Capítulo 3.

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— O que é que te deu? — João questiona, quando nota a expressão tão feliz da irmã que ocupa o lugar a seu lado no sofá. Ele e Rúben continuavam numa acesa disputa na PlayStation.

— Nada. Sabes quem eu encontrei no mini-mercado? O Bernardo! — Raquel anuncia, incapaz de esconder o sorriso parecido ao de uma criança na manhã de Natal.

— Está explicado. — João revira os olhos. — É desta que se juntam ou continuam a fingir que não estão interessados? — Questiona, não levantando os olhos do ecrã. Em troca, recebe uma almofada atirada à cara. — Au!

— Nós não temos nada e tu sabes bem disso.

— Por parvoíce de ambos. Sempre gostaram um do outro. — Ele constata, encolhendo os ombros.

— Ele esteve com a Eileen uma data de tempo lá em Manchester. Não é por teres visto no Instagram que acabaram que algo vai mudar.

— Como queiras. Ele só nunca te beijou por respeito.

— Se calhar já o fez e eu é que nunca te contei.

— Raquel Maria, como assim? — João inquire, alterando a atenção do jogo para a irmã entretida no telemóvel. — Rúben, meu, tem calma! Não precisas de me matar todos os jogadores.

— Não me apetece jogar mais. Acho que vou tomar um duche. — O central responde, levantando-se.

— Está bem, puto. Sabes onde está tudo. — O futebolista acena e deixa os dois irmãos na sala.

— Acho que aproveito a deixa para também ir tomar um banho e aquecer-me. Por mais que goste da lareira não há nada como um duche quente. — Raquel informa, levantando-se também do seu lugar.

— Com o Rúben?

— João Miguel! Mas tu estás parvo? — Raquel quase que grita, atirando-lhe com todas as almofadas do sofá.

— Desculpa, desculpa! Estava só a brincar. Como iam ao mesmo tempo poupava-se água.

— Antes de ir ainda vou passar noutro sítio primeiro. — A morena, já na ombreira da porta, olha por trás do ombro para anunciar.

João percebe imediatamente ao que ela se refere e salta do sofá numa corrida repentina para a cozinha. Os dois irmãos acotovelam-se para passar na porta e serem os primeiros a chegar à bancada. A figura provoca o riso incontrolável e o abanar de cabeça desaprovador da sua mãe.

— Tão crescidos e continuam as mesmas crianças. — A mãe constata. Amélia Duarte permanece de braços cruzados e observa-os a discutir quem ficava com a maior porção de bolachas. Dez anos depois e nunca mudavam. — Se não se calam os dois, ofereço-as ao vizinho.

— Olha, agora que falas nisso... O Bernardo está cá. — João anuncia, encostando-se na bancada a mastigar uma deliciosa e quentinha bolacha de pepitas de chocolate.

— Ai está? Ora então é que é mesmo uma boa ideia. Vão lá os dois oferecer algumas. Os pais dele são sempre tão simpáticos quando os encontro na vila.

— Mãe, podes ir lá tu. — A jovem de 22 anos retorna.

— Porquê? Então vocês eram tão amigos!

— A Raquel está com vergonha, mãe. — O seu irmão mais novo explica.

— Eu vou arranjar tudo numa caixinha e vocês vão só lá entregar.

— Acho que estás por tua conta nesta, maninha. É um investimento no teu futuro da minha parte. — João avisa, recebendo uma língua de fora em troca.

Raquel volta a vestir o seu agasalho e caminha até à vivenda duas casas para a direita ao lado da sua. Talvez ele ainda não tivesse chegado. Podia ter mais compras para fazer. Nesse caso só encontrava os pais, cumprimentava-os e ia-se embora.

Estava nervosa e nem tinha a certeza de entender o porquê. Era um amigo. Podiam ter sido algo mais, é verdade. Houveram momentos. Contudo, nunca passou disso. Entretanto a vida levara-os para caminhos diferentes e assim iria continuar a ser. Ou seria isso algo que Raquel não queria?

Expira e bate à porta firmemente. — Sim? — Ouve uma voz mais velha do outro lado.

— É a Raquel, da Sra. Duarte.

A porta abre-se de imediato para mostrar um senhor sorridente. Era o pai de Bernardo.

— Raquel, há quanto tempo não te via. Da última vez que te vi estavas desta altura. — Exemplifica uma estatura baixa. — Como é que estás? — Questiona, deixando espaço para a jovem entrar e sair do frio.

— Estou bem, obrigado. Também está tudo com vocês?

— Sim, sim. Deixa-me só chamar o Bernardo. Ele vem já, querida.

— Não é necessário. Já o encontrei na vila. Só vim mesmo deixar estas bolachinhas e desejar umas festas felizes a toda a família. — Explica, entregando a caixa. Nesse preciso instante, uma figura atravessa a entrada e para a meio, voltando para trás ao reconhecer a rapariga.

— Raquel?

— Olá novamente! — Sorri timidamente.

— Estava agora mesmo a dizer que te ia chamar! Eu deixo-vos ao dois. Obrigado, Raquel. Manda beijinhos e desejos de boas festas aos teus pais.

— Assim farei. — Garante.

— Tu disseste que tinhas saudades, mas não sabia que eram assim tantas... — O moreno goza, aproximando-se.

— A minha mãe quis mostrar os seus dotes e eu fui a cobaia de entrega. — Raquel desculpa-se.

— Podia ter vindo o João.

— Está demasiado entretido com um novo amigo que veio com ele desta vez.

— E tu? Vieste sozinha?

— Vim. Tenho vindo sempre, aliás. Tu?

— Uma vez disseste-me que valia por dois, mas acho que sou só um. — Bernardo brinca, fazendo-a corar com a memória.

— Tenho de ir andando. Ainda tens o meu número? — Raquel tenta esconder o nervosismo com a pergunta.

— Se não tiveres mudado.

— Então, se sempre quiseres combinar alguma coisa, estarei por cá até 31 de dezembro.

Ele acena e despede-se da morena.

— Farei sempre questão disso, Raquel.

A jovem atravessa o pátio da casa, enfrentando o gélido vento que lhe avermelhava as bochechas, já de si rosadas com o comentário.

O Rúben não achou muita graça à conversa, mas ainda aí vem mais um para fazer moça no coração da nossa Raquel

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O Rúben não achou muita graça à conversa, mas ainda aí vem mais um para fazer moça no coração da nossa Raquel. Espero que tenham gostado. Muitos beijinhos e boas leituras! 🎄😘

Um Conto de Natal | Bernardo Silva, Rúben Dias & Raphael GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora