Capítulo Vinte e Dois

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BEATRICE JANE HAYES

Eu ouvi Ethan ir embora do corredor às 5h30 da manhã.

É o primeiro horário da sua rotina e ele teria que sair para correr sem que ninguém o atrapalhasse. Mas mesmo quando ouvi o barulho de bolsas se mexendo, pensei que ele ficaria, chutaria a porta e gritaria para todos do corredor que me ama mais uma vez.

Claro que isso não resolveria o problema, mas tenho que admitir que amoleceria meu coração. Vê-lo obstinado a assumir tudo para todos é apenas mais uma das fantasias que acabei criando na madrugada livre, porque está longe de acontecer. Ethan Hall-Johnson não quer esse tipo de atenção sobre nós.

Ao contrário do que acreditei esse tempo todo, o sujeito não me ama. Não, ele não me ama mesmo! Não quer nada comigo e muito menos um nós. Nada que envolva sair ao sol de mãos dadas e meu pai cor um par de olhos.

Tenho certeza que sua persistência em ficar no corredor a madrugada toda envolveu uma preocupação egocêntrica sobre quanto eu contaria para o meu. Porque ele me conhece bem e sabe, que a primeira coisa que faria nessa situação seria ir para casa chorar e chorar no colo dos meus pais.

Ethan não quer a reputação perfeita destruída por uma garota. Não pode abrir mão dessa parte da vida, porque isso desmoronaria todo o resto.

Eu sabia disso, mas como pude ser tão burra?!

Quero dizer, acreditei cegamente no sujeito sabendo do potencial destrutivo que tínhamos. Vi tudo que ele poderia fazer durante todos os anos ao seu lado e mesmo assim continuei a obedecer ao extinto da tensão sexual.

Eu sabia que era um canalha presunçoso e mesmo assim aceitei o favor mútuo. Idiota, Beatrice! Você á uma idiota!

Meu primeiro contato com Ethan envolveu uma bancada de sanduíches de tofu e ele apenas queria saber o que ele ganharia ao ajudar. Claro, ele não é vegetariano e não se afligiu nenhum pouco com a história de que não tínhamos uma opção de cardápio no refeitório para os vegetarianos.

Sempre esteve escancarado o quanto ele era presunçoso e egoísta. Contudo, eu acreditei na imagem que criamos um do outro na cama. Seu cuidado com o prazer e obstinação em inovar, me fizeram acreditar que poderíamos fazer o mesmo com uma relação.

Ah, eu estava tão errada.

Ethan não faria isso nem por si mesmo.

A ideia de que meu pai o colocaria num espeto é tão concreta em sua mente, que Ethan não vê outra maneira de enfrentar a situação. Eu sou apenas uma coisa que envolve risco demais para uma pessoa que não pode ter problemas no momento.

Entender. Ele me pediu para entender.

Claro que eu entendo. Uma carreira que está sendo calculada desde os cinco anos de idade é algo para se preservar ao máximo, principalmente na reta em que as negociações finalmente iniciaram. Mas não é isso que eu quero.

Talvez o amor simplesmente não baste para mim.

Eu não quero metade de uma pessoa.

Se Ethan não consegue entender essa parte, se é covarde o bastante para fugir da situação com meu pai e colocar o rabo entre as pernas, eu não quero isso também.

Não quero sentimentos limitados ao tempo e espaço, mesmo que isso envolva Ethan Hall-Johnson e toda sua presunção irritantemente atraente.

Devo dar créditos ao cara, ele é insistente. Implorou por duas horas pela maçaneta e com ligações, até que eu simplesmente me trancar no quarto e decidi desligar o celular. Ethan avisou mais três vezes que dormiria na porta se fosse preciso e eu o desafiei a ficar. Ele ficou. Até que a corrida se fez necessária e ele precisou cumprir os horários.

Favor MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora