Capítulo 11 - Cisco

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Levantou o dedo indicador na frente da boca enquanto olhava nos olhos apavorados do amigo, solicitando silêncio. O outro acenou com a cabeça, agachado com a lateral do corpo encostada na parede. Os sons que vinham da rua eram baixos. Havia poucos deles, pelo que parecia. Cisco segurou firme a faca e fez sinal para o seu companheiro, levantando três dedos.

Três... Dois... Um...

Saltaram em direção à rua, avançando contra o pequeno grupo de mortos que havia ali. Eram cinco no total. Mataram os dois primeiros pelas costas, sem muita dificuldade. Os próximos dois demoraram muito para se virar e também tiveram uma morte rápida. O último já havia voltado sua atenção a eles. Cisco esperou que viesse correndo como um louco, mas, ao contrário disso, o morto veio se arrastando, movendo-se lentamente e emitindo sons como se estivesse em uma grande agonia.

- Mas que merda é essa? - perguntou olhando para o seu parceiro.

- Será que ele está ferido? - rebateu Fantasma, olhando para o morto e de volta para Cisco.

Na noite passada havia sido bem diferente. Foram caçados iguais animais em um ataque muito organizado. Cisco viu vários dos irmãos sendo abatidos ou devorados pela onda dos mortos vivos. As poucas balas da pistola que ganhou não deram nem para o começo, mas pelo menos haviam ganhado mais uma faca e um sinalizador. Fantasma, durante o pavor, gastou o sinalizador contra um deles e também havia perdido sua faca. Pelo menos acharam um bom facão em uma casa abandonada. Para Cisco, poderia ser chamada apenas de casa, pois tudo estava abandonado ali.

Fantasma caminhou cautelosamente até o morto de pele azul escura e olhos brancos, segurou firmemente a lâmina e enterrou-a na têmpora dele.

- Não seria tão difícil se todos eles fossem assim - disse Fantasma, pensativo.

- E seria muito mais fácil se eles não existissem! - concluiu Cisco. - Está com o mapa?

- Sim. Está aqui.

Fantasma puxou o pedaço de papel e analisaram o desenho da cidade.

- Estamos aqui - apontou Cisco - na zona sul. A marca indica para subirmos até a zona leste.

- Cisco... O que acha que estamos buscando?

- Eu não sei, mas você sabe que não podemos voltar.

- Eu estou com medo. Só queria dar uma vida decente para meu filho - disse Fantasma.

- E você vai - Cisco colocou a mão no ombro do amigo para lhe dar coragem. - Vamos sair daqui. Já matamos vários deles. Até os mais rápidos! Confie em mim. Eu agora sou um soldado, ganharei em dobro, e vou te ajudar com seu filho.

- Obrigado, Cisco. Me desculpe por zombar de você.

- Tudo bem. Agora vamos embora daqui. Precisamos achar um pouco de água. E se Deus realmente existir... Algo para comer.

Começaram a caminhar por entre os destroços da Cidade Fantasma. Algumas partes do asfalto estavam rachadas, por onde a vegetação se alastrava. A cidade tinha tons de cinza e ferrugem. Os poucos carros presentes nas ruas apresentavam pintura desbotada, vidros quebrados, pneus furados e chassis carbonizados. Muitos foram utilizados como barricadas, bloqueando o caminho em frente às casas. Essas, por sua vez, variavam muito. Algumas estavam intactas, como se simplesmente não tivessem participado da guerra. Outras tinham madeiras fechando portas e janelas, com a intenção de fornecer alguma segurança. Já outras estavam destroçadas, com telhados ou paredes caídas, muros e árvores derrubados. Cisco sempre ouvira falar da Cidade Fantasma, mas aquilo era muito pior do que ele esperava. Não gostaria de estar sozinho e ficou feliz de ter Fantasma junto com ele.

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora