1: Escrevemos pecados, não tragédias

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A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.

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23 de fevereiro: dois meses antes do falecimento de Chae Hyungwon.

— Ei, Hyungwon — Minhyuk chamou o mais alto com um grande sorriso nos lábios — você vem ou vai ficar aí parado olhando pro nada?

A pergunta de Minhyuk certamente tirou Hyungwon de seus devaneios, pois ele acordou de seu transe em um pulo. Antes de nos acompanhar, Hyungwon olhou para trás mais duas vezes, até que pôs as mãos nos bolsos e sorriu para mim.

— Estou indo — o Chae disse e caminhou até onde eu estava, enroscando seu braço no meu após estar próximo o suficiente — estou com fome, Hoseok — ele fez um bico com os lábios. Se havia algo que Chae Hyungwon conseguia, era me manipular com sua fofura.

— Eu vi uma barraca de cachorro-quente ali atrás. Vamos lá? — indaguei. Não tardou mais que um segundo para Hyungwon assentir e me puxar para frente, mesmo que ele não houvesse prestado atenção o suficiente para nos guiar até a barraca.

Hyungwon andava aéreo no último mês. Esqueceu-se de um encontro que marcamos sábado passado, mas desculpou-se fazendo um bolo de chocolate para mim. Será que ele está estudando muito e os livros acabaram pipocando o cérebro do meu namorado?

— Hoseok? — Hyungwon estalou os dedos na frente de meus olhos algumas vezes, me acordando — eu estava te chamando há milênios, em que tanto pensava? — bufou — quer molho de que?

— M-Molho vermelho.

Hyungwon transmitiu o que eu disse para o dono da barraca, o qual sorriu para nós e iniciou a preparação dos pedidos.

— Você estava fora de órbita — Hyungwon disse ao cruzar os braços — aconteceu algo?

— Eu estava pensando — molhei os lábios e me aproximei um pouco mais do corpo do Chae. Por ele ser um pouco mais alto, tive que levantar um pouco o rosto — você não está estudando demais?

— Não, Hoseok — ele riu — por que?

— É que você estava olhando pro nada lá atrás, então pensei que estivesse ficando louco — Hyungwon riu outra vez e bagunçou meus fios.

— Eu estou bem, Hoseok. Não precisa se preocupar, eu não vou me forçar muito — assenti e dei-o um beijinho carinhoso no queixo.

Aquilo me deixou mais tranquilo. Hyungwon é sempre pressionado pela família para ter notas e histórico excepcionais e no futuro ajudar o irmão, Chungho, a administrar a empresa. Isso me preocupa, ele não merece receber tais cobranças tão novo. Quando eu morava em Haeundae, meu pai costumava dizer que eu devia aproveitar minha juventude e não passá-la sentado em uma cadeira estudando até minha bunda ficar quadrada. Bom, mas isso não se aplicava a Hyungwon. Odeio admitir, mas somos de mundos completamente diferentes.

Passamos mais vinte minutos andando pelo parque e conversando, como havíamos planejado fazer. Foi divertido ver o chilique de Minhyuk para não entrar nos brinquedos com a gente, mas no final ele acabou gostando — e com as pernas bambas, o que resultou em Hyunwoo, o namorado do loiro, o carregando nas costas.

— Me deixa em casa? — Hyungwon indagou quando estávamos andando atrás de Minhyuk e Hyunwoo até a saída.

Entrelacei nossos dedos e ergui a mão do Chae até próximo de minha boca, deixando um singelo pressionar nas costas de sua destra. Com esse ato, Hyungwon sorriu acanhado e com as bochechas rubras, me fazendo apaixonar ainda mais por ele.

— Nem precisa pedir, amor — respondi-o. Com a canhota, Hyungwon cobriu o rosto, estava envergonhado, e ficava uma gracinha assim.

[...]

— De que você tem medo, Hoseok? — Hyungwon questionou, andando por cima da mureta que protegia a árvore. Ao vê-lo perder equilíbrio, retirei a destra do bolso da calça para segurar sua canhota e evitá-lo de cair.

— Muitas coisas — falei sincero. Ele murmurou um "hum", não muito impressionado com minha resposta — medo de balões, cobras e altura.

— Mas isso eu já sei — Hyungwon rolou os olhos e parou de andar. Soltou sua mão da minha e desceu da mureta, me encarando — você não tem medo de mais nada? Nada novo?

Coloquei minhas mãos em seus ombros, o pegando de surpresa. Dei um sorriso sem mostrar os dentes e beijei o topo de sua cabeça, com certo esforço, pois tive que erguer um pouco os pés.

— Tenho medo de ficar sem você um dia, Wonie — sussurrei. Como se aquelas palavras fossem negativas, Hyungwon entrou em choque: seus olhos marejaram e sua boca carnuda tremelicou até que ele me abraçou subitamente. Não entendendo aquela reação, apertei-o em meus braços, recebendo o aperto dele de volta, fazendo com que eu risse.

Ficamos assim por um bom tempo, até que Hyungwon finalmente se desvencilhou para dizer, ainda com os olhos cheios de água:

— Vou te contar um segredo, Hoseok — ele disse — eu nunca vou te deixar — sua mão pairou sobre meu peitoral, mais precisamente, sobre meu coração — estarei sempre aqui — e sorriu.

Beijei sua testa e devolvi o sorriso.

— Entre, está ficando frio, Wonie — pedi com carinho. Já estávamos próximos da mansão dos Chae e sempre que eu deixava Hyungwon em casa, era uma quadra abaixo, pois sua família nunca gostou de mim. Eu o esperava entrar para que eu pudesse ir para casa e ter certeza de que ele estava seguro.

— Não se esqueça de ler — do bolso do sobretudo, Hyungwon tirou uma carta com papel azul. Peguei-a e assenti. Leria com todo prazer — boa noite, Hoseok — Hyungwon pregou seus lábios aos meus por um minuto todo, como se não quisesse ir. Quando eu ia perguntar se havia algo errado, Hyungwon apressou-se para correr até em casa.

E, como sempre fazemos, acenei para Hyungwon assim que o segurança abriu o portão para ele. Porém, dessa vez foi diferente: vi Hyungwon sibilar um "eu te amo", fazendo com que um sorriso bobo aparecesse em meus lábios e eu o mandasse um beijinho seguido de um "eu te amo também".

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bem-vindos à Quem matou o número quatro!
espero que gostem da história 💘

QUEM MATOU O NÚMERO QUATRO? 「 2Won 」Onde histórias criam vida. Descubra agora