Capítulo 9 - Dante

48 10 2
                                    

– Então, o que acha? – perguntou Dante, levantando o volume do toca fitas do carro.

– Essa gritaria parece um javali sendo castrado! – disse o rapaz sentado no banco de trás, referindo-se ao rock vibrante que saia dos autofalantes.

Você faz algo além de reclamar?

O garoto era da idade de Dante. Havia chegado até à cidade do Chacal, exigindo falar com ele sobre uma história de vingança. Prometeu matar o Corvo, em troca de informações e uma chance. O Chacal não era louco de sair dando uma arma na mão de qualquer um, mas gostou da determinação do rapaz e prometeu que lhe daria uma oportunidade. Ordenou que ele fosse junto com Dante e um de seus homens buscar um pacote, que seu amigo dono da mercadoria certamente teria informações sobre o Corvo. Dante particularmente não gostava do rapaz. Tinha um temperamento amargo e reclamava com frequência de como a vida era injusta.

Os três estavam há algumas horas na estrada. Junto com Dante e o rapazinho, vinha Mason, um homem calado que parecia ser desprovido da capacidade de rir, mas pelo menos ele não reclamava do bom e velho rock 'n roll.

– O que você gosta de ouvir? – perguntou olhando o rapaz pelo espelho retrovisor.

– Os pássaros... – respondeu o outro, do banco de trás do carro, de forma séria.

Caipira.

– Dê uma chance para o rock, você vai acabar gostando – disse Dante com um sorriso.

O rapaz fez uma careta, mas não disse nada.

Foda-se. O carro é meu e o som é meu. Se não gostar vá à pé.

Sorriu para o rapaz, tentando não entregar seus pensamentos. Olhou para o outro homem que estava ao seu lado, olhando para a estrada, completamente indiferente à conversa sobre a música que preenchia o interior do carro.

– Onde temos que pegar a mercadoria? – perguntou Dante, tentando fazer o homem quebrar o silêncio.

– Ao norte – respondeu Mason, com muita má vontade.

Estou bem acompanhado... Quase sinto saudades do meu amigo Zumbi.

Dante conhecia a estrada. Estavam indo em direção ao Vilarejo da Viúva, próximo da grande cidade conhecida como Trincheira. A estrada de asfalto cortava um grande e denso bosque cujas árvores estavam ressecadas como se estivessem doentes. A paisagem se desenhava em tons pálidos de amarelos queimados, laranjas e marrons. O sol do fim da tarde se estendia à esquerda de Dante, com sua luz fraca cobrindo debilmente o bosque.

Dante estava com fome. Eles não haviam comido nada desde cedo e ele não sabia quanto tempo faltava para chegar até o vilarejo, mas pelo que se lembrava, de lá até Trincheira seriam apenas mais algumas horas de viagem. Girou o botão e baixou o volume da música.

– Ei, Evan.

– É Ethan – devolveu o rapaz.

Que seja.

– Está com fome? – Tentou puxar assunto. Não gostava muito de silêncio.

– Sim.

– O que você comia na fazenda?

O rapaz hesitou por um instante.

– Milho, batatas, cenouras...

– Eu me refiro à comida de verdade – disse Dante olhando pelo espelho.

Ethan pareceu confuso.

– Carne?

Ele acertou...

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora