Ninguém me suportava mais, nem mesmo eu.
Nos últimos dias tudo que eu tenho feito é reclamar e chorar as pitangas do meu fracasso para todos em minha volta – Freddie, Brian e John; não tenho visto muitas pessoas além deles, na verdade, então, precisavam aguentar tudo sozinhos.
De um modo geral, eu estava solitário.
Brian estava mais ríspido comigo, como se eu o tivesse atacado pessoalmente. Ele não mais perdia seu tempo tentando me consolar ou mesmo me aconselhar porque, afinal, eu não seguia os conselhos dele e justamente por isso estava na merda. Contudo, ainda assim, doía a forma com que ele estava me tratando, talvez ele não percebesse, mas aquilo só piorava as coisas.
John tem sido meu melhor amigo nesse período, ele me ouve atentamente e não me julga pelo que fiz – é o único –, tenta me ajudar sem listar uma série de regras que preciso seguir para que as coisas melhorem. O que é bom. Porque não é como se eu não tentasse.
Na verdade, só com ele consigo conversar sem sentir vergonha de mim mesmo.
Freddie não tem passado muito tempo em casa – são tantas festas, afinal –, e logo se mudaria para uma nova, que ele escolheu recentemente; era absolutamente linda, grande e cara, tudo o que ele merecia. Eu também estava à procura de uma casa para mim, mas ainda não havia encontrado nada que me brilhasse os olhos de verdade... talvez se eu tentar daqui algumas semanas eu consiga, nesse momento, coisa alguma me faz brilhar os olhos.
Já era o dia 20 de maio, uma quinta-feira de clima agradável, e logo pela manhã eu saí de casa rumo ao norte para visitar a minha mãe. Haveria uma reunião de família que aparentemente era importante que eu participasse, e eu queria levar os presentes que comprei. Nos últimos dias, na Austrália, acabei comprando presentes para Clare – minha irmã – também.
Então foram vinte dias de 'tempo' com a Janis até agora. Vinte longos e dolorosos dias.
Se você me acompanhou até aqui, você provavelmente me odeia. E eu não te julgo por isso. Eu também me odeio, e pensar que estou realmente sozinho nessa só piora tudo. Até Brian me abandonou, e ele sempre é a única pessoa que não me abandona. Se ele me abandonou, então eu definitivamente não tenho ninguém.
Freddie está sozinho também, do jeito dele, mas ele não está sofrendo por isso, o que é admirável; na verdade, desde Kevin, ele melhorou bastante; eu sofro pela culpa de não ter conseguido me resolver a tempo. E, no fundo, eu ainda acreditava que ela me perdoaria e eu teria chance de conquista-la de novo, ou, pelo menos, eu queria acreditar.
O que mais doía era saber que ela de fato gostava de mim, e fez o que fez justamente por isso. Gostava muito de mim para aceitar o pouco que eu estava disposto a dar. Ficava me perguntando se ela eventualmente pensava em mim ou lembrava de nós, olhava para as fotos ou para os desenhos...
Você está um lixo, eu disse mentalmente para o meu reflexo no retrovisor do carro enquanto dirigia. Recentemente havia cuidado dos cabelos com um profissional – Janis disse que precisava hidratar –, e estava bonito, mas não havia nada que fizesse eu me sentir realmente bem comigo mesmo nesse momento.
Nem parecia eu.
Costumava me sentir sempre o cara mais bonito onde quer que eu fosse, agora até isso era diferente. Talvez porque agora eu estivesse vendo além dos meus atributos físicos e me sentindo tão mal sobre a pessoa que eu sou, que é como se toda a minha feiura tivesse finalmente sido exposta. Eu era horrível.
