Meu ex reaparece

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    Acordei na manhã seguinte com uma tremenda dor de cabeça! O pior que não era só a cabeça que estava doendo... passei a mão sobre minha vagina e a senti inchada, meu útero também estava dolorido, indicando que a noite havia sido boa. Me espreguicei e levantei da cama, lembrando que não tinha visto Benjamin ir embora... devia ter apagado! Caminhei em passos lentos até o banheiro e tomei um banho relaxante, vesti meu roupão branco e comecei a descer as escadas, precisava de um café! Já estava até sentindo o cheiro... Ao entrar na cozinha me deparei com uma cena que eu nunca imaginaria ver um dia: Benjamin só de cueca fazendo panquecas! Fiquei paralisada ali de boca aberta até ele sentir minha presença e se virar na minha direção.
    - Bom dia! – Sorriu largo para mim e eu nem consegui corresponder. A última vez que vi um homem na minha cozinha era meu ex-marido e ele não estava seminu. Benjamin se aproximou com uma caneca nas mãos e me ofereceu. – Café? Está sem açúcar... nada melhor do que isso para curar uma ressaca!
    Peguei a caneca de sua mão e só consegui concordar com um aceno de cabeça, deu meia volta e continuou o que estava fazendo. A cozinha estava uma bagunça, "Que dó da minha empregada!", pensei e continuei observando os movimentos de Benjamin. Colocou as panquecas em dois pratos e levou até a mesa, fazendo um gesto com a mão para que eu o acompanhasse. Caminhei até a mesa me sentando de frente para ele e olhei para o prato... até que estava com uma cara boa!
    - Me desculpe pela bagunça, prometo que vou limpar tudo depois de acabarmos de comer! É que eu não fazia ideia de onde as coisas estavam e... Natasha?
    Levantei os olhos do prato e encarei Benjamin, acho que ainda estava um pouco desconcertada.
    - Tudo bem? – Perguntou.
    - Sim! Sim... tudo ótimo! – Respondi atônita.
    - Você não disse nada até agora!
    - Me desculpe Ben... é que isso tudo é novidade para mim!
    - Café da manhã é novidade para você? – Brincou ele enquanto cortava um pedaço de panqueca e levava à boca.
    - Não isso... mas isso! – Fiz gestos rápidos com a mão livre indicando nós dois sentados à mesa tomando café da manhã juntos depois de uma noite de sexo. Será que ele entendeu tudo o que quis dizer? Olhei para sua cara de paisagem e continuei: - Tem algo errado aqui!
    Coloquei a caneca que ainda estava em minhas mãos sobre a mesa, respirei fundo e fitei seus olhos claros.
    - Pensei que tinha ido embora... – Disse.
    - E eu pensei que quisesse que eu ficasse...
    - Sim... que ficasse para transarmos e não para dormir comigo!
    Silêncio. Benjamin colocou devagar os talheres sobre o prato e se levantou.
    - Então me perdoe... – Disse ele.
    - Não precisa pedir perdão!
    - Sim, preciso... me perdoe por dormir ao seu lado, por bagunçar sua cozinha e por não ter entendido desde o início que sou um homem objeto.
    - Homem objeto? Como assim?
    - Daqueles que você usa e joga fora!
    - Ben, eu não estou te...
    - Me chame de Benjamin, por favor! E me perdoe mais uma vez, senhorita Hofster.
    - Você sabe que não precisa me chamar assim...
    - Eu posso não te chamar pelo sobrenome, Natasha, mas saiba que continuarei sendo só seu assistente pessoal, fazendo os trabalhos externos e nada mais. Então se não precisar de nada vou me retirar, pois tenho aula de natação daqui há uma hora.
    - Pode ir... – Respondi secamente.
    Fiquei ali sentada observando Benjamin vestir a calça e a camisa que estavam pendurados na cadeira ao lado e calçar os sapatos em seguida. Jogou o blazer no braço e me olhou.
    - Com licença...
    Não fiz nenhum gesto. Não falei nada. Apenas o assisti se afastar e sumir do meu campo de visão, finalmente ouvindo o barulho da porta se abrindo e logo depois se fechando. Olhei para o prato de Benjamin e vi somente um único pedaço faltando em sua panqueca, pensei que poderia tê-lo esperado acabar de comer, porém seria pior a despedida. Suspirei e peguei a caneca de volta em minhas mãos, tomei um gole e fiz careta. Horrível! Mas era assim mesmo que eu tinha que tomar. Às vezes, coisas ruins acontecem para nosso próprio bem.
