Capítulo 19 - Meredith

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Por entre a plantação de trigo a garota ia correndo. Uma de suas mãos, estendida longe dela, sentia a textura levemente áspera dos grãos do trigo. A outra mão, esticada em direção aos pés, segurava firme o braço de Beth, sua boneca e melhor amiga. Por ser baixa, ela não enxergava muito à sua frente. Conseguia ver apenas a ponta do telhado da casa de seus pais e as duas janelas dos quartos, no segundo andar.

Quando saiu do meio do trigo, já estava perto da área da casa. Olhou para o carro preto, admirada, pois não via muitos daquele tipo na casa de seus pais. Seu irmão tinha um de madeira, mas não chegava perto da beleza daquele. Ela subiu pelas escadas, segurando as madeiras redondas e polidas que davam suporte ao corrimão, porque não o alcançava ainda.

"Mãe!", chamou ela. Queria avisar sobre o visitante que havia chegado. "Mamãe!", chamou de novo, enquanto empurrava a porta com as duas mãos, por não ter força o suficiente apenas com uma. Infelizmente Beth ficava prensada contra a madeira nesse processo. Passando pela porta, ela chegou à sala. Tudo estava quieto. Seu irmão, que geralmente ficava brincando sobre o grande tapete peludo, não estava por ali. Ela deixou Beth sobre o sofá e foi procurar seus pais.

Andou pelo corredor chegando próximo à cozinha. Na parede viu algumas manchas vermelhas, como quando esfregava tinta com as mãos pela casa e quase apanhava de seu pai. "Mamãe?", sussurrou a garota. Passou sob o imenso marco de madeira da entrada da cozinha. Tudo estava impecável como de costume. Seu olhar vagou pela mesa e algo no chão chamou sua atenção. Sua mãe estava caída no meio da cozinha.

"Mamãe!", disse ela surpresa. Correu até sua mãe e se lançou a ela com um abraço. O corpo estava frio e sentiu algo umedecer as mangas sobre seus braços. Quando ela se afastou para ver o que era, entendeu que se tratava de sangue. Sacudiu sua mãe com as duas mãos, chamando-a, mas não obteve nenhuma resposta. Lágrimas vieram de seus olhos e lembrou-se de seu pai. Decidiu correr até o galpão para pedir ajuda.

Saiu pelo outro lado da cozinha, que dava acesso à porta da parte de trás da casa. Correu o mais rápido que pôde. Estava a poucos passos da porta quando uma mão cobriu sua boca e um braço a envolveu, erguendo-a, fazendo com que o chão ficasse distante. Sem poder gritar ou se mover, seus olhos se arregalaram de pavor. Ela não conseguia se mexer. O estranho a levou de volta pela cozinha, cruzando novamente por sua mãe. Passaram por baixo do grande marco de madeira e entraram em um dos closets. O estranho a colocou no chão, mas manteve a mão em sua boca.

"Se você não gritar, ele não vai nos ouvir.", sussurrou o estranho em seu ouvido. A garota estava apavorada demais para saber o que fazer. De onde estava, conseguia ver o corpo de sua mãe, pela pequena fresta da porta, inerte e sem vida. Logo ouviu som de passos vindo do corredor de onde o estranho a agarrou. Pensou ser seu pai e se mexeu, tentando se soltar. Queria poder correr para os braços de seu pai. O estranho a segurou novamente com mais força.

Um homem com capa preta surgiu perto do corpo de sua mãe. Agachou-se próximo a ela e ficou analisando-a. Sua mãe se mexeu de repente e ergueu levemente um dos braços. Estava viva! A garota tentou correr até ela, mas o abraço do estranho tinha o peso de três portas. O homem de preto levou a mão por baixo da capa e puxou uma faca. Ela se mexeu com mais força, mas assistiu impotente o homem de capa segurar a cabeça da sua mãe com suavidade e enfiar a faca em seu coração. Ela chorava, mas não conseguia se mexer.

"Shhhhhh... Calma. Meu nome é Gunnar. Vai ficar tudo bem.", disse o homem grande, que a segurava com força. O outro, de capa preta, levantou-se e caminhou na direção do corredor. Ela não conseguia ver seu rosto, encoberto pelo capuz. Ele foi até a sala e saiu em direção à plantação de trigo. O estranho que a segurava aguardou a saída do homem de capa e ambos fugiram pela parte de trás da casa. Se ele não estivesse ali, ela teria sofrido o mesmo destino de sua mãe, seu pai e seu irmão...

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora