Bad days

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Rosé foi ao funeral naquela semana, eu fui também, mas não consegui sair do carro, então observei de longe. A mãe de Nick, pensei, estava ao lado dela, e a mulher chorava o tempo todo e acariciava o braço de Rosé, como se a melhor amiga de Nick é quem precisasse de apoio.

Rosé parecia doente, pálida e abatida. Nós não conversamos sobre aquela noite, e eu não queria. Eu não ia fingir que não aconteceu, claro, mas não acho que ia suportar falar sobre aquilo, sem me sentir como naquela noite de novo, e eu provavelmente não seria capaz de me conter. Nós mal nos olhamos, bem, ela está sempre me observando, enquanto eu evito seus olhos. Ela dirige em silêncio até minha casa e eu salto do carro.

-Lisa. -Ela chama e eu me viro, pela primeira vez no dia olhando em seus olhos. Eu não sei dizer como me sinto, estou confusa, magoada e me sentindo culpada. -Eu amo você.

Eu suspiro, e aceno com a cabeça, pois é o máximo que consigo fazer. Ela sorri tristemente e liga o carro, logo se afastando. Eu fico ali por alguns segundos.

Não sabia o que fazer, ou como me sentir, eu ainda estava em estado de choque. Parte de mim sabia que não era minha culpa, mas a outra parte, a que gritava mais alto, me acusava por estar na vida de Rosé, por tê-la afastado de seu amigo. Talvez nada disso tivesse acontecido. Talvez uma vida tivesse sido poupada.

O que vai ser de nós a partir de agora? Esse peso invisível parece estar em cima de nós duas, a culpa era enorme e eu mal conseguia olhar nos olhos dela. Eu devia terminar com ela, ou apenas dar um tempo. Eu preciso de um tempo, tempo pra assimilar isso, tempo pra me convencer que foi um acidente. Rosé provavelmente também precisava desse tempo. Mas eu era egoísta, eu não podia perder ela, eu sabia disso. Mas eu estava tão confusa, culpada e com raiva. Aquela noite nunca saiu da minha cabeça, e a cena vivia se repetindo na minha mente, as vezes quando eu dormia. Ainda lembro da agonia de não conseguir respirar, minha tentativa inútil de me livrar das mãos dele... Meus pelos se arrepiam só de lembrar.

E pensar que ele se enforcou horas depois. As lágrimas rolam pelo meu rosto, eu as seco depressa, esperando que ninguém as tenha visto. Eu me viro, e subo as escadas, percebendo que fiquei parada encarando a rua por onde Rosé saiu à segundos, talvez minutos atrás.

[...]

-Como vocês estão depois de tudo isso? -Jennie pergunta.

Ela chegou uma hora depois que Rosé me deixou em casa, ela estava comendo batatas de um saco grande, sentada de pernas cruzadas na minha cama.

-Eu não sei. -Murmuro. Eu não queria fala sobre o assunto, eu só queria fingir que nada aconteceu, voltar ao normal.

-Jisoo e eu brigamos ontem.

-Por que? -Eu deixei de lado minhas roupas lavadas e me virei pra ela.

-Ah, você sabe, Rosé é prima dela, você é minha melhor amiga...

-Não, não briguem por isso, no fim das contas é inútil. -Digo e volto minha atenção para a pilha de roupas que preciso guardar.

-É, eu percebi. Mas vou dar um gelo nela por algumas horas.

Eu sorri, no fundo sabendo que ela não irá aguentar tantas horas sem falar com Jisoo.

-Eu vou me mudar mês que vem, fazer aquele curso. -Ela disse, cautelosa.

Franzo o cenho para seu tom, mas percebo que ela só está pensando em mim. Em me deixar depois do que houve.

-Estou feliz por você, você vai ser incrível.

Pictures of youOnde histórias criam vida. Descubra agora