Conhecendo Benjamin

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    Passei praticamente voando pelos corredores da imobiliária, ignorei todas as vozes que me chamaram e segui para meu escritório no final do corredor principal. Fui até o banheiro que havia na sala, abri a gaveta da bancada sob a pia e peguei minha calcinha. Resolvi tirá-la antes de encontrar Paulo no restaurante para evitar perdas de tempo, mas como tinha um cliente em alguns minutos, achei melhor colocá-la de volta. Enquanto a vestia, alguém bateu na porta da frente, ignorei e terminei de me arrumar. Ao sair do banheiro, vi um pequeno buquê de flores sobre minha mesa, me aproximei e li o nome de Rafael no cartão, balancei a cabeça negativamente, dei uma singela risada e arrastei o buquê para o lixo junto com o cartão. Me sentei na cadeira giratória mais macia do mundo e coloquei os pés sobre a mesa, peguei o telefone e disquei o ramal de Margareth, que atendeu no primeiro toque.
    - Sim, senhorita Hofster?
    Torci o lábio para o lado demonstrando indignação.
    - Não me irrite, Meg...
    Uma risada sincera soou do outro lado da linha.
    - É brincadeira! Fala Nati...
    - Estou estressada!
    - Seu chocolate preferido está na primeira gaveta.
    Sorri toda feliz e abri a gaveta pegando um belo pedaço de chocolate, mordi o mesmo e continuei:
    - Você é um anjo, Meg! Estava precisando disso... Peça para a limpeza vir urgente na minha sala!Ganhei flores de Rafael e o cheiro delas está infestando todo o ambiente.
    - Seu ex-marido?
    - O próprio! Acho que a outra não está mais dando conta!
    - E agora que a saudade bateu ele te quer de volta?
    - Exatamente! - Gargalhei e Meg acompanhou. - Coitado... não demora, tá?
    - Limpeza à caminho!
    - Obrigada.
    Desliguei o telefone e relaxei o pescoço no encosto da cadeira. Margareth era minha confidente além de secretária e decoradora. Conhecia tudo sobre minha pessoa, acho que até mais do que eu mesma! O chocolate derretia na minha boca enquanto eu relaxava, porém, o toque do telefone me despertou de meu transe.
    - Natasha Hofster. - Atendi.
    - Nati? Sou eu, Rafael!
    Não pude acreditar naquilo.
    - É sério que você está me ligando?
    - Sim, estou! Recebeu minhas flores?
    - Claro! O lixo adorou...
    - Lixo? Você jogou mesmo fora?
    - E o que você queria que eu fizesse? Te ligasse agradecendo?
    - No mínimo!
    Eu ri... e ri alto. Muito alto!
    - Vejo que não perdeu seu senso de humor, Rafael...
    - Poxa, Natasha! Eu só queria conversar, mas já vi que você não está nos seus melhores dias... ainda bem que não esperei você sair do banheiro. Se essa foi sua reação pelo telefone, nem quero imaginar como seria ao vivo e em cores!
    - Como é que é? - Levantei da cadeira num pulo ao processar a informação. - Você entrou na minha sala? Quem autorizou?
    - Um rapaz que estava tirando cópias!Acho que o nome dele é Benjamin... mas então...
    - Tchau, Rafael!
    Devolvi o telefone para a base encerrando a chamada e saí possessa da sala com meus saltos batendo rápido no assoalho de madeira. Margareth estava no telefone, me aproximei e apertei o botão do gancho encerrando a ligação, ela arregalou os olhos ao me ver e foi soltando o telefone lentamente.
    - Quem... é... Benjamin? - Perguntei calma e pausadamente.
    - Benjamin? - Margareth pensou um pouco e estalou os dedos indicando que havia se lembrado. - É o novo estagiário! Começou há poucos dias na contabilidade...
    Virei as costas e segui para a sala indicada. Ainda ouvi Meg perguntar o que tinha acontecido, porém fingi não ter escutado e continuei minha busca. Passei diante dos vidros da sala e vi um jovem sentado de costas usando fones de ouvido, na porta de madeira havia uma placa prateada com a palavra "Contabilidade" escrita em letras cursivas, escancarei a porta fazendo-a bater no encosto da parede e causando um belo barulho. O rapaz se levantou rapidamente assustado e assustou-se ainda mais ao ver minha face endurecida, me aproximei dele e o observei retirar os fones, desci os olhos para seu crachá onde a foto dele e o nome "Benjamin Albuquerque" estavam impressos. Voltei os olhos para ele, cruzei os braços e aguardei que me dissesse algo. Nada. Benjamin devia ter seus 19 anos e era um rapaz muito bonito por detrás de seus óculos de nerd. Sei disso pelo simples fato de que por estarmos tão perto, minha respiração acelerada embaçou seus óculos, obrigando-o a retirá-los.
    - Acho que você me deve uma explicação, garoto!
    Ele até explicou, mas gaguejou tanto que eu não entendi absolutamente nada! Respirei fundo e o interrompi.
    - Pare! Tenho uma reunião com um cliente muito importante agora e não posso me ocupar com isso... - Percebi que ele respirou aliviado, então continuei. - Mas, assim que meu cliente colocar os pés para fora da sala, quero você lá dentro, entendeu? - Ele balançou a cabeça desesperadamente como forma de afirmação e manteve-se calado. - Ótimo! Agora busque um chá gelado para mim... qualquer dúvida pergunte à Margareth.
