Capítulo Três

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BEATRICE JANE HAYES

O protesto contra a dedetização no Parque dos Vaga-lumes foi um completo desastre. Meu domingo foi desperdiçado. Detesto admitir que fui vencida, mas no final do dia eu estava com tantas mordidas de carrapatos que eu só parecia uma maldita hipócrita reclamando na enfermaria. O lugar realmente precisa de um controle de carrapatos, porque é um espaço onde há crianças e acaba sendo perigoso.

O que consegui com isso? Bem, uma proposta de que os vaga-lumes ainda estariam lá depois da dedetização. Muitos moradores contribuíram com a causa, alegando que a caça aos vaga-lumes é uma tradição enraizada. Ponto para nós. Ou quase isso.

Bem, é apenas um aviso prévio para compreenderem meu mau-humor ao visitar o Hall-Johnson na minha querida segunda-feira.

Não, não tem nada a ver com o sujeito. É apenas o meu humor que está uma merda. Segundo Dorian, os vaga-lumes me odeiam porque protejo as lesmas. Estar salvando todos os animais possíveis tem seus castigos quando descobrem a cadeia alimentar.

O que está salvando minha pele e me distraindo até o fim do horário do treino é cortar abóboras com minha mãe. Sim, na casa dos meus pais. Eu não moro com eles, porque tenho um quarto solitário na faculdade desde o primeiro ano, quando tive a ideia idiota de que seria bom e independente ficar sozinha. Mas claro, ainda tenho um quarto na casa dos meus pais.

Dorian costuma vir comigo porque simplesmente adora minha mãe. Ser vegetariano não é fácil, mas quando sua mãe é cozinheira e consegue transformar tofu em algo apetitoso para qualquer criança de oito anos, as coisas facilitam. Então, ele aparece quando está a fim de comer bem.

Hoje ele veio apenas cortar abóboras.

"Não fique triste, BeeBee." Minha mãe beija minha bochecha "O Halloween é na sexta-feira e você pode se vestir como um carrapato, se quer fazer amizade com os animais. Ou uma lesma, vaga-lumes –"

Dorian explode em gargalhadas e interrompe minha mãe, que está cozinhando o recheio das abóboras para um doce latino-americano. Ela odeia desperdício e é uma cozinheira excêntrica.

"Desculpe, Sra. Hayes." Pausa a própria risada com a mão nos lábios "Eu definitivamente pagaria para ver a Bea vestida como um carrapato." Ela retribui um sorriso estrelado ao meu amigo, e depois volta sua atenção a panela.

Minha mãe gosta muito de Dorian, se é que percebeu. Ele não é o tipo ideal de garoto vegetariano, ativista e produtor musical em potencial. Não. Dorian é desleixado. Não tem o glamour que uma mãe procura para acompanhar sua filha, mas ele a agrada.

Ele é alto como um jogador de basquete e magro, usa todas as combinações possíveis que as blusas xadrezes podem encontrar e não corta o cabelo tem um tempo. Não chegam a ser compridos, mas estão espetados para todos os lados, provando que ele nunca penteia o ninho preto. Os olhos cinza chamam atenção de todas as meninas que conhecemos, até perceberem que ele é um otário que não liga pra nada.

É complicado explicar, mas minha mãe está certa que Dorian vai se declarar para mim na nossa formatura. Eu simplesmente espero que não. Odiaria ser um dos clichês que apontam mil verdades sobre homens e mulheres podem ser apenas amigos, e desencadear um romance posteriormente.

Simplesmente não.

Meu celular apita e tremo em preguiça, ciente do que vem em seguida. Casa de machos do Ethan. Certo! Mais um deboche para alegrar meu dia fracassado. Desligo o alarme e recolho minhas coisas, limpando a bagunça que fizemos cortando as abóboras na bancada da cozinha.

Favor MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora