Capítulo 5 - Meredith

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O vento soprava na plantação de trigo, criando ondulações nos finos caules como se fosse um grande tapete sobre o solo. A menina gostava de ficar sentindo a brisa e ficar vendo a densa plantação dançando. O sol era forte e brilhava radiante. A sombra da macieira era um refúgio conhecido e bem-vindo. Sentia o cheiro da lavanda não muito distante. A plantação de menor porte era mais rasteira e exibia tons de lilás. Ela fazia contraste com o trigo, alto e de tom amarelo enfraquecido.

Os pássaros voavam sem bater as asas, apenas plainando ao vento. Ela os assistia voar até as montanhas, além do horizonte. Ficava encantada com a liberdade que eles tinham, e, por vezes, abria os braços sentindo o vento, querendo também ser um pássaro.

O final da tarde vinha sempre acompanhado do pão de trigo que sua mãe fazia. Seu pai trabalhava arduamente o dia todo, todos os dias. Ela não conseguia entender porque alguém precisava trabalhar tanto. De onde estava conseguia ver a casa de seus pais. Uma casa modesta, de madeira, com o telhado disposto de forma íngreme, parecendo uma cabana. Na lateral da casa havia uma escada que levava à varanda onde eles faziam as refeições. No telhado havia duas pequenas torres, das janelas dos quartos. Por vezes ela saía pela janela e deitava-se no telhado para olhar as estrelas.

Do lado da casa havia um grande galpão onde seu pai guardava os equipamentos, ferramentas e o que era produzido. Ele era alto e feito de madeira. Lá também era a moradia dos patos, patas e galinhas. Além do seu galo Rufus, é claro. Esse frequentemente arrumava confusão com os demais.

Ainda dentro do celeiro, havia paredes formando os estábulos. Neles ficavam os dois cavalos da fazenda. Bragado, o cavalo de seu pai, e Malhada, a égua negra que ela havia ganhado de presente. Seu irmão ainda era muito pequeno para cavalgar, mas ele gostava muito dos cavalos. Chamava-os de "Bagado" e "Maiada". Com frequência perguntavam a ele os nomes, porque gostavam de vê-lo tentando falar.

Mas isso foi há muito tempo...

Agora, mulher, frequentemente ela sentia o gosto amargo das lembranças. Toda a felicidade que uma vez existiu lhe havia sido roubada. E, muito pior, sentia-se como se nunca mais pudesse ser concedida novamente. Para não pensar, tentava manter a cabeça ocupada em seu trabalho, o trabalho que mantinha acalmada a sua raiva e saciada a sua sede de vingança.

Sentada no terraço de um dos prédios, observava as cores da grande cidade de Cassino. Seus prédios altos e bem iluminados chamavam a atenção principalmente à noite. Em vários tons de azul, amarelo, verde, vermelho e lilás, cada um deles era como um templo das atividades principais que aconteciam lá: jogos, bebidas, drogas, violência e prostituição. Todos os vícios da antiga sociedade que se recusaram a morrer na guerra.

O pecado e o mal estão tão vivos em nós quanto o bem.

Ela sabia disso porque viveu intensamente o melhor dos dois lados. As pessoas vinham para Cassino para tentar afogar todo o amargo do que suas vidas haviam se tornado nos atrativos que a cidade proporcionava. Desde que estava ali viu todo o tipo de pessoa, as que não sabiam perder, as que não sabiam ganhar, as que se matavam, as pessoas que vagavam sem muitos objetivos na vida e as que simplesmente existiam, inertes a tudo que as cercavam.

Em Cassino, como na vida, tudo tem um preço. E muitas vezes não se tratava do que a pessoa tinha, mas do que podia oferecer. E esse era seu trabalho. Todos os prazeres eram permitidos lá, desde que fossem pagos. O frenesi do jogo muitas vezes fazia as pessoas apostarem o que não tinham. Se ganhassem não teriam problemas, mas se perdessem teriam que pagar. Custe o que custar.

A missão que lhe fora dada era um homem chamado Andrius. Ele trabalhava para o Negociador, um homem tão poderoso quanto seu empregador. Veio até a cidade para fazer uma entrega e acabou se encantando com a simpatia das moças da Dona Mia. Dificilmente alguém não se encantava, pois ela só acolhia as melhores.

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora