Capítulo 7.

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23 de Dezembro de 2018

— É hora de acordar! — A voz irritante do irmão mais novo ecoa pelas paredes da casa.

Naquela manhã, Raquel era dominada pela preguiça para ir correr, mas a ideia de encontrar Raphael dava-lhe o incentivo que necessitava. Sentia que era errado explorar o que sentia com outra pessoa, estando, claramente, a retribuir o esforço de Bernardo, mas não se conseguia impedir a si mesma. Além do mais, não era comprometida e, muito menos, tencionava jogar com o coração dos dois. Se entendesse que a intenção de algum envolvia tornar-se sério e dar o próximo passo e essa correspondesse, igualmente, à sua vontade, então terminaria o investimento para além da amizade no outro.

Será que, por alguma chance, eles se conheciam?

A sua cabeça divaga para um nome com o qual não pretendia preocupar-se. Rúben. Quais eram as suas intenções? Estarem juntos uma noite? Se estivesse certa, o atrevimento ia para além do aceitável, pois jamais se envolveria com alguém debaixo do mesmo teto que os pais dormiam, por uma questão de respeito. Apercebeu-se que negar que se envolveria com ele em alguma circunstância era uma afirmação maior que o que podia jurar. Contudo, jamais naquele contexto.

Abanando a cabeça numa tentativa de afastar todos os pensamentos, Raquel levanta-se e começa a equipar-se para a sua corrida matinal.

Quando desce até à entrada ouve um assobio e, ao olhar para a porta da sala, nota quem tinha sido o óbvio causador do som.

— Mano, estás a assobiar para onde? — João Miguel que se encontrava de costas no sofá, questiona.

— Pareceu-me ver uma abelha. O segredo para as afugentar é assobiar, li no Google.

João revira os olhos e oferece ao central uma chapada no pescoço.

Antes de se voltar a concentrar no jogo, Rúben lança um olhar à porta, onde encontra uma Raquel divertida com a cena que se tinha acabado de desenrolar. aO jogador movimenta a boca, em silêncio, desejando-lhe "bom dia" e pisca-lhe o olho, recebendo um sorriso cínico em troca.

De seguida, Raquel deixa a moradia e inicia a corrida em direção ao centro da vila. Distraída com os seus fones, só repara que a estão a chamar quando lhe tocam no braço.

— Estava difícil! A menina hoje está com pressa. — Raphael comenta ofegante.

— O vencedor de ontem não aguenta com o meu ritmo? — A morena inquire, franzido as sobrancelhas.

— Vim mais cedo porque achei que te encontrava.

— Estava cheia de sono. — Ela admite. — Vieste de propósito por minha causa?

— Não ia deixar o lanche pendurado, sou fã de doces. E comida no geral, para ser sincero.

Raquel ri-se e identifica-se com o jovem. De seguida, acertam horas para o seu lanche desse dia e, uma hora passada de corrida e conversa, despedem-se.

De regresso a casa, arruma o excesso de roupa no bengaleiro e prepara-se para subir as escadas até ao andar superior quando quase embate contra um Rúben de boca cheia, e extremamente suja. O central parecia uma criança com o donut na mão e a boca cheia de açúcar.

Um Conto de Natal | Bernardo Silva, Rúben Dias & Raphael GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora