Olha ele aí!

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    Seis da manhã. Meu despertador estava tocando no mesmo horário que tocava todos os dias e eu tinha que colocar os pés nele para que parasse. Sim, ele era um tapete-despertador... só comprei porque achei interessante, mas com o passar do tempo já estava me arrependendo de tê-lo comprado porque era muito irritante. Passei a mão na cama e senti falta de alguém, “Espero que ele não esteja fazendo panquecas!”, pensei. Me sentei e coloquei os pés no tapete fazendo-o calar-se instantaneamente, ainda sonolenta e com a visão parcialmente embaçada enxerguei uma página rasgada com letras cursivas apoiada em meu abajur, segurei-a na mão e li atentamente:

“Bom dia, Natasha!

Me desculpe por não estar aí quando você acordar mas saiba que não fugi de fininho... tive que levantar mais cedo pois precisava passar em casa antes de ir trabalhar.

P.S: Não brigue comigo por ter arrancado uma página de sua agenda.

Outro P.S: Acho que assustei sua empregada, ela me pegou seminu na cozinha... tentei explicar, mas não sei se adiantou então desculpe-se com ela por mim mais uma vez!

                                                                    J.”

    Ai, saco... acho que reli umas três vezes antes de criar coragem para falar com minha empregada pois lembrei que transamos sobre a bancada ontem à noite e que nossas roupas ficaram espalhadas pelo chão da cozinha, porém eu precisava passar por ela de qualquer jeito então me levantei e fui para o chuveiro. Uma hora e meia depois já estava pronta com um conjunto social branco básico, saltos de bico fino e com cabelo e maquiagem impecáveis como sempre. Desci as escadas e a encontrei na lavanderia, não era costume meu pedir desculpas, mas aquela mulher prestava serviços a mim há anos então eu devia uma desculpa a ela... eu acho!
    - Dona Marlene? – Chamei.
    Ela parou o que estava fazendo e me olhou com um sorriso no rosto.
    - Oi patroa... Bom dia! Precisa de alguma coisa?
    - Não, tudo bem... na verdade eu queria me desculpar pela cena que a senhora presenciou hoje cedo.
    - Pelas roupas no chão ou pelo homem de cueca?
    Arregalei os olhos espantada com a pergunta e respondi:
    - Pelos dois. Eu não sabia que ele se levantaria primeiro do que eu...
    Ela deu uma singela risada e continuou:
    - Não se preocupe, patroa! Estou acostumada a recolher algumas peças suas pela casa... confesso que me assustei com seu namorado, mas eu entendo, vocês são jovens e tem que aproveitar a vida mesmo!
    Parei para pensar no que tinha acabado de ouvir e perguntei:
    - Ele disse que era meu namorado?
    - Disse! Com todas as letras! – Respondeu ela. – Por quê? Não é não?
    - É que... ainda não sei direito o que somos.
    - Então vai na fé, patroa... porque, com todo respeito, um homem daquele não se pode jogar fora!
    - Ok! – Disse rindo. – Vou seguir seu conselho, dona Marlene... obrigada!
    - Eu é que agradeço! – Respondeu ela com um tom de riso na voz.
    É claro que eu entendi o que ela quis dizer com sua última frase, acho que ela nunca havia visto um homem lindo e seminu ao vivo mas deixei quieto e segui para o trabalho, no caminho fiquei imaginando em como poderia debochar dele a respeito disso.
    Cheguei às oito e quinze na empresa. Geralmente eu era a primeira a chegar, mas como havia perdido uns minutos conversando com minha empregada, me atrasei! Entrei dando bom dia a todos e por último, mas não menos importante, à Margareth que estava de pé e me deu um sorriso de orelha a orelha quando coloquei a mão na maçaneta da porta de minha sala.
    - O que foi Meg? – Perguntei desconfiada.
    Ela começou a rir e respondeu:
    - Abre logo essa porta porque eu quero ver a sua cara!
    - Tem uma surpresa aqui dentro, não é? Você sabe que eu odeio surpresas!
    - Mas não fui eu! Abre logo! – Insistiu ela.
