parar de falar comigo se eu falar que foi?

— Tô desapontada, mas não tô surpresa.

— Sou seu irmão mais velho.

— E?

— Acredita em mim quando falo que não faço as coisas para te prejudicar?

— Depois de passar dez anos chorando no meu colo, você quer que eu vá para outro país e abandone os meus?!

— Não sei se eu amadureci, ou se sofri lavagem cerebral.

— Lavagem!

— ... mas o que quase acabou com a Dê e eu não foi o fato de ela ir para outro país.

Para Sempre TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora