tudo mudou

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A iluminação do quarto era apenas do poste do lado de fora. Estava calmo. O quarto era preenchido com os gemidos contidos de Michelle. E meus. Vez ou outra passava um carro lá fora, levando o barulho do motor até o quarto. Estávamos no quarto andar, Michelle teve a coragem de abrir a janela, "está muito quente aqui" disse com um sorriso malicioso no rosto, entretanto as cortinas estavam fechadas. Era uma cortina muito bonita, com duas camadas – uma branca, transparente, e outra um cinza claro.

Michelle se aproximou de mim, eu estava deitada, e ela ainda em cima de mim. Virei para o lado, esperando que ela entendesse a mensagem. E entendeu. Deu leves beijos em meu pescoço e sugava levemente algumas partes. Ela sabia o que aconteceria caso alguém visse qualquer vestígio em mim que não representasse a pureza. Olhei para a janela, temendo que alguém aparecesse, do nada.

"Você está no quarto andar" disse para mim. "Ninguém vai aparecer".

A iluminação estava fraca, mas eu não precisava de luz. Não sabia o que estava fazendo, então fiz o que pensei que gostaria que ela fizesse comigo. Puxei seu rosto, mais uma vez. Beijei seus lábios carinhosamente. Deslizei minha mão por seu corpo.

— Não tenho medo — sussurrou em meu ouvido, como se tivéssemos que falar baixo. — Peça o que quiser.

Sua mão estava em minha virilha, ela se afastou para trás, ficando sob minhas coxas. Puxou apenas um pouco da minha calça, revelando minha peça intima de baixo. E ela foi se afastando, mais e mais, puxando minha calça. Me apoiei nos cotovelos, levantei o tronco para facilitar a 'ajuda' que ela estava me dando. Desceu da cama, os cabelos bagunçados, caindo no rosto, sendo iluminada apenas pela pouca luz que ousava transpassar a cortina. Um vento entrou pela janela, seus cabelos se balançaram na mesma sintonia que o vento. Puxou minha calça.

— Como uma vadia — disse, engatinhando até o lugar que ela queria. Mesmo ainda coberta, ela beijou ali. Talvez ela tivesse assistido algum filme erótico, ou pornô – para saber como se faz. Eu não tive coragem de assistir, me senti impura, cometendo um pecado grave. Queria perguntar se ela sabia o que estava fazendo, mas sabia que não devia. A resposta não valeria nada e pouco importava. Se esticou até meu rosto, deixando a mão para trás, que entrava devagar dentro do pano. Senti espasmos só de pensar. Olhando em meus olhos, ela massageou meu clitóris. Abri a boca, minimamente.

Eu iria falar para ela sobre a imagem que tive. Dela puxando meus cabelos, enquanto eu estava de quatro. Eu iria, mas não consegui. Seus olhos estavam fixos no meu, e eu com a boca aberta, a olhando. Como se fosse uma deusa. Como se fosse minha Deusa. Digna de minha adoração e devoção.

— Posso? — perguntou.

Mordi o lábio, fechei os olhos. Aproveitei um pouco mais a massagem que ela ainda fazia. Inclinei a cabeça para trás. Balancei a cabeça.

Ela colocou um dedo dentro de mim. Mesmo tendo passado por isso anteriormente, dessa vez foi diferente. Foi como se eu tivesse perdendo a virgindade de novo. Em todo momento, ainda estava apoiada nos cotovelos. E quando ela colocou mais um dedo em mim, tirei a mão e segurei meu ombro.

Muito bom. Bom demais. Não sei o que ela estava fazendo. Não sei se era porque era ela que estava fazendo.

Me sentei na cama, tirando seus dedos de dentro de mim. Tirei a blusa, e o sutiã. Ela havia se sentado com os joelhos no colchão. E assim que me viu tirando a blusa, tirou a sua também.

Jair Bolsonaro estava idolatrando o deus errado. O verdadeiro deus estava na minha frente.

Seu rosto estava vermelho, seus seios eram perfeitos, delicadamente posicionados dentro do sutiã, que era de um tecido fino e quase transparente. Me perguntei se era proposital. Uma dama não usaria menos do que um sutiã com sustentação adequada e que tivesse a espessura adequada para não deixar nada a mostra. Percebi que ela estava excitada.

Não era nossa primeira vez. Eu sabia como me agradar e ela sabia o que a agradava. Não esperava que fosse complicado e vergonhoso. Não éramos adolescentes. Já tínhamos feitos antes, com homens. Não era a mesma coisa, mas dava uma noção básica. Tínhamos noção da anatomia feminina e iríamos seguir os instintos e os sinais.

Ela tirou a última peça de roupa minha. Colocou minhas pernas uma em cada ombro.

Tentei me acalmar, dizendo que não seria nada demais. E repetindo esse mantra, tentei manter a calma. Sua língua entrou em contato com minha intimidade e ela sabia exatamente onde atacar.

— Não! — Não disse isso porque não queria, e sim porque na minha tentativa de manter a calma eu me dizia "não será nada demais, apenas relaxe", o 'não' saiu em voz alta, deixando o resto da frase apenas na minha cabeça. No meu torpor na perspectiva de como seria a sensação e do futuro prazer, olhava para o teto, e nessa hora eu deixei o teto para lá e olhei para Michelle. Ela levantou o rosto, revelando-se acima da minha virilha como um sol nascendo atrás do monte, de uma montanha, tanto faz.

Michelle olhou para mim. Sem jeito. Com um olhar de desculpas.

— Não, não — tentei consertar a situação — Pode continuar. Sabe, o momento...

Eu não queria me explicar. Tinha dito que estava tudo bem e dei meu consenso. Ela sorriu e voltou, se pondo atrás. Eu via apenas o topo de sua cabeça.

Não precisei dizer nada. Ela sabia o que fazia. Em algum momento, ela havia agarrado meu seio, e estava o apertando; estimulando o mamilo. E ela ficou lá em baixo, beijando meus lábios.

E eu senti vindo.

Um tremor nas pernas. Mordi os lábios.

Sim, sim, sim. Mais forte.

Segurei os cabelos de Michelle, e quando gozei os puxei e não percebi. Me contorci um pouco na cama.

Tão bom, tão bom, tão bom.

Pareceu a mim, que derreti. De prazer. Suspirei e gemi, quando ela deu mais algumas lambidas.

O quarto estava fervendo.

Suor.

Mais.

De novo.

Eu queria mais. Queria mais de Michelle. Queria dar para Michelle. Queria mostrar a ela que o céu estava aqui.

Puxei seu rosto para mim. Não me importei. A beijei. De novo. Ela passou por entre minhas pernas e havia deitado em cima de meu torso.

— Eu vou te dar qualquer coisa, Michelle.

Naquele momento eu soube que quaisquer que fossem as consequências eu continuaria com Michelle. E que sua religião fosse para o inferno. Ela me fez sentir o que ninguém nunca foi capaz de proporcionar para mim.

Voltei para casa ainda naquela noite. Era madrugada, contudo. Michel ainda estava dormindo, felizmente.

Não conseguia parar de pensar em Michelle e sua língua mágica e tive que me segurar para não voltar para o hotel. Perdi o sono. Era muita adrenalina para eu ter algum resquício de sono. Não queria usar o celular, porque tinha anseio de que eu se o pegasse iria para Michelle, por isso tentei ficar distraída com a televisão. E Deus sabe o quanto não queria sonhar – se eu sonhasse com a coisa errada, sabe-se lá o que poderia acontecer.

— Jair Bolsonaro faleceu agora, nessa madrugada — olhei assustada para televisão. O que? — Em decorrência da falência múltiplas dos órgãos, o então presidente eleito, teve sua morte confirmada...

Não escutei mais nada.

Jair Bolsonaro estava morto.

E até eu percebi a onda de revolta que iria surgir. Agora ou nunca. O Brasil iria morrer pelas mãos do seu próprio povo.

Fiz menção de pegar o celular e ligar para Michelle. Queria saber se ela estava bem. Queria saber como seria daqui para frente. Michelle agora não teria nada a perder e talvez, ela não estivesse mais com medo e exigiria isso de mim. Não, não, não. Não seria assim. Ela me entenderia, como me entendeu na hora do sexo. Ela me daria um tempo. Ela se daria um tempo. Não iríamos nos deixar de ver, não mesmo. Apenas não exigiríamos nada uma da outra – pelo menos, era o que eu esperava, pelo menos por agora.

Contudo não peguei o celular para ligar. Em vez disso, corri para meu quarto. Acordei Michel.

— Ele morreu — disse baixo. Ele ainda despertava do sono — Jair Bolsonaro morreu.

primeira-damaOnde histórias criam vida. Descubra agora