Capítulo Sete

675 102 27
                                    

   Jeno como de costume estava inteiramente sujo. Seu corpo doía de tanto correr e depois de alguns minutos finalmente pode chegar na sua casa.

   Desde pequeno morara naquele prédio, sujo, mal cuidado e caindo aos pedaços. A parte de alta renda da cidade sempre morou em casas grandes, mas os pobres ficavam com a área afastada, cheia de prédios cheirando a mofo e com risco de desabamento.

   O garoto subiu até o nono andar pela escada — afinal, não tinham elevador — e depois da longa subida, se encostou na parede. Jeno morava no 915, mas antes tinha de passar pelo 906, 910 e o 912. Jeno era quem conseguia comida para eles e dessa vez teria de avisar que os policiais que ainda não haviam adoecido pegaram tudo que lhe havia sobrado.

   A primeira porta em que bateu era a da dona Lee. Ela e seu filho tinham vindo do Canadá faziam quatro anos, foram deportados para a Coreia depois que o marido de dona Lee a largou e acabaram nesse buraco. Jeno e o filho da dona Lee trabalhavam juntos carregando mercadorias pesadas para vendedores locais, se respeitavam, e por não terem figura paterna, cuidavam da própria família. Tinham tudo para serem melhores amigos, mas não tinham tempo para brincar ou trocar ideias.

   O garoto cansado bateu na porta e assim que a mesma se abriu, se deparou com o filho de dona Lee.

— Os policiais pegaram a comida, eu sinto muito. — Jeno carregava uma expressão triste em face. Estava prestes a se curvar em um pedido de desculpa quando o canadense o impediu segurando seu ombro.

   Por um momento os dois se encararam, ambos podiam sentir a dor alheia.

— Até amanhã, Jeno. — O moreno largou o ombro alheio antes de fechar a porta.

O garoto continuou andando até chegar no 910, lá morava o senhor Han, mas mesmo batendo varias e varias vezes, não foi atendido. Tentou abrir mas a porta estava trancada, por isso achou melhor voltar mais tarde, teria mais tempo para destrancar a porta e verificar se estava tudo bem, Han poderia estar dormindo.

O moreno continuou até chegar no 912, esse estava com a porta aberta.

— Senhor Kim? O senhor está aí..? — O moreno abriu levemente a porta.

Visto que o homem não lhe respondia e a porta já estava aberta, Jeno entrou. Os apartamentos eram pequenos, por isso não demorou a achar o homem. E lá estava ele, no meio da sala com seu corpo ensanguentado e uma pistola na mão.

— Jeno.. me desculpe, mas eu tenho que comer... — O homem já não enxergava, sangue escorria de onde deveriam estar seus olhos, fora todo o sangus que caía de suas orelhas, nariz e boca.

O homem tentou disparar mas o pente com as balas estava sobre a mesa.

— Que desastrado eu.. — Ele riu antes de largar a arma no chão e tentar se guiar até Jeno.

O moreno não sabia o que fazer, mas tinha que pegar aquela arma, como protegeria sua mãe e irmã sem ela? Correu em direção ao velho sentindo mesmo que o medo o consumisse, pegou a arma e o pente sobre a mesa e se apoiou na parede vendo que estava encurralado.

— Isso não é justo, Jeno, eu já não te enxergo. — Disse risonho, a beira da loucura total. Jeno carregou a arma com o seu pente.

O homem se aproximava cada vez mais, e quando estava bem na frente do moreno, o mais novo não teve coragem de atirar. Empurrou o velho, fechando a porta atrás de si e indo rumo ao 915.

   Correu segurando a arma, tremendo em puro medo. Abriu a porta com o número 915 estampado na madeira podre e de cara se sentiu mais calmo ao ouvir a voz da mãe.

— Filho, é você? — Ele pode ouvir vindo de um dos quartos.

— Sim, eu cheguei, mas não consegui trazer comida. — Suspirou caminhando até a sala. — O senhor Kim enlouqueceu mãe, peguei a arma dele, temos que ir embora daqui agora, acho que a doença está piorando para todo mundo.

