XVIII

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Lá pelas dez e meia meu pai veio me buscar, mas surpreendentemente eu era a última a ir embora, ao invés se ser a primeira como sempre. Além disso houve outra coisa surpreendente: ao invés e apenas encostar o carro e me deixar entrar ele estacionou e veio ao meu encontro.

Eu e a Maria estávamos em frente ao portão da casa dela e ficamos meio paralisadas quando ele veio, porque meu pai nunca faria aquilo.

- Oi papai.

- Oi - ele disse visivelmente aéreo - oi Maria.

- Oi. - ela respondeu sem jeito.

- Sua mãe está?

- Sim. Lá na cozinha por que?

- Posso falar com ela um minutinho?

- Ah, claro. Pode entrar.

Fomos os três lá para dentro, e tudo o que se passava na minha cabeça era que ele ia dizer alguma coisa sobre o Arthur e as queixas de agressão.

A Maria levou meu pai até a mãe dela e silenciosamente nós duas saímos correndo de lá.

- Sobre o que acha que eles estão falando? - ela me perguntou quando chegamos no sofá.

- Não faço idéia, mas pode ser sobre o Arthur.

Ela sacudiu a cabeça em afirmação e nós duas nos posicionamos melhor para assistir a cena.

Meu pai estava estranho. Ele em geral é bem calmo e tranquilo mas naquele momento estava meio nervoso e inquieto. A mãe da Maria estava normal, apenas ouvindo e acentindo de vez em quando.

De onde nós estávamos não era possível ouvir muita coisa, mas eu sabia que o que quer que fosse eu iria descobrir através da minha mãe, então nem me importei muito.

Alguns minutos depois meu pai se despediu da Vanuza, a mãe da Maria, e veio me encontrar.

- Vamos filha?

- Uhum.

Me despedi da Maria, da mãe dela e o segui até no carro.

Lá dentro ele ligou o motor e dirigiu em silêncio por alguns minutos até finalmente contar:

- Tudo bem pra você ficar uns dias na casa da Maria?

- O que?!

Eu nunca pensei que aquelas palavras fossem sair da boca do meu pai.

- O vovô e a vovó não vieram hoje.

- Por que?

- Ao que parece o vovô descobriu que está doente e eles tiveram que cancelar a viagem.

- Como assim doente? Que tipo de doença?

- Está tudo bem Gabi. É só uma complicação que ele teve por causa da diabetes. Nada demais.

- Mas ele vai ficar bem não vai?

- Vai. - ele sorriu para mim - só que vai ficar internado e passar por vário procedimentos químicos. Então eu e a sua mãe vamos lá para apoiá-lo.

- Eu quero ir.

- Você tem as provas Gabi, não pode jogar tudo pro alto por sabe-se lá quantos dias. Cada prova que você perde aumenta a chance de tirar notas ruins.

Concordei em silêncio.

- Amanhã você vai voltar da escola com a mãe da Maria, e vai ficar na casa dela por uns dias. Até eu a mamãe voltarmos.

- Ok...

- Tudo bem? Eu sei que você nunca ficou longe de nós. Tudo bem se você não quiser.

Eu não queria. De jeito nenhum. Mas o olhar do meu pai me dava tanta pena que naquele segundo eu soube que a única coisa que eu poderia fazer para ajudar era riscar aquele problema da lista.

- Eu estou bem. Vai ser legal ficar na casa da Maria.

Ele sorriu orgulhoso e depois voltou a olhar para a rua.

- Amanhã depois da aula vocês passam lá em casa e pegam as coisas que você vai precisar okay? Sua mãe já separou tudo.

- Okay, mas quando vocês voltam?

- Provavelmente daqui à uns dois dias. Três no máximo. Nós só vamos ver como ele está e voltar.

Acenti com a cabeça sentido um aperto no peito.

Fiz o possível para me animar mas não tinha jeito, eu ia passar dois ou três dias dormindo sob o mesmo teto que o Arthur. Dá pra acreditar?!

Quando disse que o universo estava conspirando contra mim foi sério. Você quer prova maior do que essa?

Aí Deus, o que será que esses dias vão me reservar?

De Longe Até Parece Que Somos Um CasalOnde histórias criam vida. Descubra agora