    Ele assentiu e saiu rapidamente da sala, quase correndo. Caminhei até a porta e instintivamente meus olhos focaram a bunda dele... e que bela bunda ele tinha! Voltei para minha sala e fiquei feliz ao ver que a limpeza havia feito seu trabalho e retirado de lá aquelas flores fedorentas, o telefone tocou e olhei no visor, era o ramal de Margareth. Meu cliente devia ter chegado! Atendi a chamada e autorizei a entrada do casal, recebi os dois com um imenso sorriso no rosto e os convidei a se sentarem. Tentaria ser rápida e direta, mas sem perder o charme, queria conversar o mais rápido possível com meu novo funcionário... e meu chá! Queria muito aquele chá também. A reunião demorou mais ou menos quarenta minutos, abri a porta para o casal e me despedi formalmente. Olhei para o lado e Benjamin estava colado na parede próximo da minha porta, deixei-a aberta e voltei para minha mesa, ele deu um passo adentro e ficou me olhando com o copo de chá no suporte para viagem em suas mãos.
    - Entre, feche a porta e sente-se...
    O observei seguir minhas ordens e aguardei que se acomodasse na cadeira para poder começar a falar.
    -Benjamin... vou te chamar de Ben para poupar minha saliva! Pode me entregar meu chá.
    Ele colocou o suporte sobre a mesa enquanto ao mesmo tempo estiquei o braço para pega-lo, nesse momento, nossas mãos se tocaram e eu olhei fundo nos olhos dele através de seus óculos. Ele se desculpou e desviou o olhar, escondendo as mãos sob a mesa. Puxei o copo junto com o suporte e o deixei ali por perto, cruzei as mãos sobre a mesa e comecei:
    - Então quer dizer que você autorizou um estranho a entrar na minha sala? - Ele acenou a cabeça que não. - Como não? Ele mesmo me deu seu nome! Está me desmentindo? - Acenou novamente que não. - Isso pode gerar sérias consequências, sabia? - Ele repetiu o movimento e me estressou porque eu não tenho paciência para essas coisas! Alterei a voz e continuei. - Benjamin, abra a boca e me responda com palavras, não com acenos!
    Suas feições mudaram como num passe de mágica! De garotinho assustado, passou para homem maduro. Ele respirou fundo e retirou os óculos guardando-o na gola da camisa, fixou seus olhos nos meus e me surpreendeu.
    - Senhorita Hofster, eu peço perdão... - Ai, caramba! Que voz era aquela? De onde veio? Onde será que estava escondida? Uma voz grave e sensual, que combinava perfeitamente com ele. Alto, cabelos claros, olhos esverdeados e aparentemente com o corpo em dia.... ele parecia Dean Winchester daquela série "Sobrenatural" com 19 anos! O sonho da maioria das garotas estava bem aqui na minha frente. Me endireitei na cadeira e aguardei que continuasse. - Eu devo ter sido a primeira pessoa que este suposto estranho encontrou por aqui e ele não me pediu permissão de nada! Simplesmente me disse que era seu marido e que iria te deixar um presente em sua sala, então concordei e indiquei a localidade da mesma. Me perdoe, mas não o conhecia e nunca tinha conversado com a senhorita para saber se era ou não realmente casada, então não tinha como impedi-lo.
    - Só isso?
    - Somente.
    Que pena. Poderia ficar aqui o dia todo ouvindo-o falar.
    - Tudo bem... o que você disse faz todo sentido! Rafael sempre mente para se safar e dessa vez não seria diferente. Eu tenho uma proposta para lhe fazer... - Ele concordou e eu continuei. - Quero você como meu assistente particular.
    Ele franziu o cenho.
    - Mas e Margareth?
    - Margareth está sobrecarregada... vou deixá-la com a papelada do escritório e com as decorações! Você fica com os trabalhos externos.
    - Como a tarefa de ir buscar chá?
    - Exato! Porém você precisa saber que tudo tem que ser na hora que eu quero... se estou pedindo é porque preciso naquele momento e se não for fazer agora, nem precisa fazer depois. - Me inclinei um pouco sobre a mesa e continuei em tom baixo. - Saiba também que não vai ser nada simples... não pense que me satisfaço assim tão facilmente! Quero que me surpreenda.
E para minha surpresa ele realmente me surpreendeu. Inclinou-se sobre o outro lado da mesa e disse no mesmo tom que eu:
    - Eu aceito!
    Fixou seu olhar no meu por breves segundos e logo se afastou, voltando à postura que se encontrava antes. Fiz o mesmo em seguida. Abri a primeira gaveta de minha mesa e tirei um cartão de crédito, coloquei sobre a mesma e o empurrei na direção de Benjamin com o dedo indicador.
    - Este é o cartão da empresa... quero que vá ao shopping e compre roupas sociais! Quero também que compre alguns ternos pois vai me acompanhar nas festas socialites e antes que eu me esqueça: lentes de contato! Seus óculos serão um problema a menos para você e eu saio ganhando com isso. - Me recostei na cadeira e o observei pegar o cartão da mesa. - Está dispensado! Esteja aqui às oitos horas de amanhã para começarmos a nos divertir... - Ele acenou com a cabeça concordando e se levantou com calma. Ao segurar a maçaneta, chamei sua atenção de volta, ele virou-se e me olhou. - Esteja pronto, Ben... - Sorri de leve.
    - Estarei, senhorita Hofster! - Sorriu de volta e saiu porta afora.
Suspirei e peguei meu chá, tomei alguns goles pelo canudo e olhei no relógio, 16H10... era hora de dar tchau!


Aiai, será que esse novinho vai abalar as estruturas, gente? Comentem! Não esqueçam de votar, hein... Natasha agradece!

Hofster (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora