20 - O perdão que cura

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"Veja, querida, eu vi o amor. Olha, ele veio a mim. Ele colocou seu rosto em frente ao meu para que eu pudesse ver. Sim, então eu vi o amor me desfigurar em algo que eu não reconheço."

Song for Zula
Phosphorescent


Taylor guiou a picape pela estradinha de terra, por entre o mato baixo, próximo ao rio que nomeava a sua fazenda. Hope River, o rio da esperança, o sentimento que agora preenchia o coração do caubói apaixonado.

Maya não aceitara voltar com ele. Porém não o questionou quando desviou o caminho, adiando assim a separação. Recebeu o olhar significativo dele, e a cumplicidade os envolveu, atando-os, deixando-os muito perto um do outro.

Eles precisavam conversar. Ela queria também, embora estivesse com o coração carregado de mágoa. As palavras duras ditas pelo fazendeiro soaram como uma sentença de morte, condenando a história de amor que ela imaginava só existir em sua cabeça.

Taylor estacionou sobre a terra morna e úmida próxima à margem do rio. O mormaço de julho irrompia também do solo e só seria aplacado pela chuva que desceria mais tarde, quando por alguns minutos o dia se encontrava com a noite num beijo rápido de despedida.

O fazendeiro desceu da picape, o coração batia forte, tão forte, que o sentia na garganta. Tirou o chapéu e deslizou a mão pelo cabelo claro. Poucas vezes se viu tão nervoso, e sem saber como agir. Mas precisava controlar o gênio forte, o jeito xucro, e principalmente a vontade de abraçá-la, carregá-la de uma vez para dentro do seu mundo. Queria fazer a coisa do jeito certo. A impulsividade já lhe havia custado caro demais.

Deu a volta e abriu a porta do carona, oferecendo a mão para que ela o acompanhasse. Maya olhou no fundo dos olhos dele, dois pedaços do céu a iluminavam de azul, o mais belo e perfeito azul.

Estacou como se estivesse diante de um penhasco. Precisou de alguns minutos para tornar a respirar, o oxigênio no cérebro parecia tóxico e corrosivo, dificultando o raciocínio.

Ele parou diante dela e nada falou. Porém, tudo nele parecia gritar. Cada músculo que marcava a pele dos maxilares, a profundidade das olheiras e os sulcos fundos ao lado dos olhos e na testa. A camisa para fora do jeans, amarrotada. Os cílios longos, úmidos. Gritava a fortaleza combalida, o gigante posto de joelhos.

Maya aceitou a mão e sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Emocionada por vê-lo ansioso para saber se ainda era importante para ela, se ainda era aceito por ela. Deus, o caubói não fazia a mínima ideia do que representava em sua vida.

Ele se aproximou a ponto de quase se tocarem, e ela teve que olhar pra cima a fim de encará-lo.

Taylor suspirou, profundamente, olhando-a sem pressa. Não era só o corpo feito para ser amado que ela tinha, mas também o fato de estar sem maquiagem e de ter os cabelos, mesmo que desalinhados, caídos sobre os ombros.

Naquele momento não tinha como falar sem demonstrar os seus sentimentos por ela.

Maya não sustentou o olhar por muito tempo. Sentia-se febril, com vontade de chorar, de correr até cair e esfolar os joelhos, a dor física era melhor que a emocional. Mas também queria se jogar nos braços do fazendeiro e beijá-lo, se fundir nele para se tornarem um só.

Por isso, se contentou em admirar a natureza viva, parecendo pulsar do solo, as árvores antigas, o mato alto, os pássaros exóticos. E quando olhou para o rio, era como se buscasse, nas águas calmas, curar os ferimentos de sua alma.

- Vir aqui sempre me acalma. - ele enganchou os polegares no cós do jeans e afastou ligeiramente as pernas ao encostar-se na lataria da picape, o tom da voz permaneceu firme e sereno. - Você conhece a história dessas águas, menina?

APENAS UMA NOITE (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora