- Ah vamos! Vai ser legal!
A voz da Maria irrompeu no meu tímpano em uma mistura manhosa e chata.
Acho que ela nunca usou uma voz tão aguda antes.
- Quantas vezes tenho que dizer que não sou a pessoa certa? - repeti pela milésima vez.
- Você é a pessoa ideal! - ela exclamou - é minha melhor amiga, sabe cuidar de mim, sabe se cuidar sozinha...
- Também sei que é melhor ficar em casa estudando. - respondi seca.
- Droga Gabi! Você tem que parar de ser anti-social! É só uma festa. - ela reclamou.
- Exatamente! Uma festa. E eu com toda a certeza do mundo não sou o tipo de garota que vai a festas. - falei apertando o celular contra a orelha.
- Esse é o problema. Você nunca experimenta algo novo. Só sabe estudar, estudar e estudar! O enem é só daqui a dois anos e você já está na fila. - ela falou nitidamente sem paciência.
- O que o enem tem haver com isso?
- Só usei ele de exemplo. Estou querendo dizer que você se planeja demais. Será que não dá pra, uma única vez na vida, você ir à uma festa de sexta a noite, beber um pouco e ser uma adolescente normal?!
Respirei fundo, ponderando se desligava na cara dela e me fingia de morta pelo resto do mês, ou se aceitava a proposta para poder calar a boca daquela garota irritante.
Suspirei, com ar de derrota.
- Que horas era a festa mesmo?
Ouvi gritos e pulos do outro lado da linha. Provavelmente a Maria estava pulando sobre a cama enquanto berrava de alegria.
Um ruído se estendeu e uma porta bateu. Logo ela voltou.
- Ei Gabi, ainda está aí?
- Sim, e pode me dizer o que houve aí? - perguntei contendo a risada da cena em que a imaginei caindo no chão.
- Nada de mais, só o Arthur enchendo a droga do saco! - ela gritou do nome dele para frente, provavelmente querendo que o irmão escutasse - bem, o que você tinha perguntado antes mesmo?
- O horário da festa.
- Ah sim! - ela falou entusiasmada - começa lá pelas nove. Nós podemos ir nove e meia para não ficarmos sozinhas. É lá no mirante.
Bufei. Mas tinha que ser no mirante?
O Almirante Jeffrey é um restaurante na beira da praia, o lugar sempre lota a noite. O nome "mirante" vem do restaurante, que deixou conhecida a praia onde se encontra.
O fato de ser perto de casa pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. É bom pois caso algo dê errado eu posso sair correndo e voltar para a casa. É ruim pois meus pais podem ouvir algo, ou pior, me ver.
Mesmo assim fiquei meio feliz. A praia em si não era cheia de adolescentes, até porque lá era um lugar mais familiar. O mirante não era conhecido por festas grandes cheias de drogas e álcool, o que é perfeito para mim.
Percebi que a Maria ainda estava na linha e voltei a falar com ela.
- Passe aqui em casa as nove e meia.
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"Droga Maria, cadê você?", pensei enquanto me encolhia ainda mais, penando em desistir.
Já era mais de nove e quarenta, e ela não tinha dado nem sinal de vida.
Talvez aquilo fosse bom, afinal se ela não aparecesse eu não teria que ir.
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De Longe Até Parece Que Somos Um Casal
RomanceGabi é uma jovem de dezesseis anos que não faz nada de mais. Não vai à festas, não bebe, não fuma, e nem tem tatuagens. Tudo na vida dela, mesmo estando só no primeiro ano do ensino médio, gira em torno do Enem. Provas do Enem, livros pro Enem, reda...