2 - Espiando na escuridão

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— Você quase comprometeu toda a operação.

O helicóptero sobrevoava o estado de São Paulo, e pelas janelas blindadas da cabine, a paisagem noturna se esparramava em um misto de luzes urbanas e vegetação.

— Não foi minha intenção, Gilberto. Suspeito que Marcone poderia conhecer o meu pai enquanto eu investigava as circunstâncias de sua "morte". Você sabia que meu pai era um professor influente? O velório e o enterro dele foram noticiados em vários jornais. Em um dos recortes que eu recuperei, havia uma foto de algumas das pessoas que estavam no enterro. — Katerine ligou o celular e exibiu a fotografia para o diretor, que permanecia com o semblante sério. — Veja essa pessoa ao fundo. É o Marcone. Quando vi a ficha dele na ASIP e reconheci a foto, não hesitei em me oferecer para a missão. Era uma forma de investigar sem levantar suspeitas.

— Mesmo assim, foi arriscado e imprudente.

— Descobri que Marcone fazia serviços para o meu pai. Coisas ilegais, mas não sei o quê. E foi através do meu pai que ele conheceu Eduardo e entrou para a Corporação — argumentou; estava mal ajeitada no banco, e uma fisgada desagradável se irradiava por sua lombar. — Gilberto, meu pai foi o mentor de Eduardo. Provavelmente foi o mentor que mostrou a Tiago Ellk o caminho até Hauros. Preciso descobrir por que, o que ele quer.

— Agir por debaixo dos panos, correndo o risco de comprometer uma operação importante, não é o melhor caminho, Katerine. Até a vida de Alicia foi colocada em risco por você esconder informações dela.

— Não, não, eu estava ciente de tudo, chefe. Tudinho. — Gilberto lhe lançou um olhar enviesado, e Alicia mordeu os lábios. Segurava uma compressa de gelo contra o galo que havia se erguido em sua cabeça por conta do acidente. — Desculpa, Ka. Tentei. Mas se eu soubesse, teria apoiado a causa, viu?!

— Você mentiu para sua parceira, mentiu nos relatórios. — Embora o tom do diretor fosse de repreensão, sua voz ressoava calma. — Descobrir que seu pai está vivo deve ter mexido com sua cabeça de formas inimagináveis, e eu não queria estar no seu lugar agora, contudo, preciso de você aqui. Prendemos Eduardo, mas ainda há pessoas soltas que trabalhavam para a Corporação. E se ele estiver mantendo contato de dentro da prisão com os antigos comparsas, e planejando alguma coisa? Você sabe como são os presídios aqui no Brasil. As crianças do Crisântemo Kell são alvos ainda, mesmo depois de tudo o que fizemos para mantê-las protegidas.

Katerine sabia que Gilberto estava certo. Eliminar todas as pontas soltas deixadas para trás pela Corporação era prioridade das forças de segurança nacional; assim evitariam qualquer chance de ascensão da organização.

As famílias envolvidas no Crisântemo Kell estavam sob proteção extrema, e para liquidar de vez os planos de Eduardo em obter o sangue dourado, Nicolas, Mattias, Cátia e Helena haviam recebido o medicamento que eliminaria por completo o vahliru de seus corpos. As perdas sofridas por aquelas crianças eram vastas. Katerine debruçou o olhar através da janela do helicóptero, contemplando as luzes artificiais que explodiam pela noite. Helena perdera ambos os pais, e agora vivia com os avós, e Emília, que morava atualmente com Cíntia e Felipe, perdera Simone, e nenhum outro familiar materno fora encontrado.

Epifania (Livro 4 - Saga Ellk) | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora