Capítulo Um

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BEATRICE JANE HAYES

O outono tem as melhores paisagens para fotografias, mesmo que ninguém consiga apreciar isso. Sou suspeita para falar sobre quão bom o laranja pode ser, mas não posso deixar passar como a paleta de cores dessa estação é bem melhor. A primavera pode ter mais cores, mas são todas desordenadas e parece um arco-íris vomitado no meio das folhas. O outono tem seu charme chique.

Eu descobri tudo isso perdida no tempo em uma das aulas teóricas de Fotografia, encarando as folhas de árvores próximas à janela voarem com o vento. Nunca o mesmo tom de laranja, porque são como os flocos de neve da estação. Decidi que desceria mais tarde para criar um degrade com as folhas para uma fotografia em homenagem ao Halloween.

"Beatrice!" ouço meu nome. Pelo tom de voz, não é a primeira vez que estão chamando minha atenção. "Senhorita Hayes. Algum problema com a tarefa que dei?"

Claro que sim! Eu não ouvi nadinha, Sra. Juliette.

Não me culpe por isso. A professora Juliette consegue ser mais insuportável que meu pai em época de temporada da NHL. Bem, quase isso. Ela é minha professora de Fotografia em Ação, ou seja, fotos em momentos de movimento. As aulas voltaram tem dois meses e ainda não usamos a câmera. Sim, é deplorável.

É a completa desilusão do que deveria ser meu último –e mais maravilhoso –ano na faculdade.

"Beatrice! A senhorita vai ficar sem a nota dos instrumentos se não escolher um tema imediatamente." Grita mais uma vez, irritada.

Olho para minha companheira de turma mais próxima, Brenna, pedindo uma ajuda silenciosa. Ela inclina a cabeça em direção ao quadro e sorri para Juliette, como se estivesse apenas com uma simples dor no pescoço.

Está projetado no quadro! Graças ao bom universo.

Portfólio: TRABALHO DE FOTOGRAFIA EM AÇÃO.

1. capa;

2. sumário;

3. três seguimentos com cinco fotos sequenciais;

4. narração dos acontecimentos em uma lauda;

Devolvo um sorriso à carranca de Juliette. "Quero a Natureza."

Vejo Brenna bater no próprio rosto e encaro a professora novamente, vendo-a bufar ao seu assistente magricela. "O tema já está preenchido."

"Bem..." Finjo uma tosse, ganhando tempo para pensar em uma solução rápida. Eu odeio tanto essa mulher. Olho o panfleto do meu protesto à proteção do Parque dos Vaga-lumes e sinto-me salva pelo gongo. "Eu quero ativismo, então."

Revira os olhos mais uma vez. "Também já está preenchido, senhorita Hayes." Dessa vez, ela não fica parada me matando com olhar. A professora Juliette parte para sua prancheta e rabisca algo fervoroso no papel, completamente fora de si "Você ficou com um tema bem familiar, senhorita Hayes. Hóquei."

MAS QUE PORRA! Hóquei?!

Tudo bem, eu não odeio hóquei. Seria pior se eu tivesse que fotografar um churrasco ou um cemitério –que ao meu ver, são a mesma coisa! –. Mas não sinto amor por isso! Eu estou para hóquei como os ingleses estão para chá. É costumeiro, monótono e normatizado. Nada que me faça ficar animada para tirar fotos sequenciais que surpreenderiam a professora Juliette.

Acredite, eu preciso surpreendê-la. A mulher me odeia.

"Vocês têm quatro semanas. Estão liberados." Juliette anuncia para a felicidade de todos.

Favor MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora