Lá pelas dez e meia meu pai veio me buscar, mas surpreendentemente eu era a última a ir embora, ao invés se ser a primeira como sempre. Além disso houve outra coisa surpreendente: ao invés e apenas encostar o carro e me deixar entrar ele estacionou e veio ao meu encontro.
Eu e a Maria estávamos em frente ao portão da casa dela e ficamos meio paralisadas quando ele veio, porque meu pai nunca faria aquilo.
- Oi papai.
- Oi - ele disse visivelmente aéreo - oi Maria.
- Oi. - ela respondeu sem jeito.
- Sua mãe está?
- Sim. Lá na cozinha por que?
- Posso falar com ela um minutinho?
- Ah, claro. Pode entrar.
Fomos os três lá para dentro, e tudo o que se passava na minha cabeça era que ele ia dizer alguma coisa sobre o Arthur e as queixas de agressão.
A Maria levou meu pai até a mãe dela e silenciosamente nós duas saímos correndo de lá.
- Sobre o que acha que eles estão falando? - ela me perguntou quando chegamos no sofá.
- Não faço idéia, mas pode ser sobre o Arthur.
Ela sacudiu a cabeça em afirmação e nós duas nos posicionamos melhor para assistir a cena.
Meu pai estava estranho. Ele em geral é bem calmo e tranquilo mas naquele momento estava meio nervoso e inquieto. A mãe da Maria estava normal, apenas ouvindo e acentindo de vez em quando.
De onde nós estávamos não era possível ouvir muita coisa, mas eu sabia que o que quer que fosse eu iria descobrir através da minha mãe, então nem me importei muito.
Alguns minutos depois meu pai se despediu da Vanuza, a mãe da Maria, e veio me encontrar.
- Vamos filha?
- Uhum.
Me despedi da Maria, da mãe dela e o segui até no carro.
Lá dentro ele ligou o motor e dirigiu em silêncio por alguns minutos até finalmente contar:
- Tudo bem pra você ficar uns dias na casa da Maria?
- O que?!
Eu nunca pensei que aquelas palavras fossem sair da boca do meu pai.
- O vovô e a vovó não vieram hoje.
- Por que?
- Ao que parece o vovô descobriu que está doente e eles tiveram que cancelar a viagem.
- Como assim doente? Que tipo de doença?
- Está tudo bem Gabi. É só uma complicação que ele teve por causa da diabetes. Nada demais.
- Mas ele vai ficar bem não vai?
- Vai. - ele sorriu para mim - só que vai ficar internado e passar por vário procedimentos químicos. Então eu e a sua mãe vamos lá para apoiá-lo.
- Eu quero ir.
- Você tem as provas Gabi, não pode jogar tudo pro alto por sabe-se lá quantos dias. Cada prova que você perde aumenta a chance de tirar notas ruins.
Concordei em silêncio.
- Amanhã você vai voltar da escola com a mãe da Maria, e vai ficar na casa dela por uns dias. Até eu a mamãe voltarmos.
- Ok...
- Tudo bem? Eu sei que você nunca ficou longe de nós. Tudo bem se você não quiser.
Eu não queria. De jeito nenhum. Mas o olhar do meu pai me dava tanta pena que naquele segundo eu soube que a única coisa que eu poderia fazer para ajudar era riscar aquele problema da lista.
- Eu estou bem. Vai ser legal ficar na casa da Maria.
Ele sorriu orgulhoso e depois voltou a olhar para a rua.
- Amanhã depois da aula vocês passam lá em casa e pegam as coisas que você vai precisar okay? Sua mãe já separou tudo.
- Okay, mas quando vocês voltam?
- Provavelmente daqui à uns dois dias. Três no máximo. Nós só vamos ver como ele está e voltar.
Acenti com a cabeça sentido um aperto no peito.
Fiz o possível para me animar mas não tinha jeito, eu ia passar dois ou três dias dormindo sob o mesmo teto que o Arthur. Dá pra acreditar?!
Quando disse que o universo estava conspirando contra mim foi sério. Você quer prova maior do que essa?
Aí Deus, o que será que esses dias vão me reservar?
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De Longe Até Parece Que Somos Um Casal
RomanceGabi é uma jovem de dezesseis anos que não faz nada de mais. Não vai à festas, não bebe, não fuma, e nem tem tatuagens. Tudo na vida dela, mesmo estando só no primeiro ano do ensino médio, gira em torno do Enem. Provas do Enem, livros pro Enem, reda...