    Horas mais tarde precisava me movimentar, vesti um macacão de academia e fui malhar. Poderia muito bem ter ido a pé, pois a academia ficava à dois quarteirões de distância, mas eu não estava a fim de andar... peguei minha Mercedes e fui de carro mesmo. Chegando lá, fui apresentada a meu novo Personal Trainer que foi logo me colocando na esteira para correr dizendo que eu precisava de meia hora de corrida para desestressar! Como será que ele sabia do meu estresse? Se troquei cinco palavras com ele foi muito. Liguei a esteira na velocidade mínima e comecei a caminhar para aquecer, dois minutos depois já estava correndo na velocidade média. Minha cabeça estava à mil! "Será que fui muito cruel com ele?", pensei. Suspirei profundamente e comecei a olhar para os lados à procura de alguma coisa em que pudesse me focar e esquecer tais pensamentos. Estava na última esteira, ao lado de uma divisória de vidro onde do outro lado crianças treinavam em uma piscina olímpica, nos bancos à esquerda, familiares riam e cochichavam uns com os outros. Segundos depois, um homem de camiseta vermelha escrita "TREINADOR" nas costas pegou um apito e levou à boca, instantaneamente as crianças saíram da água e os adultos se levantaram para recebê-las. Sorri levemente e agradeci por não ter filhos pois não teria paciência de acompanhá-los nessas atividades extracurriculares. A multidão foi se dispersando até sobrar apenas uma criança de aparentemente três anos de idade, sendo enxugada por um rapaz que logo deduzi ser seu pai. A criança vestiu um par de chinelinhos e de repente saiu correndo na direção de uma mulher que estava bem próxima do vidro que a recebeu de braços abertos, novamente deduzi que fosse a mãe. Segundos depois o rapaz se juntou a eles e os dois adultos começaram a conversar e dar risadas, "Bela família!", pensei, até reparar que o rapaz usava óculos. E esse rapaz era Benjamin. Arregalei os olhos e perdi a concentração fazendo meus pés deixarem de seguir o ritmo da esteira e logo tropeçar, caindo sentada no chão.
    - Droga! – Esbravejei.
    Meu Personal veio correndo, examinou meu tornozelo e disse que eu tinha dado um passo em falso torcendo-o, me carregou até o banco mais próximo e me colocou sentada ali trazendo uma bolsa térmica com gelo em seguida. Agradeci sua gentileza e meus olhos se focaram no vidro novamente à procura de Benjamin, mas ele já não estava mais lá...
    - Foi um belo tombo!
    Ao ouvir aquela voz tudo o que fiz foi sorrir. Ele estava bem atrás de mim.
    - Não foi nada bonito!
    Ele riu. Uma risada singela, mas não deixou de ser uma risada. Sentou-se ao meu lado, tirou o gelo de minha mão e puxou meu tornozelo com cuidado colocando sobre sua coxa, encostou a bolsa térmica no lado inchado e depois pressionou.
    - Se você não colocar o gelo no local dolorido ele não faz o efeito desejado, sabia? – Disse sem me olhar.
    - É para isso que tenho você! – Rebati.
    Seus olhos encararam os meus.
    - Não me sinto usado por isso...
    Bufei lentamente, criei coragem e disse finalmente:
    - Ben, me desculpe! Eu não queria...
    A mão dele apareceu de repente entre nós pedindo que eu me calasse.
    - Tudo bem, Natasha... já passou. Foi melhor assim.
    Abaixou a mão e continuou pressionando o gelo em meu tornozelo. Fiquei admirando-o enquanto dava uma de enfermeiro e percebi o quanto ele era um rapaz legal, merecedor de coisas boas. Me lembrei da mulher com a criança e minha curiosidade falou mais alto, então perguntei:
    - Era sua namorada?
    E como se eu tivesse feito a pergunta mais difícil do mundo, Benjamin fez cara de desentendido e ficou em silêncio alguns segundos até entender qual era o assunto.
    - A Mariana? – Soltou uma risada. – Não, não... ela é uma amiga de infância, a considero uma irmã para mim e aquele é o Arthur, filho dela que considero meu sobrinho.
    Concordei com um aceno de cabeça e fiz uma careta ao sentir a pele de meu tornozelo queimar por causa do gelo.
    - Já está bom, obrigada!
    Levei o pé de volta ao chão e o mexi devagar sentindo fisgadas menores de dor. Olhei para Benjamin que me observava atentamente e perguntei:
    - Por que não está usando as lentes?
    Ele sorriu e ajeitou os óculos no rosto.
    - Porque me incomodam... ainda não me acostumei com elas.
    - Mas deveria se acostumar logo... essa coisa que você chama de óculos esconde seus olhos!
    Benjamin sorriu e disse:
    - Pode deixar que no meu horário de expediente vou usá-las...
    Fiquei sem resposta. O observei se levantar e me entregar a bolsa térmica.
     - Até segunda, Natasha.
    - Até...
    Ele passou por mim e foi embora sem olhar para trás. Segundos depois, após respirar fundo e tentar ficar de pé, caminhei mancando até o Personal e devolvi a bolsa com gelo dizendo-lhe
que precisava ir embora. Ao me aproximar do carro não entendi a cena que estava presenciando: Benjamin encostado na minha Mercedes com um largo sorriso no rosto.
    - Você achou mesmo que eu teria coragem de largá-la aí com o pé machucado e sem condições de dirigir? – Disse ele.
    Eu quis rir, bater nele e chamá-lo de idiota, mas não fiz nada disso. Mantive a expressão de meu rosto inalterada e respondi:
    - Eu tenho motorista.
    Sem sentir-se intimidado com minha resposta ele se aproximou e retirou as chaves da minha mão, destravou o alarme e disse:
    - Seu assistente está aqui... para quê motorista?
    Sorriu largo e eu sorri de volta, virou-se na direção do carro e abriu a porta do passageiro, estendeu seu braço e me guiou até o assento do mesmo, logo entrando pelo lado do motorista.
    - Você devia ter visto a sua cara! – Disse ele, rindo.
    Acompanhei sua risada e respondi irônica:
    - Você é uma benção na minha vida...
    - Pode apostar que sim!
    Sorrimos um para o outro e saímos do estacionamento da academia, voltamos dois quarteirões e chegamos na minha casa.
    - Estaciona na garagem, por favor?
    - Claro.
    Sorri e desci do carro, observei o portão eletrônico ser acionado e logo minha Mercedes já estava na garagem, Benjamin voltou para perto de mim do lado de fora antes que o portão se fechasse me devolvendo as chaves e quando pensei em abrir a boca para agradecer, me interrompeu:
    - De nada! Agora descanse esse pé...
    Fiquei olhando para o rosto dele por breves segundos até entender que eu não queria que ele fosse embora, será que aceitaria ficar depois daquele desastroso café da manhã? Não custava nada tentar...
    - Ben...
    Antes mesmo de terminar a frase, Benjamin tirou os óculos e fixou seus olhos claros no meus, fitou-os profundamente e disse baixo:
    - Melhor não...
    Caramba, ele leu meu pensamento! Abaixei meus olhos para o chão e em seguida encontrei os dele novamente, concordei com outro aceno de cabeça e demos as costas um para o outro. Entrei em casa já tirando o tênis e deixando pelo caminho, minha empregada devia odiar isso, mas eu a pagava bem justamente para não ter do que reclamar... faço o que eu quiser na minha casa!
    Após o terceiro degrau a campainha tocou, instantaneamente brotou um sorriso em meu rosto. Tentei rapidamente descer as escadas e fui na direção da porta dizendo assim que a abri:
    - Eu sabia que você...
    Perplexa. Essa era a palavra exata para descrever como fiquei. Um homem alto com alguns cabelos grisalhos e aparentando ter seus quarenta anos de idade me observou da cabeça aos pés.
    - Posso entrar? – Colocou um sorriso nos lábios e agiu como se fôssemos amigos.
    - O que faz aqui? – Perguntei indignada, ignorando seu pedido.
    - Perguntei se posso entrar! – Insistiu.
    - Não, não pode. – Respondi.
    - Sinto sua falta, Natasha...
    - Ótimo... pois continue sentindo!
    Tentei fechar a porta, mas o homem me impediu colocando o pé nela, não me deixando fechá-la. Forcei a mesma desesperadamente, porém sem sucesso, ele era bem mais forte do que eu... Com apenas um empurrão, a porta se escancarou e eu cambaleei para trás, senti uma fisgada de dor em meu pé machucado e me deixei cair no sofá. Ouvi a porta batendo e logo senti um pesado corpo deitar-se sobre o meu, começando a me acariciar, tentei me livrar com uma série de socos no desgraçado, mas mesmo assim ele conseguiu me imobilizar, encarando meu rosto em seguida.
    - Calma, meu anjo... não quero te machucar. – Disse ele.
    - Sai de cima de mim, Rafael! – Gritei.
    - Eu só quero conversar, Nati! - Foda-se você e sua conversa... – Retruquei.
    Ele respirou fundo e disse:
    - Você não mudou nada...
    Rafael soltou meus braços e se afastou retirando seu corpo do meu, me levantei com dificuldade e com a respiração descontrolada, mas mesmo assim disparei a gritar:
    - Sai da minha casa!
    - Nati, por favor...
    - Sai já da minha casa!
    Estiquei o braço o máximo que podia com o dedo indicador apontando para a porta e finalmente vi Rafael desistir... se virou de costas e fez menção de ir embora, mas com um movimento rápido e inesperado se aproximou novamente de mim colocando um lenço sobre meu nariz. Que cheiro horrível eu senti! Tentei gritar, mas o lenço também tapou minha boca e em poucos segundos senti meu corpo se render contra minha vontade, perdendo os sentidos aos poucos, meus olhos ficaram turvos e logo se fecharam fazendo com que meu corpo desfalecesse nos braços dele.
    - Não seu preocupe, anjo... vou cuidar de você!
    Foram as últimas palavras que ouvi antes de me render e desmaiar por completo.


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