Incontri

01

Exatamente as 6:00h fui acordada pelo despertador e imediatamente meu coração adquiriu um ritmo intenso de batidas quando associei que aquele dia tinha se iniciado. Me pus de pé tentando ignorar a ansiedade e fui apressadamente para o banheiro, já que queria aproveitar os prováveis poucos minutos de água quente daquele lugar. Liguei a torneira e um som metálico irritante preencheu o ambiente, logo, a água começou a escorrer para a banheira e aguardei envolta a minha coberta enquanto ela era preenchida pelo líquido morno.

Por ser começo do outono, Bergamo não possuía dias tão frios nessa época do ano, porém eles eram bastantes chuvosos, dessa forma a umidade acabava dando uma sensação de temperatura mais baixa.

A água quente foi o que me motivou a levantar tão cedo, já que minha aula só se iniciaria às 8:30h e minha nova escola não ficava tão longe assim de casa.
Minha nova escola... Esse era o motivo do meu nervosismo, não sou uma pessoa que lida bem com mudanças. Por ser tímida e ansiosa, mudanças como essa me desencadeavam diversos sentimentos, porém minha mãe achava que estava fazendo o melhor por mim, mesmo essa nova escola sendo particular e trazendo mais gastos para ela e meu pai, esses que não tinham tanto dinheiro para esbanjar dessa forma, mas como ela conseguiu um emprego com um salário melhor, constatou que daria para arcar com as despesas.

Eu havia iniciado o ensino médio no Liceo classico statale Paolo Sarpi, uma ótima escola pública próxima a minha casa, eu não levava mais que cinco minutos no trajeto a pé. Mas a minha mãe defendia um discurso que se visarmos meu futuro, o Liceo classico do Licei Opera Sant'Alessandro, era sem dúvidas o melhor para mim. E bem, devo admitir que após analisar a grade curricular e os projetos de extensão a Licei Opera Sant'Alessandro iria de fato me preparar melhor para minha futura formação.

Ao me dar conta de que não havia levado a toalha, fiz o trajeto de volta ao meu quarto lamentando meu erro. Assim que retornei ao único banheiro do pequeno apartamento onde eu e meus pais morávamos, não tardei em me despir e iniciar meu banho com aqueles prováveis últimos litros de água quente. O banho foi rápido, mesmo a água estando convidativa a mais alguns minutos. Logo após escovei os dentes e fui para o quarto vestir a roupa que havia escolhido na noite anterior, que se resumia em uma calça jeans preta, uma blusa de mangas compridas azul escuro, uns dois números maior do que eu realmente deveria usar e meu par de all star da mesma cor, nada de especial para ser sincera, havia escolhido roupas já habituais para não me sentir ainda mais estranha do que já estava, ao menos em algum aspecto eu devia estar confortável.
Enquanto vestia minhas roupas, ouvi um barulho vindo da cozinha e presumi ser minha mãe fazendo o café da manhã. Depois de pronta fui até o cômodo de onde o som saía e a encontrei arrumando a mesa com brioches e algumas frutas, olhei para o relógio antigo que se encontrava pendurado em uma das paredes do ambiente e o vi marcar 7:15h da manhã. Após constatar que ainda teria 45min até sairmos de casa, desejei um bom dia a minha mãe e sentei desanimadamente no lugar da mesa que fica de frente a parede que possuía alguns quadros antigos pendurados, como era do meu costume.

O compasso apressado do meu coração a essa altura já havia acalmado um pouco, porém minhas mãos estavam suando de forma tão intensa que precisava em poucos instantes secar no tecido da calça, sem contar a inquietação do meu corpo, tanto no movimento insistente da minha perna, quanto na necessidade jogar meu cabelo sob algum dos meus ombros a cada 30 segundos.

-Bom dia filha! - Minha mãe respondeu - Tão cedo e já está pronta? Isso tudo é empolgação?- Perguntou com uma falsa animação ao tentar inserir um assunto.

Me mantive em silêncio e apenas a fitei com as sobrancelhas arqueadas, em uma pergunta silenciosa se ela acreditava no que ela havia acabado de falar.

-A senhora sabe que é por causa da água quente- Respondi após alguns segundos de silêncio, passando mais um vez minhas mãos pela roupa para secar o suor já acumulado.

- Eu poderia dizer que você deveria estar animada, já que essa é uma das melhores escolas de Bergamo, mas nós teríamos a mesma discussão que sempre temos. - Minha mãe respondeu, o que de fato iria acontecer caso essa conversa continuasse nesse rumo- Mas o que vou te dizer é que não precisa ter medo, as coisas vão sim mudar, mas não precisa de pânico, elas podem mudar para melhor, ok? Quando você menos esperar já vai estar habituada com a nova rotina e os novos amigos - Concluiu ela, enquanto passava a mão na minha cabeça em forma de carinho.

Eu não ousei responder, sabia que ela poderia ter razão, porém o acelerar do meu coração não era uma coisa da qual eu tinha controle, pelo menos não diretamente.

Permaneci em até que o café ficasse pronto, o que não demorou muitos minutos e assim pude me alimentar. Quando conclui minha refeição percebi que já eram 7:30 min, o que queria dizer que dali a 15 min nós entraríamos no carro e minha mãe me deixaria de frente a escola. Respirei fundo e decidi que para não acabar surtando nesses últimos minutos eu continuaria a leitura do livro que iniciei no sábado e que por acaso estava amando. Após algumas páginas lidas ouvi a voz da minha mãe me chamar, peguei meu exemplar e o deixei sobre o pequeno aparador ao lado do sofá, então fechei os olhos e respirei fundo três vezes para então me pôr de pé alcançando minha mochila e fui de encontro a minha mulher que me esperava na cozinha.

Nosso prédio possuía uma arquitetura medieval com um pequeno pátio interno, no qual os apartamentos se dispunham ao seu redor, logicamente suas saídas eram voltadas para ele, e por nosso apartamento ser localizado na única fachada voltada para a rua, a saída era pela cozinha.
Assim que nos retiramos do ambiente, minha mãe trancou a porta, já que meu pai antes mesmo de eu ter acordado já havia ido para o trabalho.