1 - Infiltração

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Talvez fossem apenas as sombras da noite caindo como um véu através do carro, ou talvez Katerine houvesse apagado por alguns segundos

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Talvez fossem apenas as sombras da noite caindo como um véu através do carro, ou talvez Katerine houvesse apagado por alguns segundos. Ela nunca teria certeza do que exatamente aconteceu nos instantes entre o impacto da caminhonete de Roque Marcone contra a lateral esquerda do sedan prata delas, e os vertiginosos e terríveis segundos capotando pela estrada vazia.

O guincho horrível do metal se aplacou quando o veículo parou de girar, caindo barranco abaixo; o sangue corria para a sua cabeça, e tudo era um emaranhado confuso na vista, um misto de estilhaços, luzes dispersas, terra e mato.

Escutou Alicia murmurar algo ao seu lado, e mesmo com cada fibra do corpo latejando, esticou a mão, tocando o braço dela, sentindo em meio a um alívio desesperador sua pulsação.

Ela está viva. Estamos vivas.

Os faróis da caminhonete de Roque Marcone atravessaram o para-brisa trincado do carro.

— Alicia! — Katerine a sacudiu, despertando-a.

— O que... Ai, merda!

Um choque de adrenalina as encheu. Katerine tentou apoiar seu peso contra o teto do carro, puxando o cinto de segurança. O cheiro e o gosto do sangue pairavam entre elas, mas não podiam perder tempo. Com um puxão, Alicia conseguiu soltar o cinto, caindo de mau jeito sobre o volante; um grunhido de dor deixou os seus lábios.

A primeira bala acertou o para-brisa com um estampido agudo, e Alicia arfou ao seu lado, a respiração rangendo alta.

— Ka, e agora?

— Saia daqui! — implorou para a amiga enquanto lutava contra o próprio cinto de segurança. Finas gotas de chuva brilhavam sob as luzes dos faróis, e Katerine ainda não conseguia discernir em qual posição haviam capotado.

Alicia se curvou sobre ela, tomando para si a batalha com o cinto de segurança. Palavrões baixos escapavam de sua boca. Katerine pressionou os braços contra o teto, tentando facilitar o trabalho de Alicia; o cinto se soltou, e ela caiu sobre o próprio ombro, os joelhos batendo no painel.

Escutavam vozes e batidas de portas de carros vindas da estrada acima.

— Pegue o sinalizador, Li — sussurrou, tateando a cintura à procura do seu coldre e de sua arma. — Saía daqui e encontre cobertura.

O desespero anuviava os sentidos de Katerine. Foco. Foco. Foco. Alicia saiu pelo vidro quebrado da porta. Ignorando os protestos dos músculos e o coração que bombeava em seus ouvidos, ela se forçou a sair por ali também.

O corpo se chocou contra o chão frio e molhado, e tudo o que enxergava era o barranco, as luzes dos carros acima e as árvores próximas.

— Boa noite, garotas! — Roque Marcone as cumprimentou do alto, sobrepondo a voz ao ronco do motor, e o estômago de Katerine se embrulhou no compasso em que ela se arrastava para trás do carro.

Epifania (Livro 4 - Saga Ellk) | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora