Seus olhos verdes reduziam contra luz da lua, que nos iluminava.
Observei seu belo rosto esquanto ele estava finalmente imóvel, um fenômeno que nunca acontecia.
Apreciei seus cabelos loiros cacheados dos quais eu só podia ver as pontas, pois ele estava com um boné virado para trás. Os lábios rosas, os dentes brancos...
Controle-se droga!
- O que estava fazendo com o Matheus Ribeiro?
- Não importa. - respondi seca.
- Importa sim.
- Então porque não me diz o que estava fazendo com a Fernanda?
Ele arregalou os olhos mas logo voltou ao normal. Sem pressa nenhuma o Arthur tirou do bolso um isqueiro e um cigarro e acendeu.
Assim que tinha dado uma boa tragada ele fez questão de soprar a fumaça branca na minha cara e me fazer tossir.
Arthur riu do meu desespero quando achei que fosse morrer sufocada.
- Estava beijando ela. - ele concluiu.
- Sério? Pensei que estava engolindo ela.
Arthur riu outra vez, mas nesse momento com prazer no rosto.
- Está com ciúmes?
- Não, só estou tentando proteger minha amiga do partidor de corações que você é.
Ele ficou calado por alguns segundos, apenas apreciando o efeito calmante da maconha.
- Eh, você está com ciúmes.
- Falou o cara que arrancou o Matheus daqui.
Eu falei com desdém, mas no fundo estava aliviada por ele ter ido embora.
- Vai dizer que você ia beijá-lo.
- Talvez eu fosse.
- Afastando a cabeça? Bela técnica.
Fiquei muda, apenas porque não sabia como responder aquilo.
Arthur também se calou, então ficamos os dois lá, em completo silêncio, afastados das outras pessoas e contemplando a lua.
Pensei em perguntar porque ele estava agarrando a Fernanda. Também pensei em perguntar por que ele era tão difícil de entender. Mas no fundo tudo o que eu queria era perguntar por que ela tinha me ignorado a semana toda.
Essas palavras já estavam na ponta da minha língua quando meu bolso vibrou.
Corri desesperada para atender a ligação, e senti vontade de morrer quando vi o nome da minha mãe escrito na tela.
Atendi com o coração disparado e as mãos tremendo. Eu havia sido pega.
- Alô, mamãe?
- Gabi! Graças a Deus! Onde você está?!
- Eu...
Pensei em falar a verdade, confessar que tinha fugido para ir a uma festa e que já estava muito arrependida por ter feito aquilo.
Meus olhos estavam enchendo de lágrimas e eu estava prestes a contar a verdade quando o Arthur segurou a minha mão.
Olhei para ele que fazia sinal para eu abaixar o celular.
Tirei o aparelho do ouvido e o precionei contra o peito, para abafar o som.
- Diga que está estudando. - ele falou.
- O que? Meus pais não são burros.
- Confie em mim. Diga que não conseguia parar de pensar nas provas e matérias do Enem e que você saiu para estudar na praia.
O olhei como se perguntasse se aquilo era sério mesmo.
- Isso é loucura.
- Antes ficar de castigo por loucura do que por desobediência. Agora pegue o celular outra vez e diga exatamente o que eu mandar.
Tirei o celular do peito e atendi a minha mãe, que já gritava outra vez.
- Eu estou... - tomei coragem e olhei para Arthur, que fazia mímica de alguém que lê e escreve.
Suspirei.
- Eu estou estando mamãe
- O que?! Estudando?
- Eh, eu... - olhei para as mímicas do Arthur - não conseguia dormir porque não... Parava de pensar que não tinha estudado o bastante. Então eu... Sai e vim pra praia.
- Volte para casa agora! Seu pai está quase desmaiando!
- Eu vou voltar. Já estou indo mamãe. Desculpe.
Desliguei o celular antes de ouvir mais alguma coisa.
- Até que você foi bem, só precisa aprender a mentir melhor, mas isso se consegue com o tempo. - Arthur falou orgulhoso.
- Não importa! Como vou voltar para casa maqueada e sem nenhum livro?!
- Espere aqui. - ele disse e saiu correndo.
Minutos depois Arthur voltou com uma mochila nas mãos.
- Pega isso. - ele disse abrindo o zíper e tirando de lá três livros muito pesados.
- Onde você...
- São meus. Eu passei no cursinho antes de vir pra cá.
Peguei os três livros. Geometria, química e gramática. Exatamente as matérias que eu mais tenho dificuldade.
- E a minha cara?
- Tem uma torneira lá na frente. Passe lá antes de sair e tire essa maquiagem.
Olhei para trás avistando a torneira. Belo plano.
- O-obrigado. - gaguejei.
Ele me abraçou e depois olhou no fundo dos meus olhos.
- Não esqueça de mostrar que está arrependida. Faça uma cara de dar dó.
Acenti com um meio sorriso e sai em disparada atrás da torneira para voltar a ser apenas uma garota com sono as três da manhã.
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De Longe Até Parece Que Somos Um Casal
RomansaGabi é uma jovem de dezesseis anos que não faz nada de mais. Não vai à festas, não bebe, não fuma, e nem tem tatuagens. Tudo na vida dela, mesmo estando só no primeiro ano do ensino médio, gira em torno do Enem. Provas do Enem, livros pro Enem, reda...