Isabelle olha para si mesma novamente depois de nove anos. É o que ela sente após o fim do namoro. Aliás, uma das coisas que ela sente, porque são muitas perguntas em sua cabeça agora.
Porque ele não me disse que faria um intercâmbio?
Ele não confiava em mim? Não queria minha opinião? Não me amava mais?
Desde quando ele não me amava?
Ele já me amou?
O amor importa tanto assim?
O que importa?
Quem se importa comigo?
Quem sou eu... sem ele?
Sou a mesma adolescente prepotente e inocente de nove anos atrás?
Não é isto que o espelho me diz, mas é isto que eu sinto.
Sinto que sou a mesma adolescente, porém com nove anos jogados no lixo.
Olhando para o horizonte ao lado de suas amigas ela sentiu um cheiro de fumaça. Algo queimando bem longe dali. Aquele cheiro que ardeu seu nariz lhe fez lembrar a casa de sua avó, onde brincava com suas primas na infância. Era comum alguém colocar fogo em terrenos baldios e aquele odor lhe trouxe a Isabelle de onze anos. Aquela criança que sonhava com o dia em que seria livre. O dia que poderia guiar seus próprios passos. Comer o que quisesse, passear, viajar e ir onde ela quiser ao invés de onde os pais queriam. Independência para escolher seu destino.
Aos vinte e cinco ela tinha um lar e um trabalho. Agora ela podia ir onde quiser, comer o quiser, dançar o que quiser e com quem quiser, sem ter que dar satisfação a ninguém. Com um esforço, seu próximo horizonte a contemplar poderia ser qualquer horizonte no mundo.
Seu celular vibra. Uma mensagem. "André diz: vc tá bem? posso falar contigo?"
É ele. Ele ainda se importa comigo? devo falar com ele?
Ela questiona suas amigas já com os olhos em lágrimas.
Não foi hoje, mas é questão de tempo.
Lá no fundo ela já sabe que não precisa de mais ninguém para ser a Isabelle que sempre quis ser.
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Contos de Elle Amy
General FictionUma foto, uma ilustração e um texto. Explorações de narrativas focadas em personagens do cotidiano.