08 - Aquele em que a cor favorita dela é azul;

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Janis segurava um cartaz com o dobro do tamanho dela, com uma outra mulher. Elas estavam com o rosto pintado e, no cartaz, pediam igualdade salarial.

Eu me senti um merda. Eu nunca sequer havia pensado nessas questões. E, bem, eu não pensaria agora porque nem sabia o que pensar, por onde começar. Então mulheres não ganhavam o mesmo que os homens? Eu não sabia disso.

Ela me viu e acenou pra mim sorrindo. Parecia contente. Provavelmente ela me odiava só pelo fato de eu ser homem e ter esse privilégio de não precisar sair na rua exigir igualdade salarial. E eu nunca sequer havia percebido que eu tinha esse privilégio. Eu acenei de volta para ela, sentindo muita vergonha de ser eu. Ela ignorou minha presença e seguiu adiante, caminhando de braços dados com as outras mulheres. Eu fui para casa.

Em casa, Freddie estava compondo no piano. Decidi não interromper o processo dele. Resolvi cuidar das minhas plantas. A cada quinze dias eu colocava algum adubo na terra. Eu tinha cerca de quinze vasos com plantas em casa, todas folhagens. Eu adoro folhagens. Era praticamente a única coisa que tínhamos de decoração, e eu achava lindo.

Mexer na terra me colocou em um estado de contemplação, e, infelizmente estava frio demais para eu lidar com as plantas no quintal, inclusive, pelo que eu observava pela janela, estava chovendo. Pensei em Janis. Tive meus pensamentos interrompidos pelo telefone.

"Olá" eu disse.

"Ah, Roger, que bom que você está em casa!" era Janis "Você tem planos para hoje à noite?" TODOS os músculos do meu corpo contraíram. Todos eles.

"... não" eu pensei mais do que eu gostaria.

"Você gostaria de jantar comigo? Eu estou com algumas amigas e elas me deixariam em casa, mas, pensei que em casa não temos nada para comer e talvez..."

"Eu gostaria sim. Onde?"

"... sabe onde você me viu hoje mais cedo? Tem uma pizzaria na esquina, gosto dali"

"Ok. Eu vejo você lá em trinta minutos"

"Ok, Roger, eu estarei esperando você" a voz dela chegou em mim macia como pelúcia.

Eu coloquei o telefone no gancho sorrindo como o grande idiota que eu sou. Eu estava escorado na parede, olhando para o nada com o maior sorriso que eu tinha nos lábios.

"O que motiva esse lindo sorriso no seu rosto, meu querido Roger?" ouvi Freddie falar com a voz baixa e mansa, daquele jeito suave que só ele sabe falar. Eu queria beijar ele de tão feliz que eu estava, só com a mera ilusão de que Janis e eu sairíamos juntos pela primeira vez e eu nem precisei convidá-la. Ela me convidou antes.

"Janis. Ela quer que eu a encontre para comer uma pizza"

"Ah, Roger, você apaixonado é o motivo da minha existência" ele caminhou até onde eu estava e colocou as mãos em meus braços "... você está fofo demais!"

"Eu não estou apaixonado, Freddie, eu só gosto dela. Acho que ela é uma pessoa... legal"

Ele revirou os olhos e deu uma gargalhada leve, aquelas gargalhadas que a gente sente no baixo ventre. Ele se aproximou do meu rosto e beijou minha bochecha.

"Eu sairei de novo hoje... e só voltarei... não sei quando"

Foi quando percebi: Freddie estava ausente por muito tempo ultimamente.

"Freddie você está namorando?"

"Não, querido, eu só... tenho saído com uma pessoa, é só isso" ele sorriu pro chão. Freddie estava gostando de alguém, eu sabia disso. Mas eu também estava então, não fiz piadas. Não dessa vez.

Vicious | Roger TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora