Capítulo 8_ O fantasma de Geraldine

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Enquanto isso, lá fora no cemitério, as verdadeiras Melissa e Jo tinham encontrado o túmulo de Geraldine Somers. Elas se encontraram justamente no mausoléu, depois de terem explorado todas as sepultuas do cemitério, quando por acaso observaram algumas sepulturas escondidas no canto logo ao lado da entrada. E, com certeza, lá estava ela, claramente gravada com o nome da autora. As garotas se inclinaram, limpando as gotas de chuva dos olhos.

-Geraldine Somers! Finalmente encontramos você -respirou Melissa.-

Ela passou os dedos pelas letras da sepultura, observando as datas de nascimento e de morte da mulher, o tempo todo pensando em como a inscrição era simples e discreta quando comparada às outras. Havia um vaso de flores ao pé da sepultura, e Melissa se perguntou instintivamente quem as teria colocado ali.

-Então vocês me encontraram, garotas. - disse uma voz suave e sussurrante.-

Jo e Melissa olharam intrigadas uma para a outra.

-Quem disse isso? Jenny? - as garotas olharam ao redor.-

O vento uivante e o constante barulho da chuva forte caindo ecoavam no ouvido das garotas. Melissa afastou o cabelo do rosto e sorriu para Jo.

-Estamos ouvindo coisas. O vento está brincando com a gente, é só isso.

Porém, a voz veio de novo, ainda suave, mas desta vez um pouco mais clara.

-Eu estava esperando vocês, garotas. Estou muito contente por finalmente estarem aqui.

As duas garotas se levantaram prontamente, quase caindo de tanta pressa, e se agarraram.

-De onde isso está vindo? - Jo perguntou.- Ouço uma voz, mas não vejo ninguém.

Ela se segurou em Melissa, apavorada.

-Por favor, não tenham medo, garotas - dizia a voz, agora mais forte e mais insistente.- Eu realmente preciso falar com vocês. Por favor, inclinem-se para perto da lápide de novo, preciso que vocês me escutem com muita atenção.

Melissa e Jo se entreolharam espantadas, mas, principalmente por não saber o que fazer, elas resolveram fazer o que lhes era pedido. Deram um passo a frente e se ajoelharam em frente à lápide de Geraldine Somers. Assim que as duas se ajoelharam na grama úmida, elas ouviram um suspiro de alívio.

-Obrigada, garotas, eu desejei muito que fossem vocês as pessoas que me ajudariam, então, por favor, ouçam com muita atenção o que eu vou dizer. Sou o fantasma de Geraldine Somers. Não tenho mais o poder de me materializar. O meu fantasma enfraqueceu bastante com o passar dos anos, e receio que vocês não consigam me ver. Vocês podem, no entanto, ouvir a minha voz e espero que, assim que eu tiver contado a minha história, vocês me ajudem.

A chuva caía sobre a sombra das garotas ajoelhadas e o céu estava completamente preto. Melissa e Jo estavam com medo. Não queriam mais ficar no cemitério. Queriam esquecer toda aquela ideia de encontrar o túmulo da autora. Queriam esquecer a peça inteira. Mas, antes que as garotas conseguissem se mexer, a voz falou de novo.

-Vocês precisam saber que fui eu quem escreveu a peça Oh, fantasmas, obedeçam-nos!. Sei que vocês duas e a sua amiga estão representando os papéis das três bruxas, e é por isso que preciso falar com vocês. Como vocês sabem, embora a peça tenha sido escrita há mais de 60 anos, ela jamais foi encenada no palco. Sempre há uma série de acidentes que recaem sobre quem tenta me ajudar a impedir as bruxas do mal de concluírem o plano delas. Todas as pessoas que já representaram os papéis das bruxas até agora ficaram felizes de realizarem seus desejos, e perderam completamente o interesse em me ajudar a quebrar a maldição das bruxas. Então, quando eu soube que vocês não ficaram felizes com os acontecimentos recentes, bem, foi como um sopro de vida - ela parou para pensar um pouco.- É tudo culpa minha - ela recomeçou.- Eu escrevi as palavras da peça e, querendo ou não, eu conjurei essas irmãs nefastas e somente eu posso devolvê-las para a escuridão à qual elas pertencem. Claro que não posso fazer isso pessoalmente, então me coloco a disposição de vocês, e peço, ou melhor, imploro que vocês me ajudem.

-Mas o que podemos fazer? - Melissa perguntou.- As bruxas, ou fantasmas, não podem ser reais, não é?

Ela olhou para Jo. Jo não respondeu, mas seu olhar disse tudo.

-É, eu sei - Melissa concordou, com ironia.- Estou falando com uma lápide. As coisas não poderiam ser mais reais que isso.

-Não temos muito tempo, garotas - a voz recomeçou.- Então, por favor, ouçam o que tenho a dizer. No passado, as garotas que faziam os papéis das bruxas realmente incorporavam as personagens. Crianças decentes e bem educadas transformavam-se em pessoas más, que se acostumavam com o fato de seus desejos se tornarem realidade. No decorrer dos ensaios, qualquer pessoa que contrariasse essas garotas sofria algum acidente desagradável. Verifiquem nos registros da escola, vocês verão que estou falando a verdade. Porém, se a peça chegar à noite de estreia, ela não deve ser encenada da maneira como foi escrita. Se isso acontecer, toda a plateia ficará enfeitiçada. O que precisamos fazer, sem que ninguém saiba, é mudar algumas partes da peça, para quebrar o feitiço e enviar essas bruxas malvadas para outro lugar. Se fizerem isso, vocês conseguirão libertar o meu fantasma aprisionado. Não posso descansar enquanto as bruxas estiverem fazendo sua obra maligna.

Ela parou. Melissa enxugou um pouco de chuva no rosto e sentou-se novamente.

-Sei que é muita informação para vocês entenderem. E sei como essa história toda deve parecer inacreditável, mas eu imploro a vocês. Vocês vão me ajudar?

Antes que pudessem responder, as garotas ouviram um grito alto vindo do mausoléu. Elas se levantaram imediatamente.

-Jenny!

O Teatro das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora