Ele andou calmamente até a cadeira vermelha e branca do salva-vidas, então subiu lá e se sentou.
Fiquei parada imaginado se deveria ou não subir lá também. E mais importante ainda: como eu faria isso de vestido?
- Me dá a sua mão. - ele disse depois que eu já estava o observando a quase cinco minutos.
Dei um passo a frente mas fiquei em dúvida sobre pegar ou não a sua mão estendida.
Arthur tirou o baseado da boca e me olhou sem paciência.
- Olha foi você quem me seguiu, mas se quiser ficar aí embaixo me olhando à vontade.
Peguei sua mão sem vacilar e escalei a cadeira de quase três metros e meio de altura. Me surpreendeu o fato do Arthur ter realmente me segurado quando eu escorreguei e me ajudado a sentar do lado dele sem reclamar.
Assim que nós dois já estávamos sentados e quietinhos na enorme cadeira ele parou e olhou para o mar. Bom, talvez fosse a lua, não dava para descobrir.
- Você está olhando o mar ou a lua? - perguntei.
- A lua. O mar é só uma imensidão mortal.
- Talvez ele seja uma imensidão que traga paz.
- Em que sentido? - ele perguntou se virando para mim.
- Nada é maior que ele, nada ganha dele. Se você se vê à deriva no meio do mar tudo o que você vê é água e céu. Nada te atrapalha, nada te machuca... - respondi me recostando na cadeira.
- Pra mim ele te puxa pro fundo e te engole sem um pingo de dó.
- E como a lua pode ser menos letal que isso?
- Simples: ela está no céu. Está no lugar mais libertador possível. Lá em cima você toma o caminho que quiser e vai aonde desejar.
- E também pode despencar de lá e morrer.
- É um risco que vale à pena correr.
Olhei para ele. O Arthur estava realmente bonito naquela noite. Não ele em si, mas a atmosfera onde ele estava imerso.
O seu rosto sob a luz da lua mas parcialmente tomado pelo escuridão representava perfeitamente a sua essência. Seus olhos reduziam como esmeraldas contra a intensidade do mar. Seus corpo apresentava uma pose tão tranquila, tão calma. Ele tinha abaixado a guarda, agora era só um garoto gentil.
Ele era tudo o que sempre foi.
Tirei minhas costas do encosto da cadeira para me aproximar dele, que instantaneamente se virou para me olhar.
Agora estávamos nos encarando. Seus olhos me observavam lenta e calmamente. Uma fonte de calor e brilho em meio a frio e escuridão.
Nem percebi quando me inclinei, e muito menos quando ele se aproximou. Só fui ter noção da situação quando nossos narizes já tinham se tocado, mas aí já era tarde. Eu estava sob um encanto, uma magia desconhecida mas muito poderosa.
Tudo o que eu queria era ele. Sentia como se tivesse passado a vida toda desejando aquilo e que tinha finalmente conseguido.
Os lábios do Arthur se encaixaram perfeitamente nos meus e seu calor veio quente e fatal contra a minha pele assim que sua mão encostou na minha.
Cada célula do meu corpo estava viva. Cada parte de mim reagia da forma mais elétrica possível ao seu toque. Eu me sentia queimando, mas aquilo era bom, porque primeira vez em muito tempo eu me sentia viva.
Meus dedos tocaram os cabelos dourados da sua nuca e isso só fez com que ele se aproximasse ainda mais de mim, colando nossos corpos e isolando nosso calor.
Eu não sabia que era possível sentir aquela sensação. Como uma consciência de que cada célula do seu corpo está viva e funcionando muito bem.
Só nos afastamos quando meu corpo clamou pelo oxigênio que ele tinha tirado dos meus pulmões.
Assim que recuperei minha consciência vi nossas mãos entrelaçadas sobre a minha coxa esquerda, e um novo arrepio percorreu minha espinha.
Vacilei uma ou duas vezes até ter coragem de olhar para o Arthur, mas pelo jeito ele não tinha sentido a mesma coisa, já que seus olhos brilhantes me fitavam a muito tempo desde que havíamos descolado nossas bocas.
Havia um leve sorriso preso entre os lábios dele que, como um vírus contagiante, passou para mim, só que traz vezes maior e nove vezes mais bobo.
Eu simplesmente não acreditava naquilo. Isso tinha mesmo acontecido? Eu tinha mesmo beijado o Arthur? Aquele Arthur?!
Mesmo estando vivendo um caos interior eu continuei sorrindo para ele sem dizer nada, talvez por medo de não ter mais voz.
Uma parte de mim me dizia para correr o mais rápido possível dali. Me dizia que o Arthur não prestava, que ele iria me magoar e eu iria magoar a Maria. Essa parte era a que eu sempre escutava, todos os dias da minha vida desde que me entendo por gente.
Mas então, com meu olhar preso ao do Arthur, com meu coração disparado e a pele arrepiada eu resolvi ouvir uma vozinha bem fraca que sussurrava em um canto escuro dentro de mim:
Tente.
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De Longe Até Parece Que Somos Um Casal
RomanceGabi é uma jovem de dezesseis anos que não faz nada de mais. Não vai à festas, não bebe, não fuma, e nem tem tatuagens. Tudo na vida dela, mesmo estando só no primeiro ano do ensino médio, gira em torno do Enem. Provas do Enem, livros pro Enem, reda...