    Respirei fundo e escancarei a porta dando de cara com um enorme buquê de rosas vermelhas que tomava conta de praticamente toda minha mesa. Eu já estava ficando brava por ficar sem palavras constantemente de uns tempos para cá...
    - Mas o quê...? – Não consegui nem terminar a frase.
    - Foi a Joana do RH quem recebeu... – Disse atrás de mim. - Isso é coisa do James? – Perguntou.
    - Isso é coisa do James... – Confirmei.
    - Nossa, então a noite foi muito boa!
    Ignorei seu comentário e perguntei:
    - Será que ele comprou isso hoje? Uma florista não poderia fazer um trabalho desses em tão pouco tempo...
    - Não sei, Nati! Mas me conta, conversaram?
    - Não deu tempo... – Disse rindo.
    - Já entendi... divirta-se com suas flores! – Disse Margareth antes de se virar e sair andando.
    Fechei a porta atrás de mim e caminhei em passos lentos até a cadeira sentando-me nela, “O que eu vou fazer com isso?”, pensei. Disquei o ramal de Margareth e aguardei que atendesse no segundo toque.
    - Oi Nati...
    - Meg, junte alguns estagiários, coloque este buquê dentro de um vaso e acomode-o na recepção... deve ficar bonito como decoração lá na frente e não em cima da minha mesa!
    - Você leu meus pensamentos! Já até sei o que vou fazer...
    - Ótimo, venha logo então.
    Encerrei a chamada, peguei meu celular na bolsa e procurei por James nos contatos, aguardei que tocasse por algumas vezes e quando estava prestes a desistir ele atendeu.
    - Oi Natasha, desculpe a demora! – Disse ele.
    - Oi namorado... – Brinquei.
    Sua risada do outro lado da linha só confirmou que ele havia entendido a brincadeira.
    - Desculpe... eu não sabia o que dizer à ela!
    - Não é só por isso que estou te ligando...
    - Então você me ligou para agradecer meu presentinho...
    - Presentinho? Ele tomou conta da minha mesa!
    - Então você precisa de uma mesa maior!
    - Não havia pensado nessa solução... obrigada! – Disse ironicamente.
    - Não há de quê... – Respondeu ele no mesmo tom.
    Enquanto conversávamos, havia aberto meu e-mail e recebido a resposta do meu contato de uma empresa construtora sobre o prédio na área nobre que estava à venda, dizendo que minha proposta de compra foi aceita então aproveitei a ligação para falar de negócios porque antes de qualquer coisa James era meu cliente e sim, eu estava transando com meu cliente... essa era novidade!
    - Pode passar aqui no seu horário de almoço ou quando estiver disponível? – Perguntei. - Encontrei um prédio à venda e quero que vá comigo para avaliá-lo.
    - Com certeza! Estarei aí em duas horas, pode ser?
    - Claro, te aguardo aqui senhor Watson!
    - Até mais, senhorita Hofster.
    Assim que desliguei, Margareth bateu na porta e entrou com um estagiário para pegar o enorme buquê enquanto os outros preparavam o espaço, logo que saíram a auxiliar de limpeza entrou na sala e limpou as pétalas que estavam sobre a mesa, seguindo eles enquanto limpava o chão. Liguei para o corretor agendando a visita e às onze horas já estávamos na frente do prédio.
    James e eu não tocamos no assunto que nos envolvia em nenhum momento, só seguimos o corretor pelo prédio todo para que ele decidisse se compraria ou não. Eu havia feito uma oferta, porém James se ofereceu para pagar um pouco mais se os papéis da aquisição ficassem prontos até o final da semana para que na próxima já dessem início às reformas. O corretor quase pulou no colo dele de felicidade e prometeu que na sexta de manhã a documentação estaria em minhas mãos pois minha imobiliária é que administraria o imóvel. Tudo acertado, apertamos as mãos e voltamos para a imobiliária, no caminho até minha sala percebi todas as mulheres daquele lugar levantarem os olhos para ver James passando, até Margareth que já o conhecia estava com cara de boba, como se estivesse diante de um deus grego. Entramos no escritório e ficamos ali resolvendo os últimos detalhes burocráticos, no quesito dinheiro nós dois sabíamos tudo.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2020 ⏰

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