VIII - paris

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Hades era um mistério profundo e perigoso. Ele tinha olhos de fogo e a malícia de uma serpente venenosa. Naquela época eu não o conhecia de fato, mas em pouco tempo eu percebi que ele era mesmo cruel como o imaginado ou até mesmo pior.

Eu não posso dizer que ele era maldade, pois ele conseguia ser mil vezes mais que o significado desta palavra. Hades era, simplesmente, a personificação do desejo e o pecado. Então isso diz por si só o quão tóxico ele poderia ser.

Mas se engana quem pensa que eu ficava para trás.

Eu também era má e eu tinha consciência disso. Naquele tempo eu costumava dizer que ele era meu inferno, e talvez fosse afinal, uma vez que eu tivesse de reiniciar a minha própria vida para estar ao seu lado.

A minha vida lá na Terra era muito mais perigosa do que se pode imaginar. Eu era uma golpista procurada pela justiça, além de mestre em armas e traficante de drogas.

Eu não posso dizer que eu fui uma vítima da sociedade, embora você possa interpretar minha história assim. Na verdade, eu não posso dizer nada em relação as minhas origens, uma vez que não lembrasse de nada que veio antes dos meus dezoito anos. A minha lembrança mais antiga e secreta, era a de acordar em uma cama de solteiro com os feixes de sol queimando meus olhos e ouvir alguém chamar por meu verdadeiro nome, Persephone. Então uma freia se aproximar e dizer que eu não poderia mais ficar naquele orfanato, pois havia atingido a minha maioridade.

Eu olhei bem na cara dela, eu lembro bem, e perguntei que dia era aquele. Ela franziu as sobrancelhas e disse que era 8 de agosto de 1994.

Eu arregalei meus olhos assustada e me sentei na cama abrupta. Foi como se eu tivesse acordado de um coma, foi como se eu não existisse até aquele dia ou como se eu tivesse dormido por séculos.

Ao sair dali com uma mala de roupas, eu segui o caminho mais sórdido da vida: a prostituição.

Levei adiante essa profissão por dois anos e conheci pessoas que me guiaram através da escuridão. Uma delas foi Kenan, meu primeiro amor. Ele me ensinou a atirar e a aplicar pequenos golpes. Mas com o tempo eu fui crescendo e me destacando ainda mais que ele. Ele dizia que aquilo era arriscado, que nós não precisávamos de muito para viver e que eu era sua maior riqueza.

Porém, ambiciosa e traiçoeira, eu o convenci junto com alguns amigos a fazer algo do qual o arrependimento jamais pudesse ser apagado.

E foi naquele dia, maldito dia, em que fomos assaltar um banco com nosso grupo que tudo tão rápido chegou ao fim.

Eu assisti com os olhos cheios de lágrimas o meu sonho adolescente, meu amor puro e verdadeiro morrer silenciosamente e dolorosamente.

Kenan levou um tiro no peito por mim e disse que eu tinha que fugir antes que fosse tarde demais. E assim eu fiz, deixando para trás e para sempre o pequeno e mais memorável rastro de vida que tive na minha história.

A partir daí, aplicar golpes em velhotes ricos e destravar caixas de bancos se tornou minha profissão oficial. Então eu conheci Oliver e é claro que eu não preciso dizer o que veio depois.

Mas apenas com Hades, sempre com Hades, que eu vi que estava de fato no meu devido lugar. Todos os homens que eu amei me magoaram de alguma forma, mas Hades poderia fazer ainda pior e isso era o que mais me encantava nele. Porque eu estava em busca de dor e sofrimento, e ele era sádico o suficiente para suprir meus mais profundos desejos da alma.

No fundo, bem lá no fundo mesmo, eu sentia que merecia aquilo e que estar ao seu lado era de fato uma punição divina aos meus pecados mais sujos da alma. Se assim fosse, eu terminaria pura e santificada.

ATRAVÉS DA ESCURIDÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora