14 - O meu lugar no mundo

23.3K 1.8K 678
                                    

"Eu estou à beira do precipício, assista enquanto mergulho. Eu nunca vou tocar o chão. Caio através da água, onde eles não podem nos machucar. Estamos longe da superfície agora".

Shallow - Lady Gaga

O caminho de volta à fazenda foi silencioso. Já era tarde da noite quando retornaram e o cansaço finalmente venceu a adrenalina. Assim que atravessaram o portão, Maya abriu a janela da picape e aspirou o cheiro fresco da terra úmida. Suspirou, envolvida pelo sentimento de paz e pertencimento. Aquele era o seu lugar no mundo.

Foi surpreendida quando a mão masculina, os dedos longos e grossos que antes apertavam o volante, agora repousavam sobre a sua perna. Ela aceitou o gesto, prendendo seus dedos nos dele. Por um momento, esqueceram-se de que não estavam sozinhos, sentindo apenas a presença um do outro, com uma breve e intensa troca de olhar.

O momento foi interrompido quando o xerife pigarreou sem ser capaz de segurar o riso de troça. Ignorou o olhar de reprovação lançado pelo retrovisor. Era divertido demais ver o irmão se derretendo todo por conta de uma menina mal saída das fraldas. No fundo, desde que a vira enrolada nos lençóis da cama do fazendeiro, Zac sabia que o caubói seria laçado. Sentiu-se secretamente aliviado. O homem que ele mais admirava na vida merecia ser feliz. Mesmo que fosse com a menina mais doida que ele já conhecera.

Percebeu quando Taylor recolheu a mão e se fechou novamente, retraindo-se como um bicho enjaulado. Agora o olhar de reprovação partia da nova cunhada, que não fazia questão nenhuma de disfarçar o descontentamento com a sua presença.

- Eu acho melhor pegar a minha mulher e dar o fora daqui. – disse assim que desceram da picape.

- Está tarde. Aline está dormindo no seu antigo quarto, não há necessidade de acordá-la. Fiquem aqui esta noite. – Zac concordou prontamente. Estava cansado e só o que queria era o aconchego do corpo de sua mulher.

- Vocês também deviam descansar. O dia foi intenso... – sorriu para os dois como se trocasse uma confidência e, antes de se retirar, apoiou-se no ombro do irmão, dizendo baixinho: – O tiro te pegou de surpresa com as calças na mão, não é mesmo?

Taylor não respondeu. Apenas olhou no fundo dos olhos do xerife, o peso das palavras esmagando o peito.

Zac seguiu para o quarto, deixando-os sozinhos, mas Taylor não conseguiu olhar para Maya. Tinha o olhar vidrado em direção à estante. Em direção ao maldito porta-retratos.

O coração da menina diminuiu dentro do peito. Não queria perdê-lo para as lembranças. Não naquela noite. Aproximou-se dele bem devagar, com medo de assustá-lo.

- Quero cuidar de você. - pediu, colocando o seu amor na frase que saiu como uma súplica.

Ele olhou para ela. O rosto endureceu, os ossos dos maxilares se projetaram debaixo da pele, uma veia grossa despontou na garganta quando engoliu em seco. Por um momento, nada falou, apesar dos olhos parecerem falar por ele, brilhando tanto, expulsando um sem-número de sentimentos, todos intensos, que ela não conseguia interpretar.

Esticou a mão e o tocou delicadamente na face, sentindo a aspereza da barba, e ansiou por senti-lo mais. Todo. Inteiro. Porém, ele afastou a cabeça, esquivou-se do gesto. E, numa voz muita baixa, ordenou:

- Vá para o seu quarto.

Ela não queria lhe obedecer. Não naquele momento quando estava tão perto, tão perto de compreendê-lo, de vê-lo de alma nua, de tocar nas suas feridas que nunca cicatrizavam. Tentou tocar-lhe novamente, mas ele se afastou e repetiu pausadamente:

APENAS UMA NOITE (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora