Capítulo 2_ O primeiro desejo

135 18 0
                                    

Agora sem as roupas, os chapéus e os sapatos pretos de bruxa, com uniformes escolares, as três garotas sentaram-se juntas no refeitório da escola para discutirem o ensaio.

-Não sei se essas verrugas de plástico foram uma boa ideia - resmungou Jo ao se olhar no espelho.- essa aqui no meu queixo grudou demais. Onde você achou isso?

-Na loja de fantasias da cidade - respondeu Melissa.- O mesmo lugar onde achei o nosso figurino. Não é incrível?

-Não é tanto quanto essa rosquinha - disse Danny Cottrill ao passar pela mesa das garotas, roubando uma rosquinha.-

-Ei! - gritou Jenny, pulando em cima dele - Devolva isso!

Danny parou e virou-se para encarar as garotas.

-Por quê? Se eu não devolver, você vai lançar um feitiço em mim? - ele ironizou, enfiando metade da rosquinha roubada na boca.-

-É! - gritou Jenny.- Cuidado, Danny Cottrill, ou vou pegar o meu livro de feitiços e transformar você num sapo feio e gordo. Ops! Quase esqueci, você já é um sapo feio e gordo... - ela riu e foi sentar ao lado das amigas.-

Danny estava tão ocupado rindo da própria piada que nem ouviu o que Jenny falou por último. Ele continuou andando pelo refeitório lotado, dando tapas na nuca dos outros (que não queriam levar um tapa), fazendo as crianças menores que carregavam bandejas tropeçarem e pegando tudo que estava a seu alcance.

-Idiota! - murmurou Jo, voltando a olhar fixamente para o espelho e se esforçando para remover a desagradável verruga.

-Puxa vida, como eu queria que essa coisa saísse - ela resmungou, irritada, quando o pedaço de plástico se soltou de seu queixo e caiu na mesa diante dela.

-Dito e feito - Melissa sorriu.- E nem vi você fazer um feitiço!

Jo sorriu para a amiga.

-É que você não me ouviu pronunciar a palavra mágica "abracadabra". Você pode desejar o que o seu coração quiser: uma pele maravilhosa sem espinhas, uma vaga no time de hóquei, um encontro com o Jonathan...

As três garotas suspiraram ao mesmo tempo.

-Imaginem só! - Melissa tomou fôlego - O dia em que uma de nós conseguir marcar um encontro com o Jonathan será simplesmente um milagre...

Jenny esfregou as unhas. O esmalte preto que ela tinha acabado de remover havia deixado algumas pequenas manchas de cutículas.

-Ótimo ensaio, meninas, não acham? - disse Jo.- Fiquei feliz quando a professora Debby escolheu essa peça, é bem dramática. Dava até para ouvir os alunos mais novos prenderem a respiração hoje quando ensaiamos o primeiro ato.

-Sim - Melissa concordou -, mas devo admitir que foi um alívio tirar o braço falso depois do ensaio. É bem difícil mexer os dedos.

-Podemos mudar isso, eu acho - disse Jenny.- Quer dizer, não existia um braço mecânico na peça original, mas a professora Debby achou que isso deixaria a peça Oh, fantasmas, obedeçam-nos! mais moderna.

-Não, ela está certa - disse Melissa, flexionando a mão e os dedos.- Vamos deixar assim. A peça fica um pouco mais moderna mesmo. Mas a atuação do Jonathan foi brilhante hoje, não acham? Aqueles berros foram realmente de arrepiar, eu mesma quase acreditei nele. Enfim, de onde você disse que a professora tirou esse roteiro? - ela virou-se para Jo.

-Aparentemente, ela o encontrou quando limpava um armário velho na sala de teatro há algumas semanas - disse a amiga.- Ela o leu e gostou da história na hora. Quando olhou em registros antigos da escola, ela percebeu que, embora a peça tenha sido escrita por um ex-aluno cerca de 60 anos atrás, ela nunca foi encenada na escola. Disseram para ela que todas as tentativas anteriores de encenar a peça fracassaram, já que os alunos que faziam os papéis de inimigos das bruxas sempre ficavam com doenças misteriosas. Estranho, não acha?

-Com certeza, e meio assustador - concordou Jenny.-

-Ora, não seja boba - disse Melissa. - Você está levando a sério demais essa conversa de fígados de cachorrinhos e corações de cordeiros. É só uma história.

No mesmo instante, o sinal começou a tocar, anunciando o fim do intervalo. Jenny se abaixou para recolher os livros que tinham caído e os colocou na mochila.

-Preciso ir - ela avisou, depois de beber o suco às pressas.- Duas aulas de história, eu acho... Vejo vocês às quatro.

Jo e Melissa se despediram da amiga e seguiram para o outro lado da escola.

-Duas aulas de matemática, eca! - Melissa reclamou, quando as duas entraram na sala de aula.-

-Sim - cochichou Jo.- Mas pelo menos a vista é boa.

As garotas se sentaram e apoiaram o queixo nas mãos, prontas para contemplarem Jonathan com um olhar sonhador pelo resto da aula.

O Teatro das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora