Capítulo VIII - Bem vindo à Realidade

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Segunda-feira tornou-se um dia especial para mim, toda a correria não me cansava mais. Cheguei meia hora antes na clinica, antes de subir, a secretaria me diz que Laura que acabara de ligar desmarcando a sessão, pois surgiu um imprevisto. Na hora pensei que estava tudo bem, vou aproveitar para analisar alguns casos. Mas à medida que o tempo passava, eu só lembrava da noite anterior com Laura. Seu olhar era tão doce que me transmitia uma serenidade que só era capaz de sentir através da oração. Meu Deus, que sentimento é esse?
As palavras do Pe. Marcos começaram a inquietar o meu coração. Então me questionei se estava levando isso longe demais. Já tinha quebrado muitas barreiras da terapia, o que foi extremamente difícil para mim. No entanto, comecei a ver que Laura estava adentrando pela última porta, a qual eu guardava a sete chaves: O meu coração, e eu nada podia fazer em relação a isso.
Mas não tive muito tempo para pensar sobre o assunto, pois recebi o telefonema dos pais da Giovana, ela acabara de falecer. O seu estado tinha piorado no final de semana, e ela não resistiu. Era a primeira vez que eu estava passando por isso, não sabia o que fazer, fiquei muito mal. Desmarquei todos os pacientes do período vespertino, e fui ao velório.
Eu sempre acreditei que a morte não é o fim, mas o inicio. Mas na hora é sempre muito difícil lembrar-se de suas convicções. Fui bombardeado por todo tipo de sentimento.  Giovana era uma das minhas pacientes mais queridas, uma jovem que enfrentou dignamente o seu sofrimento, e tirou dele a essência de sua vida. Para mim que era especialista em Logoterapia , era um caso vivo de que o sentido da vida é seguramente uma das portas para a felicidade.
Quando fui falar com os familiares, a mãe de Giovana me entregou uma carta.
–– Minha filha pediu para que lhe entregasse esta carta, caso ela morresse. Muito obrigada por tudo que fez por minha filha, você foi um anjo na vida dela.
Eu nunca Tinha visto a mãe de Giovana, mas parecia que ela me conhecia a fundo.
–– Obrigado! –– Não sabia o que dizer, e lembrei o que Laura faria em situação como essa. Então a abracei fortemente e choramos juntos.
***
Quando cheguei em casa, sentei na minha poltrona com uma taça de vinho e abri a carta de Giovana.
“Caro, Sr Tobias.
Caso esteja lendo esta carta, é porque realmente não consegui me despedir pessoalmente. Mas as palavras são as mesmas, se fecharo os olhos nem vai perceber que eu parti. Na minha primeira sessão há alguns meses, você me disse que eu teria que ter a morte diante dos olhos, e lembro que fiquei revoltada, pois eu sabia que ia morrer, e o procurei para não pensar nisto, e você simplesmente me jogou na cara que estava para morrer, e me pediu para encarar esta possibilidade. Sabe de uma coisa? Hoje eu vejo que foi a frase mais linda que eu ouvi, pois quando comecei a ter a morte diante dos olhos, então finalmente comecei a ver o que é a vida. É verdade, não foi uma tarefa fácil para uma jovem que tinha tantos sonhos. Mas a vida é engraçada, eu me pergunto se eu te conheceria se isso não houvesse acontecido, ou se eu seria capaz de enxergar a vida com tanta intensidade, eu vivi mais em um ano do que nos meus outros vinte. O que quero dizer é que sempre há um lado bom, mesmo nas doenças. Por fim, eu não só quero agradecer, mas também desejar lhe felicidades em sua vida profissional e pessoal, espero que possa ter alguém como você ao seu lado. Eu sei que isso não é da minha conta, mas eu notei um brilho diferente nos seus olhos, acredito que esteja vivendo um grande momento. Fico feliz em saber que alguém que ajuda tanto as pessoas, também pode ser ajudado. Obrigado por tudo, e te espero no céu.
Com Carinho,
Giovana

Dois Corações No Divã (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora