Capítulo 3 - Dor

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   O barulho da cadeira se quebrando,meu corpo se batendo ao chão e os copos de vidro se estilhaçando.
   Havia fechado os olhos com o intuito de diminuir a dor na queda ou sei lá. Mas no momento em que meu corpo  se encontrou com o chão minha cabeça explodiu de dor,parecia que meu crânio tinha se quebrado e bateram nele com um martelo repetidamente. Minhas costas tiveram um impacto forte e isso me deixou sem ar,senti como se meus braços fossem perfurados e cortados e rasgados.

   Os cacos de vidro estavam os rasgando.

   Meu pulmão começou a arder e eu puxava o ar desesperadamente.

   Precisava da minha bombinha.

   Eu poderia gritar pelo Matheus pedindo ajudada,mas eu só conseguia gemer de dor e chorar.
Será que Matheus havia escutado algo? A chuva estava forte e provavelmente abafou o som,o que me deixou mais desesperado ainda. Virei minha cabeça para ver se encontrava algum movimento vindo para cá.

   Nada. Apenas o sangue que escorria dos meus braços.

   O que eu iria fazer agora?! Meus pulmões começavam a parar de funcionar e eu não conseguia respira. Eu PRECISAVA da minha bombinha!
Eu comecei a entrar em desespero e fiz um grande esforço para me levantar,meu corpo gritou de dor,minha cabeça não parava de martelar e sentia algo escorrendo pelo meu pescoço. Quando finalmente consegui me manter de pé,mesmo que segurando no mármore da pia para me equilibrar,senti tontura e quase cai novamente.
   Eu comecei a tossir pela falta de ar,meus pulmões doíam,meus olhos pesavam e minha garganta começou a doer pela tosse.

   Preciso de ajuda. Preciso do Matheus ou de qualquer outro.

   Andei me apoiando em paredes e móveis até a sala,eu tropeçava e caia de joelhos algumas vezes mas não podia parar,não agora.
   Quando finalmente cheguei na escada eu me dei conta que não conseguiria subir e nem chamar por Matheus. Eu me desesperei mais ainda,não consegui me equilibrar e cai de joelhos,chorando e tentando,inutilmente,puxar qualquer resquício de oxigênio.

   O que eu iria fazer agora?!

   O telefone da sala! Como eu pude esquecer?! Eu não tinha mais forças para tentar me equilibrar e sair andando,eu poderia ficar ali esperando alguém ou até mesmo morrer,mas isso estava fora de cogitação.
   Comecei a me arrastar até o telefone,meus braços pediam por descanso e gritavam de dor junto com minhas costas,cabeça e pulmões. Eu não aguentava mais.

   Para quem eu ligaria? Mamãe? Papai? Meu pneumologia? Ou para o Matheus?

   Eu continuava chorando de dor e desespero. Não sabia para quem ligar. Mamãe e papai estavam trabalhando e até chegarem em casa,mesmo eu ligando para eles,podia ser tarde demais;meu pneumologia poderia estar em outra consulta e não poderia vir aqui,apenas dar conselhos,o que não adiantaria muita coisa...
Matheus não saberia o que fazer,talvez ele não fizesse nada...

   Eu não aguentava mais,eu estava cansado e com muita dor.
Quando cheguei perto do telefone que ficava em cima de uma mesa,querendo ou não teria que tentar me levantar. Me ajoelhei com muito esforço já que minhas costas gritavam de dor,apoiei meus braços na mesa e fiz um esforço gigantesco para tentar levantar,o que não adiantou.
   Estava fraco e sentia aos poucos meus olhos pesarem.

Maldita falta de ar!

   Eu quase cai de novo e cheguei a conclusão que não conseguiria me levantar.

   Eu iria mesmo morrer desse jeito? Qual seria a reação de Matheus se visse meu corpo?

   - Gabriel?! - Eu virei minha cabeça rapidamente e me arrependi. Parecia que tinham jogado toneladas de pedras em minha cabeça. - O que aconteceu?! Venha aqui!

   Matheus estava desesperado e me pegou no colo correndo escada acima.

   - Mas que porra você fez?! Por que não me chamou,idiota?! - Ele estava preocupado e...bravo?

   Quando chegamos em meu quarto ele me deitou com calma e olhava para os lados desesperado. Ele não sabia o que fazer.

   - Bo-bom... - Eu me esforcei para falar e minha garganta doía - Bo-bom-binha...

   Matheus escutou com dificuldade já que minha voz quase não saia,mas ele logo entendeu.

   - Consegue apontar para onde ela está? Alguma dica ou sei lá?! Não quero que você se esforce. - Ele disse "calmo",ele viu meu desespero,queria me acalmar mesmo estando desesperado também.

   Mesmo com meus braços ainda sangrando e doendo,eu apontei para minha bolsa. Matheus correu até lá e revirou ela jogando cadernos,livros e meu estojo de lá,até que ele achou e correu até mim. Achei que eu iria ter que dar um jeito de aplica-lá,mas não foi necessário,ele aplicou a mesma com facilidade e tirou ela de minha boca no tempo certo. Isso me impressionou,nem minha mãe por vezes conseguia aplicar direito,sempre apertando mais de uma ou duas vezes,deixando mais tempo que o necessário ou menos tempo.

   Minha respiração foi voltando gradativamente,mas as dores de meu corpo e o cansaço ainda permaneciam sem resquícios de que iriam sumir.
   Matheus me olhava preocupado,mesmo seu rosto suavizando um pouco.

   - Co-como... - O loiro não deixou eu terminar. Típico do Matheus.

   - Minha irmãzinha tem asma,as crises dela são constantes e a maioria das vezes eu que aplico a bombinha dela. - Ele explicou e acariciou meus cabelos - Pode me dizer o que aconteceu?

   Eu virei meu rosto para o lado,eu poderia contar o que ocorreu,mas primeiro queria um banho e cuidar daqueles cortes.

   - Me desculpe mas...e-eu posso tomar um banho primeiro? Meus braços estão feridos... - Sussurrei.

   Matheus arregalou os olhos e olhou meus braços vendo o sangue ainda escorrendo e manchando boa parte dos lençóis.

   - Merda! - Ele me pegou no colo e me levou para fora do quarto - Onde fica o banheiro?

   - E-ei! Eu posso ir sozinho! - Eu falei e meu rosto corou. Ele iria mesmo me dar banho?!

   - Gabriel... - Ele suspirou e me olhou com um olhar preocupado - Você passou sei lá quanto tempo com falta de ar,seus braços estão sangrando e creio que não foi apenas isso. Você está fraco e quase desmaiando,não vou te deixar sozinho.

   - Aquela porta a esquerda... - Eu havia me rendido. - Depois disso se quiser,pode dormir aqui,creio que a chuva não vai passar tão cedo...

   - Ah...Obrigado - Matheus andava na direção do banheiro e me segurava em seu colo de modo protetor e cuidadoso,com medo de me machucar - Vou falar com minha mãe sobre isso,dará mais tempo para terminarmos o trabalho.

   Por um momento eu senti minha cabeça dar pontadas muito fortes e deitei a mesma no ombro do Matheus, e ali fiquei até ele me colocar sentado no balcão da pia indo encher a banheira.

   - Você quer que eu...Sabe,tire sua r-roupa? - Matheus perguntou coçando a cabeça e seu rosto ficou corado,o meu não deve ter ficado muito diferente.

   - N-não...só se vire por favor! - Meu rosto estava queimando e Matheus se virou.

   Não queria que ele visse meu corpo! Qual é! Eu pareço uma garota,ele com certeza vai rir ou me zoar!

   Tirei minha blusa com certa relutância e logo depois minha calça e cueca,as duas últimas com certa dificuldade já que continuava sentado.
   Tentei me levantar sozinho e me manter de pé,mas foi um erro terrível... Eu me desequilibre e minhas pernas estavam fracas,acabei caindo de joelhos e batendo minha cabeça no gabinete.

  - Hey! O que você pensa que estava fazendo,seu idiota?! - Matheus diz bravo se virando para mim.



Continua...

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