17 - A verdade sufocada

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"Eu me encontro sozinho, sozinho, sozinho. Acima de um mar revolto. Que roubou a única garota que eu amei. E a afogou dentro de mim."

Just like heaven
The Cure

Assim que fechou a porta do consultório atrás de si, Maya levou a mão à boca para controlar o primeiro soluço. Mas não era boa nisso, nasceu com defeito de fábrica, sem o equipamento do autocontrole. Chorou. Ainda não sabia se de felicidade ou desespero. O fato era que não conseguia parar de chorar. Não conseguia nem mesmo se mover do lugar, sentia que afundava em areia movediça.

- Vem comigo, amiga, vamos sair daqui antes que alguém lhe reconheça. – Maya seguiu os comandos de Manuela, mas agia no automático. Era como se o cérebro estivesse desligado.

A viagem de volta a River Oaks não demorava nem mesmo uma hora, mesmo assim, teve a sensação de que se passara uma eternidade. Manuela não disse nada, era a sua maneira de respeitar o tempo da amiga que parecia fazer uma reflexão profunda de sua situação lançando um olhar demorado para o horizonte, absorvendo a tristeza que devorava o seu coração.

Quando a picape estacionou junto ao meio-fio, Maya voltou a chorar. O choro vinha do medo, do medo do desconhecido, do sombrio e obscuro, mas também do medo da perda.

Queria estar feliz e realizada, plena. Mas o que sentia agora era diferente. Esse bebê possivelmente a separaria do homem que ela amava. E se ele a rejeitasse? E se pedisse para que ela tirasse a criança?

Não! Isso nunca!

Não queria deixá-lo. Doía demais, fisicamente até, imaginar a sua vida sem Taylor doía até nos ossos. Mas, se preciso fosse, estava decidida a romper com ele e ter o bebê sozinha.

- Quanto tempo, amiga? – Manuela pôs a mão sobre no ombro de Maya perguntando baixinho, com a voz angustiada.

- Acabo de completar dezessete semanas. – respondeu olhando para o horizonte, para a entrada da fazenda, onde enfrentaria seu destino.

- Você ama esse caubói de verdade, não é?

- Mais que tudo nesse mundo, Manu. – respondeu com sinceridade - E agora carrego um pedaço dele aqui dentro de mim. - levou a mão ao lugar onde o seu filho morava. Ela tinha um pequeno humano dentro de si. Isso era aterrador. Sorriu em meio às lágrimas, achando graça desse pensamento.

- Você acha que ele vai aceitar esse filho?

- Não faço ideia. Só sei que preciso ser forte. Forte pelo meu xucrinho. - voltou a atenção para o seu corpo e uma onda de ternura afastou qualquer temor.

Gerava um bebê, uma criança, fruto do imenso amor que sentia pelo caubói. E lutaria como uma leoa para proteger o seu filhote.

Naquela manhã, Taylor acordou mais mal-humorado que nunca. O comportamento não passou despercebido por Dona Diana que o observava contemplativo, silencioso, introspectivo, o cigarro no canto da boca, andando de um lado para o outro como se tivesse uma difícil decisão a tomar. Ela sabia o que aquela data significava para ele e se preocupava com o seu menino, tão sofrido, tão perdido dentro da própria dor, buscando seu caminho de volta nos braços da filha do homem que era o causador da sua desgraça.

Viu-o pegar a chave da picape e sair pisando duro, apressado. Sabia para onde estava indo. Seu coração de mãe, mesmo que postiça, ficou pequenininho.

Por que ele fazia isso consigo mesmo? Por que fazia questão de reviver essa dor mesmo quando a vida lhe oferecia a possibilidade de ser feliz?

A bem da verdade sabia que Taylor precisava de momentos de solidão para espairecer uma mente que nunca se calava. Diana só queria ter a certeza de que as vozes que ele ouvia lhe guiassem pelo caminho certo.

APENAS UMA NOITE (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora