Nada havia me preparado para o que encontrei depois que abri aquela porta. É claro que eu esperava encontrar Michelle, e é claro que a encontrei. O problema foi como a encontrei. Ela estava de costas para mim, apenas de sutiã e calcinha, tirando a calça. Ou seja, estava com a visão do paraíso a minha frente. Aquelas belas nádegas. Dei um gritinho de surpresa e tampei meus olhos; uma falsa declaração de pureza, um falso horror diante do que era supostamente impuro. Diante do que eu não poderia ver. Nenhuma de nós duas éramos pura. E o que faríamos e estávamos fazendo não seria nada puro. Creio que se houvesse um céu e um inferno de verdade, iríamos para o inferno – mas antes, passaríamos pelo céu. Cada um com seus demônios.
—Desculpe — disse rapidamente, ainda com a minha visão coberta. Apesar de ter quase a certeza do que faríamos, ainda tinha que manter a educação. — Devo sair? E quando você terminar eu entro...
— Não — ela me interrompeu. Tirei a mão de frente do rosto. — Acho que não me importo.
Entrei e me virei para fechar a porta. Demorei mais do que o necessário; dei um longo suspiro, tentando me manter calma. "Sua vontade que vai tomar conta agora", Marcela, disse a mim mesma. Tenha calma.
Tinha quase certeza que estava aceitando bem demais toda essa ideia, assim como Michelle. Bem demais. Talvez eu devesse começar a duvidar de algumas coisas.
— Você não acha... — comecei, meio incerta e ainda virada para porta. Dei um suspiro e me virei. — Que estamos aceitando bem demais toda essa situação?
Rápido demais, pensei. Aceitamos bem demais e rápido demais. Mas tudo aquilo estava indo rápido demais, então era justo.
Michelle não pareceu confusa. Estranhei, já que pensava que ela estava enfrentando todo aquele dilema moral/religioso, aquele não era seu mundo.
— Eu acho que você está pensando demais. Eu não me importo, e parece que você também não. — Ela se aproximou de mim. Suas palavras, então, viraram sussurros — Você veio até aqui. Nesse horário. Quase imediatamente.
Xeque-mate, Michelle. Eu estava tentando achar uma desculpa para tudo isso que estava fazendo. Se eu tentava achar uma desculpa, então não estava tão certa quanto a isso. E só talvez isso não é o que eu quero. Então porque eu vim? Oh, meu Deus.
— Eu sei, exatamente, o que você quer, Marcela — Michelle segurou minha mão, com a outra colocou meu cabelo solto atrás da orelha. Ainda bem que ela sabe, porque eu não sei.
Ela estava só com as roupas íntimas. Pude ver a tatuagem em homenagem a seu marido em seu pulso quando colocou meu cabelo para trás.
— E eles? — perguntei, seguindo o fluxo do ambiente, sussurrando. Eu não iria acabar com o clima. Pelo menos eu não queria, mas a pergunta que eu fiz talvez acabasse. Ela sabia de quem eu falava.
— Esqueça eles. Essa noite será só nos duas... — ela beijou meu pescoço. Suspirei. Se demorou ali. Senti o perfume de seu xampu. Era refrescante. Coloquei minhas mãos em sua cintura. A puxei para mais perto. Eu iria acabar com a teoria daquele físico. Dois corpos poderiam sim ocupar um mesmo espaço.
Delicadamente e devagar, subi minhas mãos pela sua cintura, passando pela lateral e parando em seus seios. Fiz tudo devagar, e a senti estremecer e a escutei dando um suspiro. Apertei seus seios por cima do sutiã e coloquei minhas mãos cada uma em um lado de seu rosto. Trouxe seu rosto para mais perto do meu. Suas mãos estavam em minha cintura.
Olhei em seus olhos.
— Me perdoe, eu pequei — ela disse, sem tirar os olhos do meu. Eu sabia que ela não estava falando comigo, apesar da frase parecer algo que se diria depois de uma traição – ah, mas ela havia traído alguém e esse alguém não era eu.
A beijei.
Ela traiu seu marido, sua família e a Deus.
Eu também havia traído.
Era doce e refrescante, talvez ela tivesse acabado de escovar os dentes. A empurrei delicadamente para a cama, a deitei. A deixei deitada, enquanto ficava de quatro sobre ela. Suas mãos em volta do meu pescoço e minhas mãos apoiadas na cama. Olhei em seus olhos novamente. Rápido demais, pensei, mas não conseguia parar. Algo que fazia seguir em diante, sem pensar que haveria consequências. A única consequência que eu conseguia pensar era em como meu corpo reagiria quando ela me tocasse, ou como o corpo dela reagia quando eu a tocasse.
— Nunca fiz isso antes — disse, preocupada. — Quer dizer, não com uma mulher antes.
A verdade é que eu queria dizer que nunca havia feito isso com quem eu gostava antes. Todas minhas relações eram rápidas e sem sentimentos. Porém, não deixava de ser minha primeira vez com uma mulher também.
Se o presidente eleito visse como sua estimada esposa se encontrasse agora... Cairia morto e quem sabe, a oposição iria me saudar porque eu os livrei de um mal.
— Eu também não.
Tinha medo de que se não aproveitasse o momento eu poderia a perder. No sentindo de que nunca mais poderia ter momentos assim com ela. Não sei dizer ao certo como ela se sentia, portanto, não poderia deduzir se ela gostaria de repetir o que fizemos (isso se fôssemos fazer alguma coisa), e dessa vez fazendo uma coisa a mais. Se eu não fizesse nada agora e tivesse outra chance, poderia estudar a coisa toda. Chamo de coisa porque não sei ao certo o que é toda essa... coisa? Mas também tinha medo de fazer tudo errado. De Michelle acabar não gostando e que se ela fosse pensar melhor, não era uma boa ideia beijar a ex primeira-dama e que ela talvez ela contasse para o marido e por aí vai. Todos os cenários pareciam caóticos e terminar mal.
— Você está pensando demais, Marcela — sussurrou. — Tenho medo também, mas por agora vamos esquecer.
Ela leu meus pensamentos?
Me levantei.
— Devo tirar minhas roupas? — Estava envergonhada. Não sabia o que faria.
— Não se você não quiser. Podemos ficar só, sabe, beijando.
Sorri para ela e me sentei na cama, e Michelle se sentou ao meu lado. Era uma boa ideia. Se houvesse a possibilidade de uma segunda vez eu com certeza estaria preparada.
Concordei com ela. Sem pressa. E eu sabia que haveria uma segunda vez quando ela sorriu para mim. E teria mais outras vezes. Até que alguém descobrisse ou um de duas desistisse. O que eu achava difícil.
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primeira-dama
RomanceMarcela Temer sempre foi alheia ao que acontecia na política brasileira, não podia se importar menos. Apenas uma coisa importava: Michelle. A esposa do presidente eleito, primeira dama, a qual desenvolveu uma pequena paixão. E quando o presidente el...