Capítulo 7

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Viggo e eu não conversamos muito. Algumas palavras trocadas apenas quando por acaso nos esbarramos nos corredores, mesmo assim, ainda posso dizer exatamente se o encontrarei em casa ou não - como se no curto espaço de tempo em que estive aqui consegui desenvolver um sexto sentido capaz de detectar sua presença, mesmo que esteja do outro lado da casa.

É estranha a sensação de viver com alguém e mesmo assim não ter medo do escuro, não ter medo do que me aguarda nas sombras e da inevitabilidade de que em algum momento a maré calma se tornará violenta e me engolirá em uma rápida onda que desaparecerá assim que me destruir, tornando o mar calmo novamente.

Viggo não me espreita nas sombras, não invade meu espaço, não me olha como olharia para um objeto bonito, há esse senso mútuo de respeito mesmo no silêncio - há a sensação de que um de nós é o barril de pólvora e o outro a faísca e nós dois entendemos que a explosão seria devastadora, então nos mantemos em silêncio, tentando evitar a catástrofe.

- Você precisa de roupas. - Viggo quebrou o silêncio entre nós. Eu fico quieta e apenas balanço a cabeça em concordância, em parte porque não era uma pergunta e duvido que ele esteja interessado em minha opinião, mas também em parte porque ele tem razão. Não posso continuar vestindo apenas pijamas do quarto de hóspedes se vou ficar na casa por tempo indeterminado. - De qual estilo você gosta?

Ele está me encarando, uma expressão no rosto que não consigo decifrar - mas minha ignorância quanto as reações de Viggo não eram novidade, Viggo Grimborn parece ser a única pessoa a me tratar com o mínimo do que seria considerado decência e eu claramente não sei o que esperar de relações consideradas normais. Não sei como responder, não faço ideia do que ele quer ouvir e o jeito com o qual me olha não me ajuda a pensar.

Ele não veste um terno hoje, usa apenas um conjunto de moletom esportivo e sei que ele vai sair para correr na praia em alguns minutos. Coloco minha xícara sobre a mesa de café da manhã que naquele dia havia sido posta no jardim.

- Não sei o que quer que eu responda.

Viggo franziu a testa, parecendo confuso com meu comentário.

- Roupas, Heather. - Ele disse como se eu de alguma forma tivesse esquecido do que estávamos falando. - Quero que me diga quais comprar.

Encolho os ombros.

- Não sei. - Digo. - Posso usar qualquer coisa, na verdade.

- Besteira. - Ele diz, balançando uma das mão como se estivesse se livrando do meu comentário. - Você não é uma prisioneira, Heather, não aja como uma.

Engulo a seco e respiro fundo. Quero gritar para que ele não seja sim, quero implorar que tome as rédeas e decida por mim porque estou completamente a deriva e tenho medo de me afogar.

- Está me dando liberdade demais e não sei o que fazer com ela. - Confesso e Viggo fica em silêncio, toma um gole de seu café (preto, sem creme e sem açúcar, não sei por quê sei disso). Ele termina a bebida e se levanta, não diz nada antes de me deixar.

Eu fico e organizo a mesa antes de decidir seguir até a biblioteca no primeiro andar, talvez lá eu consiga algumas revistas e possa decidir o que Viggo espera de mim.

Apesar de estar na casa há alguns dias, é a primeira vez que me atrevo a entrar na biblioteca, mesmo assim sei exatamente onde fica, assim como sei onde ficam a academia, o escritório e o quarto de Viggo - apesar disso, não faço ideia de quais outros cômodos existem na casa, ainda sou covarde demais para explorar a propriedade sozinha, só conheço as portas que observei Viggo entrar.

Passeio pelas estantes, o cômodo parece um pequeno labirinto recheado de livros, acho alguns que me interessam e me sento em uma poltrona num dos cantos afastados. Me esqueço do motivo pelo qual estava ali, imersa demais nas palavras de Gaston Leroux e Jane Austen.

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⏰ Última atualização: Feb 20, 2023 ⏰

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