— Ah filho, não se preocupe, eu consegui pegar um daqueles guaxinins, da para comer, eu já matei. — A mulher disse com a sua voz carinhosa e inocente de sempre.

— Não temos tempo para isso, mãe, onde está Solji? — Perguntou pela irmã mais nova, a doce e amada Solji, talvez estivesse dormindo. Viu a porta do quarto da mãe entre aberta e se preparou para abri-la.

— Solji estava gritando, mas depois que eu matei o guaxinim ela parou. — A mulher disse baixinho antes de ouvir o som da porta se abrindo.

   Assim que Jeno abriu a porta, sentiu o coração parar por completo.

— Venha aqui filho, quero lhe dar um abraço. — A mulher se levantou e não tinha nenhum guaxinim morto, a única coisa morta ali era o corpo de Solji no chão, os olhos abertos e sem vida, enquanto que todo o resto estava mordido e ensanguentado. — Depois me ajude a cozinhar o guaxinim? Ele é bem grande.

   Jeno gritou sentindo as lágrimas caírem pelo seu rosto, caiu no chão e se arrastou até a parede para ficar o mais longe da mãe possível.

— O que foi..? É outro guaxinim? A mamãe mata, amor. — A mulher estava louca, completamente louca. — Pare de gritar Jeno, não gosto disso, você sabe. Não se preocupe eu mato o guaxinim.

   Quando a mulher tocou em seus ombros, Jeno apontou a arma para o meio da testa de sua mãe e apertou o gatinho, sentindo o corpo alheio cair sobre o seu.

{...}

   Zumbi acordou no desespero, seu coração pulava e sua respiração estava completamente descompensada, mais uma vez estava sonhando com o trágico dia. Estava perdido relembrando todas as emoções vividas dois anos atrás quando finalmente notou. Em volta de seu corpo tinham dois braços fracos e quentes que lhe apertavam provavelmente tentando amenizar o frio que sentiam.

Noite passada quando chegaram na solitária, só tinha um colchão e de cara ele e o ruivo foram dormir, um de costas pro outro, mas provavelmente pelo frio o garoto havia se agarrado a Jeno, justamente a procura de um pouco de calor.

— Oe, Ruivo. — Zumbi suspirou antes de empurrar o garoto para longe de seu corpo. — Acorda.

   Aquele garoto não parecia nada útil levando em conta que Jeno preferia ficar sozinho, mas dormindo ele seria claramente pior. Zumbi segurou nos ombros do menor a fim de o acordar, quem sabe balançando seu corpo ou algo do gênero, mas foi aí que notou a temperatura do garoto.

   O ruivo fervia em febre.

— Não, você só pode estar de sacanagem. — O garoto não fazia ideia de qual era o motivo da febre, mas assim que abaixou um pouco a mão sobre o ombro alheio, pode sentir um tecido à mais. Levantou a manga da blusa alheia e lá estava o curativo mal feito.

   O ruivo estava com uma infecção.

   Jeno desviou o olhar tocando na cicatriz em seu braço. Por um instante pode sentir de novo a dor que a morte lhe causava enquanto nadava por suas veias. Sentiu a dor de não conseguir andar, a dor de perder todas as suas forças e o frio da febre descomunal.

   Vendo Jaemin, ele lembrou de toda a dor de ser mordido por um adulto asqueroso, lembrou de ser tratado pelos minions loucos de Hansol e lembrou de todas as torturas sem motivo vividas naquela terra sem leis.

   E naquele momento, ele prometeu a si mesmo que não deixaria que o ruivo morresse em Wonderland.

[🎐⛩]

Demorei mas cheguei.
Cara, enemy chegou a mil visualizações e eu juro que eu surtei, amo vocês, obrigada!
Esse cap foi voltado para o Jeno, e mesmo que eu não tenha curtido a parte final dele, eu realmente espero que vocês tenham, eu as vezes fico meio sem criatividade e não sei como continuar.
Bem, se vocês tiverem sugestões, críticas ou ideias para contribuir com a fic eu vou amar ler.
Bjs, moon.

Enemy | + Nomin (História sendo reescrita na @poemshy)Onde histórias criam vida. Descubra agora