Capítulo Dezessete

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BEATRICE JANE HAYES

O edifício dos Hall-Johnson não poderia ser mais surreal. O saguão tem o pé direito mais alto que já vi, com pessoas abrindo portas e sorrindo o tempo todo. O chão parece ser feito de porcelana e reflete cada uma das pessoas que passam por ele até o elevador.

É surreal pensar em crianças morando em um lugar como esse!

Lustres, vasos, espelhos e pessoas entrando e saindo com óculos colares de pérola. Joias e mais joias. Até porque, quem contestaria a veracidade de uma pedra para uma mulher que anda olhando para cima?

Só é possível perceber que uma roupa é realmente de marca em lugares como esse. Até Ethan usando roupa esportiva parece mais a vontade que eu nas minhas melhores botas de inverno. Se mais da metade do grupo não estivesse em roupas de crocodilos e mergulhados em tinta, eu ficaria intimidada pelo ambiente.

Porque olhe para essa gente! Até o barulho do sapato é diferente no chão.

Todos são engomados e lustrados, inclusive John Hayes.

Olho para meu pai e percebo como ele está arrumado. A camisa social tem pontas de ferro nas golas e a blusa está dentro da calça, enquanto o sobretudo preto cai perfeitamente na silhueta alta. O meu é verde, o que é bom o bastante para me misturar com os Hall-Johnsons fantasiados, mas não chega nem perto da elegância do meu pai.

"Richard!" Ethan deixa o grupo e corre para cumprimentar o porteiro com um abraço apertado. O senhor corresponde ao gesto ,surpreso, mas visivelmente feliz "Você está encolhendo, cara?"

Abrindo um sorriso acolhedor, Richard dá tapinhas no ombro de Ethan e alisa o seu cabelo carinhosamente "Você que nunca parou de crescer, garoto. Como conseguiu passar pela porta?"

"Eu abaixei, claro." Ri em resposta e acolhe mais uma vez o senhor em um abraço "Venha conhecer meus amigos da Universidade! Trouxe gente diferente dessa vez." Em minha direção, Ethan traz o porteiro com um sorriso enorme no rosto "Richard, essa é a Bee."

"A garota do tofu?" pergunta surpreso, cumprimentando-me tão sorridente quanto Ethan.

Olho feio para Ethan e ele dá de ombros reprimindo uma risada. Apesar de ter certeza que foi por pura provocação, não consigo conter meu sorriso ao ver os olhos acinzentados do senhor em minha direção.

"Bee, esse é Richard" Ethan prossegue os cumprimentos "Meu melhor amigo para conversas na madrugada."

"Você quer dizer fofoca." Cheryll interrompe com o celular em mãos, sem parar de digitar "Ethan passa madrugadas fofocando com Richard quando fica aqui."

"São apenas histórias." Richard desmente, mas dá uma piscada discreta "Venham, o elevador de vocês já chegou."

Procuro meu pai pelo ambiente e percebo que restamos apenas nós no enorme saguão. Não sei quando todos desapareceram, mas sigo Ethan e Cheryll para o elevador na companhia de Richard.

Girando a chave de segurança no andar da cobertura, Richard se despede com um cumprimento silencioso e ergue o chapéu em despedida. A porta do elevador fecha e tento não ficar assustada ao perceber quantos andares são.

Por que Manhattan tem edifícios tão altos?

"Seu pai sabe?" Cheryll pergunta guardando o celular no casaco. Depois de alguns segundos, percebo que está falando comigo e repasso a questão tentando compreender "Seu pai sabe que você e meu irmão estão dormindo juntos?"

A bolsa de equipamentos de Ethan despenca do ombro e ele parece pálido com a pergunta. Ele apressasse a apertar o botão de pausa no percurso e ofega assustado. Eu não tenho ideia de que expressão assumir.

Favor MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora