Era uma ideia um tanto quanto estúpida, se parasse para pensar. Cheia de furos e quase, senão totalmente, impossível de ser completada. Como que Michel iria se casar com Michelle? Ele não podia simplesmente ir no cartório assinar uns papéis e achar que vai tudo bem, e que ele vai ser presidente de novo. O segundo na linha seria o Mourão, acho – não entendo de política. E mesmo se o Mourão não assumisse, o povo iria para as urnas de novo; ou alguma coisa assim. Seria legalmente e fisicamente impossível para Michel se tornar presidente apenas se casando com a primeira-dama. Nesse, caso ex primeira-dama.
Além de fatores legais, havia o fator Marcela. Eu. Como que ele faria isso comigo? Eu seria nada. Eu me tornaria nada. Mesmo que eu ainda tivesse encontros com Michelle, eu ainda seria apenas uma diversão entre Michelle e Michel. Uma piada interna. Seria mais um segredo. Eu não me sujeitaria a isso. Ficar com Michelle enquanto ainda casada com Michel foi um risco que assumi – eu decidi, eu disse sim. Eu decidi que seriamos alguma coisa. E ela também.
Esse contrato que Michel pretende, não aceitaria. Não é mutuo. Me apoiei no balcão e observei dos dois conversarem como amigos. Ele disse um longo plano, cheio de falhas e Michelle ouvia atentamente, como se fosse de seu interesse. E eu sabia que não era.
Nunca havia percebido que Michelle era voraz. Foi um lado que só percebi depois que tive o que queria, depois que eu a tive. Antes disso eu estava mergulhada em pensamentos confusos e só conseguia pensar em consequências e como eu queria aquilo.
Estava inebriada pela sensação Michelle e não percebia como ela era verdadeiramente. Fui enfeitiçada por uma versão que inventei de Michelle. E talvez Michel estivesse se sentindo do mesmo jeito. Enfeitiçado pelo que pode acontecer não e percebe a realidade.
Me peguei pensando que talvez Michelle não quisesse nada comigo. Eu era só um peão em um jogo intricado e com apenas um final possível: ela conseguia o que quer que quisesse. E eu era uma dessas coisas que ela queria. Ou um meio de chegar a algo que ela queira, ou queria (não sei seus objetivos). Não conseguia pensar em nenhuma outra possibilidade e, considerando o cenário atual, a mais provável seria a segunda opção.
Eu não escutava uma palavra do que diziam, estava perdida em conclusões precipitadas e cenários impossíveis que bem poderia se tornar possíveis. Poderiam se tornar reais se Michelle assim o quisesse.
Nem por um momento pensei que Michelle tivesse um coração de gelo, ou que não tivesse coração algum. Ela era uma mulher atrás de seus objetivos e faria de tudo para consegui-los. Era admirável. Mas quando comecei a pensar era um empecilho em seu objetivo principal, me senti incomodada.
Tudo o que senti, tudo o que demostrei, tudo que Michelle me mostrou.... Fazia tudo parte de um plano? Ou eu era uma variável que pôde ser facilmente controlada?
Michel me chamou. Não prestei atenção na conversa, mas sabia da resposta que daria.
— Não — disse, sem ao menos escutar o que ele tinha a dizer, sem ao menos escutar toda a conversa — Não concordo com isso, e esperava mais de você, querido.
— Michelle você escutou? É uma chance eu ter poder de novo... — Michel começou. Ele parecia desesperado demais. E ele disse 'eu', não nós. Eu. E com isso tive certeza de que não era nada.
Em algum momento eu poderia ter sido algo para Michel Temer, mas fui trocada. Marcar seu nome em minha pele, ter uma família e o apoiar em tudo não foi o bastante para segurar a mim. Sei que disse que ele não valia nada para mim, mas me sentir usada foi pior. Sempre fiz o que era necessário, sempre procurei o agradar e agora fui jogada de lado.
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primeira-dama
RomanceMarcela Temer sempre foi alheia ao que acontecia na política brasileira, não podia se importar menos. Apenas uma coisa importava: Michelle. A esposa do presidente eleito, primeira dama, a qual desenvolveu uma pequena paixão. E quando o presidente el...