05 - Aquele em que Roger roubou o natal, parte I.

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Os dias em geral eram sempre a mesma coisa. Freddie e eu encontramos John e Brian para fazer ensaios de rotina, conversar sobre novas ideias – inclusive, já estamos conversando sobre um novo álbum –, e beber cervejas até o horário de voltar para casa. Não tínhamos muitos shows agendados naquele fim de ano, mas estava tudo bem, as coisas melhorariam.

Eu ligava o radio e lá estava Bohemian Rhapsody. No rádio. Era incrível. E mesmo tendo sido lançada há um tempão, até mesmo Killer Queen voltou para as rádios nesse dezembro. Estávamos confiantes apesar de a situação financeira não ser a melhor. Mesmo depois de ter acostumado, ainda era ótimo ouvir a gente no rádio.

A banda estava ótima. Brigávamos todo dia. Nada de novo. Freddie na maior parte do tempo passava imerso em suas composições, eu sabia que ele viria com algo grandioso para este álbum. Tão grandioso quanto Bo-Rhap. Ele tem ouvido cada vez mais Aretha Franklin...

Eu pensei em uma música sobre cochilos. Eu estava realmente deprimido. A minha música nesse álbum novamente seria uma música triste. Eu estava gostando do que estava criando. Drowse. Ando pensando muito no tempo em que eu era mais jovem e os meus problemas eram facilmente resolvidos com álcool, drogas, sexo e festas regadas de todos os anteriores.

Agora, já não parecia suficiente.

Apesar da minha melancolia e da minha facilidade de desanimar de tudo e querer apenas ficar dormindo, tudo correu bem.

Eu não via tanto Janis quanto eu imaginei que veria morando na mesma casa que ela.

Janis sempre tinha um lugar para ir. Ela trabalhava, é claro. Ela tinha dois empregos. Não só ela fotografava, como trabalhava com ilustração em um estúdio de artes. Ela me mostrou um livro infantil ilustrado por ela. Era absolutamente lindo.

Inclusive, eu comecei a ler O Exorcista, que ela me emprestou. Ela usava um papel com o desenho de um corvo pintado com aquarela como marca-páginas. Ela disse que eu poderia ficar com ele. Eu fiquei desnecessariamente comovido com aquilo e a abracei quando ela disse. De qualquer forma, eu não a vi muitas vezes. Eu também tinha meus afazeres. E eu sairia para alguma festa ou bar toda noite. Para não perder o costume, talvez... não sei, só... eu era convidado! As pessoas gostam de mim nas festas. Todo mundo gosta. As mulheres principalmente. O tempo todo tem gente me pagando bebidas. Eu não estou reclamando, longe de mim.

Eu gastava muito dinheiro com camisinhas. Essas ninguém pagava pra mim. Eu tinha medo; até porque algumas mulheres insistiam muito para não usarmos. Deus me livre engravidar alguém. Vocês não estão vendo, mas eu acabei de me benzer e bater três vezes na mesa de madeira.

Geralmente, eu chegaria em casa perto de amanhecer e ouviria alguma música vindo do quarto da Janis. Freddie, quando em casa, estaria no piano ou com o violão. Eu preferiria tocar nos momentos em que nenhum estivesse. Estava tudo bem. A convivência era tranquila apesar de eu e Freddie brigarmos, às vezes. Parece que a presença de Janis fez Freddie ficar mais... paciente (?) comigo, e eu também.

Bem, não importa. As coisas estavam indo bem e eu continuava me embebedando na maior parte do tempo.

Já havia duas semanas desde a mudança de Janis. Apesar de ela ser gentil, ela realmente não parecia se interessar em passar mais do tempo dela comigo. Damn Janis. Eu também não estava interessado.

Na noite de sábado, dia 20 de dezembro, iríamos tocar em uma casa de shows mais reservada no centro de Londres e haveria uma festa com a galera legal e descolada da música. Estávamos todos empolgados para isto e Janis estaria lá também. Eu descobri que ela era muito engajada com a cena artística de um modo geral, e ela já fotografou metade dos artistas que eu gosto. Inclusive, eu entrei para essa lista.

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