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Em silêncio Luciana cria coragem, se levanta, tira a poeira da roupa e parte.
Chega em casa, pega uma cerveja na geladeira e senta na varanda. Em silêncio.
Milhares de janelas na sua frente, uma cerveja na mão e algumas lágrimas já se permitem escorrer pelo rosto maquiado.
Enquanto um turbilhão de pensamentos engarrafava sua cabeça, ali do lado de fora é só silêncio.
Luciana sente-se traída pela vida que lhe exigiu criar uma rotina, disse que devia fazer planos e que tudo daria certo. De repente...
Pela varanda ela olha pra fora, mas sabe que inevitavelmente terá que olhar pra dentro. Para isso precisa de ainda mais coragem, ainda mais silêncio.
É preciso um silêncio profundo para conseguir olhar no sofá e ver as migalhas de biscoito. Olhar na pia e ver aquela caneca preta ainda suja. Ver o controle da TV onde ele teimava em deixar. O banheiro com o sabonete pela metade. Entrar no quarto era impensável, ele sempre deixava o tênis de corrida jogado ao lado da cama. A geladeira.. como ela conseguiu pegar a cerveja sem ver as panelas com o resto do almoço?
A paisagem da cidade agora é só uma mancha cinza diante tantas lágrimas.
Lágrimas e silêncio.
Ali no chão da varanda, ao seu lado ela vê um par de chinelos. Não dá mais.
Luciana grita. Chora alto e chama por ele.
Sua dor ecoa pela cidade e volta o silêncio, ainda mais profundo.
O interfone toca e uma efêmera esperança aquece seu peito para congelá-lo novamente em seguida.
Não é, ele tinha a chave. Ele tinha a vida e agora não mais.