Capítulo - 5

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Desistindo de tudo

Depois de muito esperar na rodoviária, Vanessa conseguiu embarcar em um ônibus para sua cidade.

Sentando-se em um lugar ao lado da janela, não inclinou a poltrona. Ficou com olhar perdido, parecendo não enxergar a mudança da paisagem urbana para a rural à medida que o ônibus se afastava da metrópole.

Saindo da cidade, primeiro vieram as planícies onde se podiam contemplar as casas distantes de algum sítio ou fazenda, mas parecia não ver nada disso.

Aliás, ela nem percebeu quando os ruídos barulhentos da cidade, carregados de buzina, roncos de motores, sirenes, falatórios e sinais de advertências constantes na rodoviária foram se distanciando e, aos poucos, substituídos tão somente pelo som do motor do ônibus em movimento e a vibração leve dos pneus em contato com a rodovia bem conservada. Nem tampouco notou a subida da serra onde o transporte parecia se arrastar em meio à estrada estreita que serpenteava as montanhas de densos bosques em ambos os lados.

Mesmo nas eventuais paradas, ela não desceu nem para tomar um café. Permaneceu ali, quieta, sentada em sua poltrona, olhando para o nada, perdendo-se em pensamentos tristes, ainda incrédula com tudo o que lhe acontecia.

Estava magoada, ferida. Nunca imaginou que algo assim pudesse lhe acontecer.

A única coisa que desejava era nunca ter saído da sua cidade, da casa de seus avós.

Não deveria ter se metido a fazer faculdade, nem se afastado da proteção do seu lar.

À medida que se aproximava de São Bento do Sapucaí, uma neblina sonolenta caía, deixando a paisagem montanhosa bem opaca.

Um pouco mais e chegou.

Ali a serração cedeu um pouco.

Ao descer do ônibus olhou ao redor sentindo a cabeça dolorida e o coração encolhido.

Não sabia muito bem o que fazer. Não havia se planejado para voltar, por isso não conseguia nem pensar direito.

Saiu caminhando sem saber para onde ir. Nem olhava para os lados.

Calcando compassadamente, a rua de pedras, parecia não notar irregularidade. Só via o chão.

Havia um vazio em seus pensamentos, mas, mesmo assim, devido sua postura moral e sua elevação, foi fácil seu mentor guiá-la para lugar seguro, onde encontrasse a paz profunda e organizar as ideias.

Caminhando sem perceber, subiu a longa ladeira e chegou à Praça da Matriz.

Lentamente, subiu os três degraus que a levaram ao pátio da Igreja da Matriz, caiada de branco e de graciosa arquitetura.

Entrou.

Em cada antessala que antecedia o corredor principal só viu, de cada lado, o altar com a imagem dos santos lindamente ornamentados e floridos.

Percorreu, vagarosamente, o corredor principal e, a cada passo, o silêncio abençoado se traduzia em paz.

Fechando os olhos, permaneceu em prece sentida no âmago de seu ser.

Em pensamento, pediu ao Pai orientação para saber o melhor a fazer.

A princípio, foi difícil não deixar que a dor da decepção se intercalasse naquele momento, mas procurou se harmonizar.

Era capaz de ouvir a voz de Leda contando-lhe sobre Ceres e Diogo, sobre o casamento.

Via, na memória, a cena do rapaz e sua noiva, entrando na igreja, deslizando pelo tapete vermelho.

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