Capítulo Bônus

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Onze anos antes...

Os cascos do cavalo batiam contra o solo seco e o som reverberava pelo prado no silêncio daquela manhã no descampado.

Era por uma estrada longa, de chão batido, que ele cavalgava. Os cabelos loiros e longos soltos debaixo do chapéu de vaqueiro dançavam soprados pelo vento morno que também agitava a crina do puro sangue. Era o sentimento que ele mais gostava, selvagens e livres, ganhavam o horizonte a caminho do seu destino.

Aos vinte e cinco anos, Taylor tinha a vida toda planejada: se casaria com o amor de sua vida, sua melhor amiga, a mulher que amava desde que era um garotinho, se formaria em veterinária, assumiria a fazenda e os negócios da família.

Nada no mundo poderia irritá-lo.

Isso até Dona Diana alertá-lo: o intruso que andava invadindo o estábulo e libertando os cavalos estava de volta.

Taylor sabia que não podia demorar. Era certo que a noiva se atrasaria para a cerimônia, mas sabia bem que o seu papel de noivo era estar lá, presente, esperando por ela, sorrindo feito um bobo apaixonado.

Mas também não podia permitir que o ladrãozinho se aproveitasse desse momento para levar embora os seus cavalos.

Por isso mesmo, apeou-se da montaria e ficou à espreita, escondido em meio ao monte de feno.

O corpo inteiro enrijeceu quando vislumbrou a sombra do delinquente, e não demorou para que irrompesse por entre o feno, na tentativa de pegá-lo em flagrante.

E foi nesse momento que paralisou feito uma mula empacada.

Por um instante, considerou esfregar os olhos. Era possível que sua imaginação estivesse lhe pregando uma peça daquelas.

Mas a diabinha de olhos verdes sorriu.

A bem da verdade estava confuso. Nunca lhe passou pela cabeça que o temido criminoso seria na realidade uma praga mal saída das fraudas.

― O que pensa que está fazendo, menina?

Tentou não parecer um ogro, um brutamontes xucro, temia assustá-la, ou pior ainda que começasse a chorar feito as menininhas daquela idade.

― Eu vim buscar o meu cavalo. - a voz ressoou decidida e pouco infantil.

Maya adorava cavalos desde que se conhecia por gente, o que não fazia lá muito tempo. A mãe da menina tinha razão, estava no seu DNA. Seria então uma crueldade tentar impedi-la de fazer o que queria.

Mas Maya era muito nova para entender o quanto seu pai podia ser cruel.

― O seu cavalo? Mas do que é que está falando? - Taylor se esforçava para entender a história que lhe parecia absurda.

― Este é o Vendaval. - a garotinha tinha o dedo apontado em direção à última aquisição de Taylor, um mangalarga de pelagem marrom, com uma longa crina na cor branca. - Este cavalo é meu. É meu. - insistia.

Ele não sabia o que dizer. Sempre quis ter um puro-sangue, portanto não questionou quando esse lhe foi oferecido a preço de banana pelo capataz da fazenda vizinha. Jamais poderia desconfiar de que pertencesse a uma garotinha. Quem seria capaz de algo assim?

Taylor podia mentir, inventar uma história, dizer que o cavalo sempre pertenceu a ele, mas por algum motivo que não soube identificar, disse a verdade.

― Menina, sei que ama seu cavalo, mas ele não pertence mais a você. Sou eu o dono dele agora, e lhe prometo que cuidarei bem dele. Acredite passei anos querendo um desses pra mim.

― O senhor consegue tudo que quer? - a pergunta feita de maneira espirituosa o surpreendeu.

― Não, menina. Mas pelo menos eu sei o que quero.

― E o que o senhor quer?

― Que pare de invadir a minha propriedade e volte para casa, seus pais devem estar preocupados.

― Mamãe está no céu e meu pai não me ama, ele vendeu o meu cavalo! - ela parecia bastante magoada e Taylor não sabia bem o que dizer para consolá-la. Por isso, falou a primeira asneira que lhe veio à mente.

― Cavalos podem ser perigosos. - tentou remediar, mas nem ele mesmo acreditou no que dizia. Amava cavalos. Por isso, simpatizou com a menininha. Mas o que ouviu em seguida lhe partiu o coração.

― Eu sinto falta da minha mãe.

Esquecendo-se de que estava vestido para se casar, Taylor agachou-se perante a garotinha, um joelho encostado no chão batido de terra.

― Escute aqui, menina, eu também, como você, perdi minha mãe quando era bem novinho. - respirou fundo antes de continuar, sem saber bem o que falar. - Sabe, somos muito parecidos, você e eu. Eu também adoro montar. - sorriu para ela que o olhava bem dentro dos olhos, quase sem piscar. - Mas tudo tem seu tempo e a sua hora.  Tenho certeza que quando ficar mais velha seu pai permitirá que monte novamente. Você só precisa ter paciência, menina linda.

Aos vinte e cinco anos, Taylor ainda não sabia que às vezes ― poucas, era verdade ― a vida abençoava. Tampouco refletia sobre os momentos que mudavam a vida de um homem. Mas, ali, naquele momento, conhecera a menina que marcaria a sua existência, dividindo-a como um personagem bíblico o mar.

Maya não o respondeu. Parada a sua frente, a menina o tragava para dentro de dois oceanos verdes. O olhar dela pesava mais do que o da maioria das pessoas, apesar de Taylor não entender exatamente o porquê. Afinal, era só uma garotinha.

― O senhor também é muito bonito.

Dito isso, ela lhe deu um beijo estalado na bochecha, as mãozinhas pequenas e gorduchas formaram um arco em torno do pescoço. Depois, virou as costas e saiu correndo. A risada alta, o vestido florido como se fosse de uma princesa de contos de fada, os pés miúdos, o cabelo preto até o meio das costas.

A diabinha atrevida colocou um sorriso no rosto dele.

Aquela ali daria trabalho, e muito, para o boca-aberta que se apaixonasse por ela, ô se daria!

Aquela ali daria trabalho, e muito, para o boca-aberta que se apaixonasse por ela, ô se daria!

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APENAS UMA NOITE (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora